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Paulo Sampaio

Milionários vendem de bolsa Hermès a Porsche de segunda mão em grupo fechado

Paulo Sampaio

28/03/2017 04h00

Você enjoou de sua bolsa Hermès Birkin* de R$ 40 mil? Acontece. Para casos assim, a empresária Titina Bilton criou o grupo fechado "Bodiei", integrado por milionários a favor da reciclagem do luxo. A Birkin não é ilustrativa. Há uma à venda ali. Cobra-se o mesmo preço da bolsa nova, mas, segundo Titina, quem compra na loja pode enfrentar fila de espera, pagar ágio e ainda se submeter à avaliação das vendedoras. "Se você entra na loja [em Paris] bem vestida, a possibilidade de ter pra pronta entrega é maior", ri. No fim das contas, o preço da bolsa rodada é uma pechincha. Pense bem: tem pouca quilometragem e circulou apenas em festas da alta sociedade.

A dona do modelo em questão, Danielle Burd, explica que resolveu vendê-la porque em dado momento se sentiu "refém": "Um vez, em uma festa na casa de uma amiga, a deixei junto com outras bolsas no sofá e não consegui relaxar. Ficava o tempo todo olhando, checando, preocupada em saber se alguém tinha derrubado algo nela. Não usei mais."  Burd conta que ganhou a bolsa do ex-marido, há pouco mais de três anos, e que ele a comprou em Nova York. Isso, de certa maneira, vale um abatimento. A interessada pode argumentar que o comprador não entrou na fila nem pagou ágio. Burd diz que até tentou vendê-la aqui no Brasil, em um mercado paralelo só de Birkin, mas afirma que "eles pagam muito pouco".

Porsche de R$ 349 mil 

Além da Birkin, o frequentador do Bodiei pode encontrar itens como um anel de turmalina por R$ 11 mil, ou um "lustre francês do século século XIX com seis braços em bronze", por R$ 18 mil. E há ofertas de bens maiores também. Um dos bodiados colocou seu Porsche Boxster à venda pela bagatela de R$ 349 mil. "Hoje recusei o anúncio de um avião", diz Titina, 44 anos. "Achei que fugia um pouco da nossa proposta."A proprietária do avião, conta ela, tinha feito um upgrade de modelo e quis vender o antigo. Razoável.

Criadora também da famigerada "Agenda Black", que em cinco anos angariou 11 mil membros e hoje disponibiliza de informações que vão da melhor manicure a aluguel de casas em Aspen, Titina explica que nos dois meses de existência do Bodiei ela já postou cerca de mil anúncios. Conta que teve a ideia de criar o grupo quando, ao tentar vender os próprios acessórios ("eu super-reciclo as minhas coisas"), encontrou sites de venda que pediam 35% sobre o valor obtido. Ela cobra R$ 50 reais, seja qual for o produto. Desde um relógio Rolex Oyster de R$ 12 mil, até até um barco de R$ 650 mil, passando por um quadro do pintor modernista Alfredo Volpi de R$ 250 mil .

Gucci Surrado

A criadora do Bodiei afirma que está aberta a anunciar qualquer item que valha mais do que os R$ 50 que ela cobra ("pra valer a pena"). Mas atenção! Não dá para aparecer com um "Pradinha puído" e achar que vai se dar bem. Antes de anunciar o produto, Titina o examina e diz, na lata, se vale o que a eventual "caída do trem" está pedindo. Até agora, apenas dois posts foram recusados. "Teve uma mulher que queria vender um (sapato) Gucci todo surrado, arranhado, por R$ 1 mil. Eu disse mesmo: 'Minha senhora, isso não vale R$ 100'. Nem acho justo cobrar pelo anúncio de algo que não vai vender." Outro gongado foi o proprietário de uma cadeira inflável, pela qual ele queria R$ 10 mil. "Eu disse que, por aquele valor, era possível comprar uma cadeira nova."

* O nome da bolsa é uma homenagem à atriz inglesa Jane Birkin, que foi musa e parceira do músico Serge Gainsbourg. A história que se conta, e que só faz agregar valor ao item, é que em um voo de Paris para Londres em 1983 a atriz se sentou ao lado do diretor executivo da Hermès, Jean-Louis Dumas, e ele reparou que Jane teve de usar o compartimento superior de bagagem para acomodar as coisas que não cabiam em sua bolsa. Ela se queixou de que não havia um modelo de bolsa em que coubesse tudo o que ela precisava carregar. Ele então, muito obsequioso, criou um e ainda o batizou de Birkin Bag. Nada garante que as mulheres que entram na fila para comprar a bolsa saibam sequer quem é Jane Birkin.

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.