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Paulo Sampaio

Valesca: "Os homens travam comigo. Se eu sinto que estão dando mole, eu vou lá"

Paulo Sampaio

08/08/2017 08h06

Em cena, na festa do bloco "Agrada a Gregos" (Foto: Paulo Sampaio/UOL)

Se não fosse pelo aparato de seguranças em volta, ninguém suspeitaria que a tenda instalada embaixo de um viaduto escuro da Mooca, na zona leste de São Paulo, abriga a estrela da noite. Na verdade, o camarim improvisado só faz aumentar o suspense a respeito de Valesca Popozuda. O assessor vai na frente, afasta uma das faces da tenda para o lado, fica um momento lá dentro e volta para dizer que ela está pronta para receber a reportagem. "Entra aí",  diz Valesca, sorrindo, enquanto os dançarinos do show e os maquiadores rodopiam alegremente , jogam o cabelo e cantam a esmo. Com cerca de 9 metros quadrados, o lugar se mostra pequeno para tanta hiperatividade. Mas Valesca parece acostumada àquela movimentação, como se fosse a mãe de várias crianças endiabradas. "Tirando o técnico de som e o DJ, o resto tudo é viado", diz o produtor Hugo Pauluze.

No auge da noite, frente e verso (Foto: Paulo Sampaio/UOL)

Aos 38 anos, sem se apaixonar há dois, Valesca Popozuda está prestes a gravar o clip autobiográfico "Tô Solteira de Novo". "Os homens têm medo de mim, eles travam", diz. "Se sinto que estão me dando mole, eu vou."

A quem possa interessar, isso acontece esporadicamente, quando ela sai com os dançarinos para a "night". E onde será que eles vão? "Nas boates da Barra." Qual? "Não tem uma específica." Um dos dançarinos, Jhury, diz: "São várias, uma ao lado da outra." E Valesca:"É". Nessas ocasiões, ela não se furta de beijar — se for o caso. "Não adianta ficar se escondendo. Quanto mais você se esconde, mais mostra o rabo", diz ela, com toda propriedade.

Por baixo de um casaco curto de paetê preto, Valesca veste um maiô da mesma cor, com um detalhe em vinil no centro.  Meia calça arrastão cor da pele e, enquanto não coloca as botas de verniz de cano alto, está de chinelo. A tira que passa sobre o peito do pé tem desenhos pequenos de raios, nuvens e bocas. Ela suspende um corselet que vai por cima do maiô, para saber o que é frente, o que é costas.  Um dos dançarinos descobre. "Arrasa viado!"

Na tenda, entre Agustin Fernandez e Jhury, finalizando a maquiagem (Paulo Sampaio/UOL)

São dez para as duas da madrugada, e o público está indócil.  Avisam que o show vai começar, ela sai da tenda acompanhada dos dançarinos e sobe a escada que dá no palco. A plateia se aproxima em massa da grade à frente. Dois ventiladores instalados no chão fazem o babyliss de Valesca voar, enquanto ela começa . "Eu vou pro baile…de sainha! Agora eu tô solteira, ninguém vai me segurar!"

O repertório inclui clássicos como "Pimenta", "Eu sou a diva que você quer copiar"e "Viado": "A Valesca é a personificação do empoderamento feminino. Ela não liga para julgamentos, não está nem aí para essa bosta toda!", acredita a advogada Giovanna Bruzani, 28, que comemora sua despedida de solteira. Giovanna, que está com cinco amigas, se casa dia 16 de setembro. O noivo foi a uma balada na Vila Olímpia.

O público da festa do bloco "Agrada a Gregos" é composto basicamente por gays e mulheres. "Os homens não-gays estão começando a aparecer nessas baladas", afirma a produtora de eventos Mariana Belotto, 26. "Não sei se tem relação com o fato de eles terem percebido que a concorrência, em um lugar gay, é muito menor. Acho que eles estão despertando para isso, hahaha."

A assistente administrativa Luiza Barreto está com um "gringo", categoria considerada mais aberta a ambientes heterodoxos. "Gringo gosta de putaria", resume ela.

Alguns fãs na lateral do palco pedem desesperadamente a pulseirinha de acesso aos bastidores. "Por favor, me coloca pra dentro!"

Valesca tira o casaquinho de paetê, desce no espaço entre o palco e a plateia e posa para selfies com os fãs. As caixas de som emitem: "Vai rabetão, tão, tão". No palco, onde o acesso é relativamente tranquilo (para quem está nos bastidores), Jhury explica, sem parar de sacudir o "rabetão", que está dançando o twerk — cujos movimentos frenéticos de quadril foram celebrizados pelas cantoras norte-americanas Rihanna e Miley Cyrus.

De volta ao palco para finalizar o show, Valesca agradece o carinho e conclui: "Eu só quero dizer que vocês são foooodaaa!" "Uhuuuuu!", exclama a galera.

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.