Para clientes de churrascarias cinco estrelas, carne podre é 'balela'
À saída de uma churrascaria na região dos Jardins, em São Paulo, na última terça-feira (21), o superintendente executivo da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados, Oscar Attisano, diz que não teve medo de ingerir carne podre "porque tudo isso é uma balela". Ele acredita que, ao desencadear a Operação Carne Fraca, que afastou 33 servidores do Ministério da Agricultura, a Polícia Federal fez um alarde que não correspondia aos fatos. "Das 2.800 empresas auditadas, só 3 apresentaram problemas", acredita. O blog visitou cinco churrascarias famosas da cidade, para saber se seus frequentadores estavam acompanhando o noticiário. Com a credencial de "representante de uma entidade setorial", Attisano garante que o segmento de frigorífico vai bem: "É moderno, eficiente, lucrativo." E como então surgiu a "balela"? "Na família tem gente que não presta, na igreja tem gente que não presta, na política tem gente que não presta."
***
Podres poderes
Em relação a esses últimos, ele mistura a carne podre com a "corrupção no governo de esquerda". Pelo que se divulgou, de fato a podridão estaria na relação promíscua entre políticos, fiscais e empresários do setor. Mas não só no governo de esquerda. No atual também, com envolvimento de ministro. "O [presidente Michel] Temer não pode derrubar o Renan, o César Maia (sic) e todos os outros porque senão derrubam ele." No entender do superintendente executivo da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados, o presidente "tem de ir convivendo com os malandros". "Aos poucos tudo volta ao seu lugar."
**
"Fazenda própria"
Duas quadras abaixo, ao deixar outra churrascaria, o diretor comercial carioca Rodrigo Guedes diz que a fraldinha estava deliciosa: "Eles têm fazenda própria", garante. Guedes não soube informar se eles também têm fiscais próprios.
**
Pós-verdade
Em uma steakhouse no centro, um grupo de universitários conversa alegremente, alheio à "carne fraca". Luiz Gabriel Begattini Gaspari, que está com a namorada, Flavia Curci, parece apaziguar seu estômago com a informação de que não come carne de porco e que vai pedir a batata estilo "baked" sem bacon. Por sua vez, Flávia acha que "nem todas as carnes vêm do mesmo lugar". "Tem muita informação na mídia. Precisa ver o que é verdade, o que não." Enquanto isso, ela pede uma costela de porco. A duas mesas deles, o gerente de compras Thiago Jordão diz que não parou "para pensar a fundo no assunto" (da carne).
**
O que não mata…
Em uma das mais tradicionais churrascarias de São Paulo, mal dá tempo de falar com um senhor que entrega seu Porsche branco ao rapaz do valet – antes disso, o gerente aparece na porta e prontamente se apresenta. "Nossas carnes vêm do Uruguai e da Argentina", diz . Ao lado dele, uma destemida senhora diz que não corre risco de intoxicação porque é frequentadora antiga do local. Isso poderia gerar uma preocupação até maior, mas, ao contrário, ela encara como um sintoma de imunidade ao papelão: "O que não mata, fortalece."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.