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Paulo Sampaio

Rita Cadillac não nos representa, diz chacrete sobre desfile da Grande Rio

Paulo Sampaio

23/01/2018 05h00

Sandra Mattera na época do programa do Chacrinha; e hoje (Foto: Arquivo Pessoal)

Inconformada por não ter sido convidada a participar do desfile da escola de samba Acadêmicos do Grande Rio, que este ano vai homenagear o apresentador Chacrinha (1917-1988), a ex-chacrete Sandra Mattera, 66, está atirando para todos os lados — seu alvo predileto nas redes sociais é a colega Rita Cadillac, que vai sair como destaque. "Ela não nos representa. Ficou famosa não por ser chacrete, mas por fazer filme pornô e show erótico. Não conheço nenhuma outra de nós que abaixa a bunda para beijarem."

Cadillac diz que não entende o que chama de "cisma" de Mattera: "Eu não represento ninguém. Eu me represento. Sou uma ex-chacrete, ponto."  Ela vai aparecer no desfile dentro de um Cadillac. Afirma que não pediu para ser destaque. "Não bati na porta de ninguém. Tô quieta no meu canto, não sou dona da escola, não sou diretora, não fui eu que me escolheu, apenas fui convidada para desfilar."

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As duas ex-chacretes não se conhecem pessoalmente. "Eu não sou o que ela (Mattera) está falando", diz Cadillac, sem explicar exatamente sobre o quê Mattera "está falando". E completa enigmaticamente: "Isso já está passando para outra esfera."

Primeira leva

Sandra Mattera é da "primeira leva de chacretes". Ela conta que entrou no programa em 1968, com 17 anos, e ficou até 1973, quando um dos filhos do apresentador, Jorge, teria passado "uma cantada" nela. "Eu era da linha de frente, onde ficavam as mais bonitas, e depois passei a ser ajudante de palco; entregava o microfone para os artistas. O Jorge até era meu amigo. Mas aí resolveu que queria ficar comigo, e disse que se eu não aceitasse, iria de castigo lá para cima (nas fileiras de trás). Eu disse que não ia ficar com ele, nem iria para trás. Passei no camarim, peguei minha bolsa e fui-me embora."

Segundo Mattera, logo em seguida a direção da Globo a chamou para trabalhar na linha de shows, e ela ficou na emissora até 1977, quando se casou com o  baterista de Roberto Carlos, Norival d'Ângelo. Teve dois filhos com ele, hoje com 38 e 36 anos, mas é separada há mais de 30.  "Ele (Norival) arrumou uma piranha que fazia tudo na cama. Eu sou romântica. Negócio de sexo anal, comigo, não rola não. Sexo oral eu tenho de estar apaixonada."

Na entrevista abaixo, ela explica sua revolta com a Grande Rio, que é do Grupo Especial e ficou em 5º lugar no desfile do ano passado. O enredo este ano é "Vai para o Trono ou Não Vai?", frase imortalizada por Chacrinha no programa de calouros. Procurada, a escola não retornou até o fechamento do texto. Leleco Barbosa também não.

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Quantas chacretes passaram pelo programa?

Ah, umas 500.

Então, não daria para convidar todas para o desfile…

Não mesmo. Mas a maioria já disse que não quer desfilar, está cuidando da casa, dos netos. Só umas 30 se dispuseram. A escola preferiu colocar as 'fake', que trabalharam no musical (sobre Chacrinha).

A Grande Rio chegou a dar alguma satisfação a você?

Quando viram que eu estava polemizando nas redes sociais, me chamaram para ir a um ensaio e ofereceram um camarote com tudo pago para toda a minha família. Quiseram me dar um "cala a boca", mas não adiantou nada. Eu falo mesmo.

Quem, das chacretes, eles convidaram para o desfile?

Pelas minhas contas, quatro, sem contar a Rita Cadillac. Cleo Polivalente, Glaucia Sued, Vera Caxias e Regina Magalhães. Agora, além dessas, tem umas que frequentam todos os ensaios, inclusive pagam pra ir, se humilham, na esperança de serem convidadas. Mas não vão ser. Tem uma pulguinha lá de dentro da escola que me conta tudo.

Como ex-chacrete, era natural que chamassem a Rita Cadillac.

Claro. Mas eles não a chamaram apenas para participar do desfile. Eles a colocaram como destaque. A minha briga é porque eu acho que ela não nos representa. Ficou famosa por participar de filme pornô e show erótico. Aliás, ela foi expulsa da Globo justamente porque posou para uma revista de sexo explícito e disse umas besteiras na entrevista (Cadillac afirma que, se tivesse sido expulsa da Globo, não a teriam chamado para participar do seriado 'A Diarista': "Nem colocariam minha música, Bom para o Moral, como trilha sonora do personagem de Grazzi Massafera na novela A Lei do Amor").

O fato de ter se dedicado a outras atividades não faz de Rita Cadillac uma ex-chacrete menos importante que as outras.

Ela usou o título para se lançar na carreira pornográfica. Faltou com respeito à memória do Chacrinha. Quando foi expulsa do programa pela direção da Globo, ela não quis fazer faxina em casa de família, ou trabalhar em caixa de supermercado, como muitas fizeram. Ela quis ir pelo lado mais fácil. Fez show para os presidiários, coitadinhos, que não vêem mulher durante anos e são sedentos por sexo. Depois, foi provocar os pobrezinhos dos garimpeiros de Serra Pelada.

Você conhece Rita Cadillac?

Houve um tempo em que eu tinha vergonha de dizer que fui chacrete, porque a primeira pergunta que me faziam era sempre essa que você me fez. Eu dizia: "Pessoalmente, não. Só de filme pornô."

Pelo que você diz, a impressão é a de que ela queima o seu filme enquanto chacrete.

Ela se expõe naqueles shows e filmes, nós levamos a fama: eu adicionei uma porção de gente no 'face' que me manda foto de pau de 25 cm, duro, perguntando quando é que eu vou fazer com eles o que a Rita Cadillac faz nos filmes dela. Eu digo: 'Quando a puta da sua mãe fizer também.' Eles foram me deletando, graças a Deus. Tenho todas as fotos dela, de todos os filmes; em um deles, ela transa com mulher. Pega, pra ver, você vai ficar horrorizado.

Você parece bastante pudica.

Sou mesmo. Pra me soltar na cama, com o meu homem, preciso apagar a luz e tomar um whiskão. E, mesmo assim, não fico me desdobrando para agradar. Sexo anal, tô fora.

Mas ser chacrete em 1968 era algo bastante avançado.

Mostrar as pernas, tudo bem. E a gente usava duas meias, colant. Fiz um ensaio para a revista Status, em 1975, que, se você for ver, insinua mais do que mostra.

Você acha que o desfile da escola pode ser prejudicado sem a presença de mais chacretes?

Claro! Não sei como os carnavalescos permitiram isso.  É coisa do Leleco (outro filho de Chacrinha,que não retornou à mensagem do Blog). Eles vão ser rebaixados, vão pro buraco. Se com a Ivete Sangalo o desfile já não foi essas coisas, imagine agora, com esse desfalque. Mas na quarta-feira de cinzas eu vou chamar umas chacretes em casa e promover uma "tarde da pizza" para comemorar.

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Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.