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Paulo Sampaio

Maksoud Plaza divulga bom faturamento nos últimos anos, mas omite prejuízos

Paulo Sampaio

05/04/2018 05h00

Este é o segundo post de uma série iniciada anteontem

Empenhado em despejar o próprio tio do Maksoud Plaza, o atual presidente do hotel, Henry Maksoud Neto, afirma que o faz por motivos administrativos (não por desumanidade ou rusgas familiares). Claudio Maksoud mora há 20 anos em duas suítes cedidas por seu pai, Henry Maksoud (1929-2014), fundador do hotel.

Pelo que Neto informa, seu método administrativo tem dado certo.

Um press release enviado em fevereiro pela assessoria do Maksoud Plaza anuncia que o faturamento de 2017 foi de R$61,9 milhões, e que já são quatro anos consecutivos de alta, totalizando um crescimento de 61% desde 2014.  De acordo com o texto,  "novembro (de 2017) registrou a melhor receita dos 39 anos de história do Maksoud, com incremento de 7% em relação a novembro de 2016".  Diz ainda que o hotel conseguiu diminuir o número de processos trabalhistas de 400 para 40.

O balanço da empresa é de domínio público. Como mostra o quadro abaixo, a receita operacional de fato cresceu muito. E o prejuízo também. Chegou a R$ 10.719.00 no último balanço, referente a 2016. O de 2017 pode ser publicado ainda este mês. Em linhas gerais, faturamento diz respeito a receitas; e lucro/prejuízo a despesas.

Anos20132014201520162017 *2018 *
Receitas Operacional37.505.00042.879.00051.566.00055.728.00061.900.000*75.000.000*
Prejuízo571.4734.610.0008.147.00010.719.000

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ND = Não divulgado

Inaugurado em 1979, o Maksoud Plaza chegou a ser considerado o hotel mais sofisticado do País.  Com 420 quartos, contava na ocasião com cinco restaurantes, cinco bares, e teve entre seus hóspedes ilustres chefes de estado, príncipes europeus e astros do cinema e da música.

Em 2011, por causa de uma dívida trabalhista, o Maksoud foi a leilão judicial e acabou sendo arrematado por R$ 70 milhões. Na época, a administração alegou que os reclamantes haviam sido pagos com dinheiro da empresa e contestaram o efeito do leilão. Desde então, o processo rola no Tribunal Superior do Trabalho, sem uma decisão. As últimas notícias dão conta de que o julgamento da questão pelos ministros do TST está empatado em 3 a 3.

 Dívida Ativa da União

A dívida do Maksoud Plaza — segundo contrato elaborado por Henry Neto para adquirir um terço da herança de seu avôé de R$ 400 milhões. Desses, estão inscritos na dívida ativa da União — que inclui impostos, previdência, FGTS etc  — quase 200 milhões.

Por outro lado, em uma assembleia geral ordinária realizada em 16 de abril de 2014  — um dia antes de Henry Maksoud morrer —  a remuneração anual dos membros da administração foi fixada em R$ 1,2 milhão, sem contar os benefícios (aluguel de carro blindado, escola dos filhos, salário dos empregados etc).  Naquele momento, Henry Maksoud, que tinha 99% das ações do hotel, estava em estado muito grave, recebendo atendimento em home care, sem condição de se comunicar.

Outro aumento

Um ano depois, outra assembleia geral ordinária anunciou um lucro de R$ 689.892,79, que mais tarde foi contestado e levou a republicar o balanço com a correção para um prejuízo de R$ 4.610 milhões. Ainda assim, Henry Neto (acionista minoritário) e Georgina Maksoud (segunda mulher do fundador do hotel e inventariante que representa as cotas acionárias de Henry Maksoud) aumentaram mais uma vez a remuneração anual dos administradores (eles mesmos) para R$ 1.675 milhão.

De acordo com um estudo elaborado pela Page Executive, especializada em consultoria empresarial, o vencimento de presidentes e CEOs de companhias nacionais foi de R$ 83 mil mensais em 2015 para R$ 110 mil em 2017. Um crescimento maior do que a inflação, e a despeito da crise dos últimos anos. O estudo se refere a empresas que faturam acima de R$ 1 bilhão. O Maksoud faturou, de acordo com o último balanço publicado, de 2016, R$ 55.728 milhões.

Henry Maksoud já provou ter um estilo de administração bastante heterodoxo. Para comprar a herança de Vera Lúcia Barbosa, por exemplo, usou dinheiro do próprio hotel (ou seja, da própria Vera Lúcia Barbosa). O cheque usado por ele, como o blog mostrou em um post publicado em dezembro de 2017, não é de uma conta pessoal, e sim de uma empresa supostamente de fachada  que receberia praticamente todo o faturamento do hotel.

No outro post, veja até onde vai a ousadia administrativa de Henry Neto.

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.