Galvão Bueno vende emoção em curso de vinho para comunidade na periferia de São Paulo
Uma grande movimentação tomou conta da ONG Gerando Falcões, que atende 800 crianças carentes de uma comunidade de Poá, município a 34 km de São Paulo. Aguardava-se a chegada do jornalista Galvão Bueno, que inauguraria no sábado (6) um curso de sommelier patrocinado por sua vinícola, a Bueno Wines. Sommelier é o termo em francês para designar o profissional que sabe diferenciar vinhos, comprar, armazenar, harmonizar e é também quem monta o cardápio de bebidas em um restaurante.
O empreendedor social Eduardo Lyra, 29, que criou a ONG há quatro anos, não encontrava palavras para agradecer seu ídolo. Criado apenas pela mãe, com o pai preso por envolvimento com o crime, lembrou: "Quando eu era criança, na noite das quartas-feiras, não tinha fome, não tinha frio, não tinha tráfico. Tinha o Galvão narrando o futebol na TV."
Maior narrador do mundo
Bueno parecia muito tocado. Ao visitar as dependências da escola municipal José Antônio Bortolozzo, onde a ONG promove atividades ligadas a cultura, esporte e qualificação profissional, ele arrastou uma pequena multidão atrás de si. Passou a mão na cabeça das crianças, mostrou-se incansável posando para fotos com elas e fez comentários alentadores na sala de artes, onde diversos alunos pintavam telas de paisagens. Na sequência, na quadra poliesportiva, disse que tinha sido jogador de basquete, tirou mais fotos e então seguiu para homenagens com números de dança e canto, tudo devidamente filmado. O cinegrafista disse a um menino que a gravação iria ao ar durante a semana, no Globo Esporte. O menino pulou: "O Galvão Bueno é o maior narrador do mundo!"
Depois da apresentação de um coral de 130 crianças, Bueno sentou-se com todos no palco: "Eu trabalho com emoções, eu vendo emoções, é o meu produto. E agora, observando essas telas pintadas por essas crianças, ouvindo esse coral, minha nossa, eu já assisti a muitas apresentações de coral na vida, mas esse é o mais bonito que eu já vi", disse, seguido por palmas.
Muito familiar
Além dos familiares de Lyra, estavam presentes os do próprio Galvão Bueno. Sua filha, sua neta e sua mãe. Ele contou que esta última é uma grande batalhadora, cuida de uma entidade sem fins lucrativos que oferece tratamentos médicos a comunidades carentes de Londrina (PR): "88 anos!", exclamou Bueno, dando a palavra a ela. "Mãe, eu queria agradecer muito, muito a senhora por poder estar aqui."
A pauta seguinte foi cidadania: "O que eu vejo aqui é uma escola de formação do cidadão. A ética não é mérito, é obrigação. O que a gente vê hoje na classe política, essa vergonha, isso é o pior exemplo que um país pode ter."
A certa altura, alguém tem a ideia de chamar os professores do curso de sommelier, para explicar como será. Os irmãos Alex, 33, e Rodrigo Pimenta, 31, dizem que há 12 inscritos e que serão 12 aulas. Incluem leitura de rótulo, história, produção, vinificação, harmonização e serviço: o cuidado com cada vinho e como servi-los.
Em defesa das mulheres
Bueno emenda com um defesa de gênero: "Estaríamos muito felizes se metade dos inscritos fossem mulheres. E não é que há 9, entre 12…" Palmas! O dono da vinícola diz que os dois alunos que tiverem melhor desempenho já tem um "excelente emprego". Um no restaurante Vinheria Percussi, outro na Bueno Wines. Palmas. Alex e Rodrigo tiram fotos com o criador da ONG e com o jornalista e então…
… de repente, Bueno aponta para um quadro de Nelson Mandela pendurado na parede: "Eu tive com aquele cara ali. Um exemplo para o mundo.Você pode se aproximar da estátua: mas se aproximar dele é uma experiência que um ser humano jamais esquece."
Ele associa Mandela ao confronto político no Brasil. "Vivemos uma época muito difícil, os políticos nos envergonham, e não tem esse ou aquele partido. São todos. O que me preocupa, justamente, é o confronto. Será que é por aí? Será que a gente não pode ter uma opinião diferente do outro sem ter de partir para o ataque?"
Silêncio na sala.
"Esse homem (Mandela) passou décadas na cadeia. Esse homem não tinha um colchão para se deitar, um pano para ajudá-lo no frio. Esse homem foi torturado mental e fisicamente. Esse homem saiu da prisão sem ódio. Esse homem se elegeu presidente da República…" Palmas continuadas! "Por que a divergência de ideias tem de levar ao confronto? Será que não é possível resolver no diálogo? É possível, sim, Mandela nos mostrou!"
Direita ou branco
E Lyra: "Quando chamei o Galvão para participar do projeto, ele não me perguntou se eu era de esquerda ou direita, negro ou branco…" Galvão levanta os braços e as sobrancelhas, num gesto silencioso que quer dizer "claro que não". Palmas!
Abrem-se as garrafas, fazem-se brindes. E fotos, fotos, fotos. Galvão é acompanhado pelo segurança até o carrão preto que o trouxe, dá até logo e parte.
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