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Paulo Sampaio

Prefeito Bruno Covas exonera secretária de Direitos Humanos e Cidadania

Paulo Sampaio

10/08/2018 03h50

O prefeito Bruno Covas exonerou ontem a secretária municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Eloísa Arruda. Segundo o blog apurou, Covas não teria concordado com a decisão de Eloísa de afastar o coordenador de Políticas LGBTQI+, Ivan Inácio Batista. Uma das razões que teriam levado Eloísa a determinar a exoneração de Batista foi justamente o descontentamento da militância com o trabalho dele. "Ninguém estava satisfeito, tanto que os pedidos para que ela o afastasse eram unânimes", diz o empresário e estilista Heitor Werneck.

Representantes de mais de 20 entidades LGBT enviaram a Bruno Covas uma carta protocolada, cobrando dele uma postura em relação à substituição na coordenadoria. Ao blog, eles contaram que já haviam mandado mensagens por e-mail e WhatsApp, "mas o prefeito ignorou".

Eloísa assumiu a secretaria em junho do ano passado, no lugar de Patrícia Bezerra, que pediu para sair depois de classificar como "desastrosa" a intervenção do então prefeito João Dória (PSDB) na Cracolândia.

A substituta

Agora, Covas nomeou para o cargo a procuradora Berenice Maria Giannella, que foi presidente da Fundação Casa durante 12 anos, até 2017. Na ocasião, noticiou-se que Berenice teria saído pela porta dos fundos, sem se despedir, porque não ficou satisfeita com a maneira como o governador Geraldo Alckmim conduziu seu desligamento.

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Quem é quem?

Embora até ontem Marcos Freitas estivesse ocupando o cargo de coordenador de Políticas LGBTT na secretaria, ele não fora formalmente nomeado —  nem Ivan Batista formalmente exonerado: "É uma situação inédita, um funcionário de terceiro escalão levar tanto tempo para assumir o cargo", surpreende-se Nelson Matias Pereira, do conselho fundador da Parada GLBT. "Marcamos uma reunião de boas-vindas com o Marcos, fomos lá, nos colocamos à disposição, e uma semana depois ele ainda não tinha sido nomeado. Fica difícil saber quem, afinal, responde pela coordenadoria."

Segundo fontes ligadas a Prefeitura, Bruno Covas teria dito a Batista que continuasse no cargo, desautorizando assim a secretária. Por sua vez, Eloísa não voltou atrás na decisão de nomear Marcos Freitas.

O prefeito Bruno Covas e a ex-secretária de Direitos Humanos e Cidadania, Eloísa Arruda (à direita dele) (Foto: Divulgação)

Briga interna

Os signatários da carta acreditam que, por trás da exoneração de Eloísa, haveria uma "briga interna" no PSDB.  Tudo teria começado quando a vereadora Adriana Ramalho reclamou no plenário que não vinha sendo atendida por Eloísa. Em resposta, a secretária enviou uma "carta aberta" à presidência da Câmara, queixando-se de que recebera "ofensa moral", o que aumentou o desgaste entre as duas. Adriana seria ligada a Ivan Inácio Batista, que é presidente municipal da Diversidade Tucana, grupo LGBTT do PSDB.

Opositores de Eloísa agora afirmam que ela teria pedido o afastamento de Batista como retaliação à atitude de Adriana.

Resumão

Eloísa foi procuradora, secretária estadual da Justiça e da Defesa e Cidadania (entre 2011 e 2014), e assumiu a secretaria municipal de Direitos Humanos e Cidadania no ano passado.

A secretária foi favorável à intervenção de Dória na cracolândia. Na ocasião, afirmou que quando se tratam de questões de segurança, às vezes as ações precisam ser imediatas. Se a polícia aguarda, disse, pode ser acusada de omissão.

Em 2012, ela chegou a dizer que a cracolândia havia acabado, depois de coordenar uma ação com a participação da Polícia Militar e de agentes de saúde e assistentes sociais na área. "Não existe mais", disse.

O movimento LGBTT afirma que, embora eventualmente discorde da secretária em ações do passado, a carta que redigiu é "suprapartidária". "Nosso interesse está relacionado à nomeação de um novo coordenador, que não foi cumprida pela Prefeitura."

O blog procurou a Prefeitura, mas até agora não obteve resposta.

Ivan Inácio Batista e Marcos Freitas preferiram não se manifestar.

 

 

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.