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Paulo Sampaio

Neto de Maksoud manobra e compra 1/3 da herança do hotel por "ninharia"

Paulo Sampaio

19/12/2017 08h00

Este post faz parte de uma série de quatro, que começou ontem

Atual administrador do Maksoud Plaza, o empresário Henry Maksoud Neto adquiriu por um valor bastante acessível a parte de Vera Lúcia Barbosa, que há três anos se tornou herdeira do hotel. A transação foi realizada no ano passado.

Conforme o blog noticiou ontem, Vera obteve na Justiça em 2014 o reconhecimento de paternidade de Henry Maksoud, fundador do hotel, morto no mesmo ano. Em 2016, ela conquistou o direito de usar o sobrenome da família. Ela seria filha de Maksoud e da cozinheira Jaci, que trabalhou na casa da mãe dele no começo dos anos 1950. O empresário se recusou a fazer o exame de DNA até o fim da vida – a Justiça determinou a chamada "paternidade por presunção" (quando não há o exame), que legalmente dá ao filho os mesmos direitos dos outros herdeiros.

240 parcelas mensais

Neto ofereceu pelo terço de Vera no Maksoud Plaza R$ 2, 640 milhões, a serem pagos em vinte anos (240 parcelas mensais de R$ 11 mil, reajustáveis pelo IGPM). "Isso é ridículo, uma ninharia!", diz Cláudio, filho mais novo de Henry Maksoud. Pelas contas dele, o Maksoud Plaza vale mais de R$ 400 milhões. "São 420 suítes avaliadas em R$ 1 milhão, cada." O patrimônio da família é bem mais expressivo. Fazem parte do grupo Maksoud pelo menos cinco empresas (a Hidroservice Engenharia Ltda; a HM Hoteis e Turismo S.A. — Maksoud Plaza São Paulo; a Manaus Hoteis Turismo S.A. — que constrói um hotel em um terreno de 152 mil m2 em área nobre da capital amazonense, em frente ao Rio Negro, ao lado do renomado Hotel Tropical e próximo ao principal shopping center da cidade; a HSBX Empreendimentos S.A. — Maksoud Plaza Hotel e Shopping Center Bauru; e a KXYZ Tecnologia S.A.).

Os advogados de Cláudio afirmam que, para justificar o baixo valor da aquisição da parte de Vera, Henry Neto inseriu no contrato uma série de "considerando".

Veja na íntegra o contrato de aquisição.

"Não é assinatura, é visto"

Cláudio e o irmão, Roberto, eram os dois únicos herdeiros "necessários" (diretos na linha sucessória) do hotel, até Vera aparecer – agora, a parte dela está nas mãos de Henry Neto, que é herdeiro "testamentário", assim como a segunda mulher de Henry Maksoud, Georgina.

A legitimidade do testamento é contestada na Justiça pelos dois irmãos. Eles alegam que Henry Neto e Georgina teriam se aproveitado da senilidade de Henry Maksoud no fim da vida, e do estado de "ausência" dele provocado pelos medicamentos, para fazê-lo assinar o documento. Garantem que Maksoud, "minucioso como era, jamais teria permitido o mínimo erro de português e muito menos que não se reconhecesse a firma". "Meu pai era muito rigoroso com documentos. Isso aí que se vê no testamento não é uma assinatura, é um visto", afirma Cláudio.

Procurado pelo blog, Henry Neto não quis falar. Georgina afirma que Maksoud "estava com a consciência bem tranquila e bem clara quando assinou o testamento". "Ele não morreu senil coisa nenhuma! Muito fácil falar isso agora! Ele sabia muito bem quem era quem na família. Todo mundo resolveu dizer que ele foi mal tratado, mas quando ele estava no fim, ninguém apareceu aqui para visitá-lo! E outra: quem se aproveitou dele a vida toda foram os filhos!!"

Interesse desprezado

Como herdeiros necessários, Roberto e Cláudio Maksoud afirmam que teriam precedência na compra da parte de Vera. "Isso está no código civil", diz o advogado de Cláudio, José de Arruda Silveira Filho.

Segundo os dois irmãos, Vera mandou telegramas oferecendo a venda da parte dela a eles, mas apenas às vésperas da transação com Henry Neto: "Nós demonstramos interesse em fazer negócio, mas ela ignorou nossa resposta. A venda já estava acertada entre eles, eram cartas marcadas, o telegrama foi só pró-forma", acredita Cláudio. De acordo com ele, Vera teria exigido dos dois pagamento à vista (o que ainda assim seria um excelente negócio). Procurada pelo blog, ela não quis falar.

Como pode?

No Instagram, Vera Maksoud postou imagens onde aparece com Henry Neto e a mulher, Juliana, no dia de seu aniversário, declarando "gratidão eterna". Cláudio acha bastante razoável que o sobrinho tenha ido comemorar com ela. O que ele não entende é que ela tenha comemorado com ele. "Foi um negócio incrível pra ele. Eu só me pergunto como ela pode ter topado." (No post de amanhã, detalhes sobre a origem do dinheiro pago a Vera pela parte dela na herança)

 

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.