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Paulo Sampaio

Preparadora de miss afirma que o maior problema das candidatas é a oratória

Paulo Sampaio

26/03/2017 11h41

Karen Porfiro, candidata do município de São Paulo, foi a vencedora do Concurso Miss São Paulo 2017 (Foto: Edson Lopes Jr./UOL)

Há 19 anos exercendo a função de preparadora de miss, a carioca Rose Gracio, 50, afirma que "a parte mais difícil de trabalhar nas candidatas é a oratória". "Nem sempre elas têm desenvoltura para falar." Rose faz uma ressalva em relação à miss Latina Bianca Dias Lopes, 20, uma de suas alunas: "Essa não tem problema nenhum com isso, ela faz Wolf Maia. Tá buscando um lugar ao sol."

"Latina" é uma das muitas franquias do concurso de miss (junto com Mundo, Terra, Universo etc).  "Wolf Maia" é um diretor da TV Globo que oferece cursos de teatro para moças como Bianca.  E "oratória" é uma palavra que leva as candidatas a estudar durante um ano para saber o que significa: "Trabalha a fala, a improvisação, o vocabulário", explica Tábata Santi, 24, miss Ribeirão Preto 2014.  Tábata ensina um truque: "O melhor é falar  'amplo', nada muito específico, para não dar na cara que não sabe." Ó!

Ontem foi a final do concurso miss São Paulo 2017, do qual participaram candidatas de 20 municípios do estado. Nas dependências do Palácio de Convenções do Anhembi, foi possível aprender muito. E não só com Tábata.  "Alimentação é a maquiagem de dentro pra fora", ejeta a nutróloga Liliane Opperman, apresentada em um filminho como orientadora alimentar das moças. O professor Namie Wihby, que as ensina a andar de salto alto na passarela, começa do basicão: "Um clássico de todos os tempos: um pé à frente do outro."

Manequim 46: o que importa é ser feliz

No palco, as candidatas exercitam a oratória: "Minha missão como mulher empoderada é ensinar a todas as mulheres a seguirem seus sonhos", diz uma, olhando para o infinito. "Uma mulher tem de ser o que ela quer, na hora em que quiser", acha outra, levantando o queixo em uma expressão de coragem. "Acredito que a mulher moderna é versátil, consegue executar muitas tarefas ao mesmo tempo", afirma a terceira, sem entrar em detalhes.  A miss São Caetano do Sul milita "a favor da reavaliação dos padrões de beleza": "Não importa se você usa manequim 36, 40 ou 46, o que importa é ser feliz", diz ela, que é magra, magra, muito magra, alta e linda. Uma das candidatas negras evoca Barack Obama, lembrando que o ex-presidente norte-americano "quebrou barreiras, em uma época em que ninguém contava com isso".

Todas pregam "igualdade para as mulheres", e esse é um princípio que ninguém pode acusá-las de não exercer. O jeito de andar, de se vestir e se expressar (oratória) das 20 misses é praticamente idêntico. Até a espontaneidade delas é muito parecida.

"Ão, ão, ão, é São Sebastião!", grita a torcida da candidata da cidade do litoral norte de SP, alheia ao momento-cabeça.

De longo, sem calcinha

Na platéia, proliferam vestidos longos em tecidos luminosos, saias amplas, rabos de sereia e barbatanas de peixe. A miss teen Paula Palhares, 17, que usa um modelo verde-esmeralda, faz propaganda de uma estilista de Paulínea chamada Irene Moreira; a miss São Carlos Renata Zuccolotto, 19, veste um ousado modelo recortado nas laterais que a obrigou a ir sem calcinha: "É do Odilon Passos", explica ela, referindo-se a um estilista de alta costura de Ribeirão Preto; Odilon diz que busca instruir suas clientes sobre os limites do próprio corpo.  Como se verificou em vários casos durante o evento, nem toda usuária de um rabo de sereia é miss. "É preciso usar o bom senso." Outra lição.

Ali perto, em um longo cravejado de pedrarias com "cauda évasé", está a apresentadora Carla Hellen, 43, que define seu estilo como "chique clássico"; a seu lado, a amiga Isabele, 30, sorri envolta em um modelo todo trabalhado na transparência. Ambas são transformistas. Carla conta que  apresentou recentemente o concurso miss Beleza Negra Trans em Roma, quando dublou em um show a diva norte-americana Shirley Bassey. "Foi maravilhoso", lembra.  Por sua vez, Isabele olha embevecida para o palco e diz: "Somos mulheres também, a única diferença é que não podemos ser mãe, não é? Não podemos gerar uma criança." Claro.

É muita informação, muito ensinamento. Como prega um dos principais preceitos da aula de oratória para misses, "o importante é a beleza interior".

 

 

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.