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Paulo Sampaio

Promotora do caso Tatiane Spitzner leva arma cor-de-rosa na Louis Vuitton

Paulo Sampaio

13/08/2018 05h00

A entrevista marcada para as 11 horas no fórum de Guarapuava, cidade a 250 km de Curitiba, era sobre o caso de Tatiane Spitzner, a advogada que caiu do 4º andar do prédio onde morava, no centro da cidade, depois de ser violentamente agredida pelo marido, o professor Luis Felipe Manvailer, suspeito de tê-la jogado da sacada.

Porém, ao deparar com a figura ímpar da promotora Dúnia Serpa Rampazzo, de 33 anos, o blog optou por fazer um recorte da vida dela, cujo arsenal de acessórios inclui uma pistola Glock G 28 customizada, cor-de-rosa, que ela leva na bolsa Louis Vuitton, e um spray de pimenta do mesmo tom.

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Dúnia Rampazzo e seu arsenal de defesa: a pistola pink e o spray de pimenta (Foto: Paulo Sampaio/UOL)

Casacão Calvin Klein

A juiza Paola Gonçalves Mancini, da 2a. Vara Criminal de Guarapuava, aceitou a denúncia do Ministério Público contra Manvailer. Ele é réu pelos crimes de cárcere privado (por impedir a fuga da vítima); homicídio quadruplamente qualificado (por motivo fútil, asfixia, recurso que dificultou a defesa da vítima e feminicídio); e fraude processual (por remover o corpo da vítima e alterar a cena do crime). O professor pode pegar de 12 a 30 anos de prisão.

Durante a conversa de quase duas horas com Dúnia, ela não tirou o casacão preto Calvin Klein, cuja gola alta de pele estilizada branca roçava em sua mandíbula. Definindo-se como uma mulher "destemida mas feminina", a promotora diz que não tem medo de nada: "Sou faca na caveira", avisa ela, citando o capitão Nascimento, personagem de Wagner Moura em  "Tropa de Elite" (a expressão é alusiva ao símbolo do Bope, Batalhão de Operações Policiais Especiais). Mas o filme que lhe vem a cabeça quando pergunto se gosta de cinema ("e ela franze um pouco o nariz como quem diz 'não muito"') é "O Poderoso Chefão".

Séries de TV? "Não vejo muito. Comecei a assistir 'Casa de Papel', mas parei porque não gosto de bandidolatria", diz ela, referindo-se à "idolatria ao bandido". Na série, um grupo de criminosos comandado por um professor "sabe tudo" invade a Casa da Moeda espanhola e faz reféns os funcionários da instituição e uma turma de estudantes que a visitam naquele dia.

Comigo, não

Para provar sua força, Dúnia conta que recentemente, quando era delegada em Porto Alegre, mandou prender um colega por tráfico de drogas:  "A Associação dos Delegados de Polícia do Brasil começou a me denegrir nas redes sociais, dizendo que eu era uma 'deusa de personalidade doentia, que não admitia ser contrariada em seus devaneios'."

Com uma risadinha divertida, ela ajeita os óculos Dolce & Gabbana e diz: "Só concordei com o 'deusa'. Pelo resto, eu os estou processando."

A promotora no tribunal, em ação (Foto: Arquivo Pessoal)

Empenho e didatismo

Cabelos longos com mechas loiras, 1,72m de altura ("sem bota"), a promotora explica a necessidade de manter o professor Manvailer na prisão. "Ele precisa continuar preso para (escreve em uma folha de papel) 1) assegurar a ordem pública; a) pela intensa gravidade do crime; b) pela repercussão internacional; c) pela violência; d) pela agressividade demonstrada. 2) para assegurar a produção de provas (já que o réu destruiu evidências quando removeu o corpo da vítima e limpou os vestígios); 3) para assegurar a punição do réu, que tentou fugir para o Paraguai.

A defesa de Manvalier nega que ele tenha matado a mulher. Afirma que o casal vivia "feliz" e que ia para o quinto ano de relacionamento. Alegando que o professor está "profundamente abalado pelo turbilhão emocional sofrido nos últimos dias" e que vinha apresentando "quadro de depressão profunda", seus advogados pediram a transferência dele da Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG) para o Complexo Médico-Penal (CMP), em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, a fim de que ele tivesse "atendimento psicológico e psiquiátrico urgente". De acordo com o laudo elaborado por um médico da secretaria da Saúde de Guarapuava, Manvailer "acha que a esposa pulou da sacada", mas "não lembra do que ocorreu". O professor diz ainda que, se realmente fez isso, "deveria morrer".

A promotora pisca os olhos guarnecidos com enormes cílios postiços ("cada cílio tem três fios") e reage à alegação da defesa com tranquilidade. "Vamos esperar o laudo anátomo-patológico, que investiga ossos e circulação sanguínea da vítima, para saber se ela ainda estava com vida quando caiu da sacada."

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O bolo de aniversário que ganhou das amigas decora o escritório no fórum de Guarapuava (Foto: Arquivo Pessoal)

Crime e Castigo

Nascida em Palmas do Paraná, município de 50 mil habitantes a 370 km de Curitiba, Dúnia conta que é filha de um funcionário da Prefeitura e uma professora. Tem uma irmã, médica. Seu nome foi inspirado no da irmã de Rodion Raskólnikov, personagem principal do romance "Crime e Castigo", de Dostoievski. Comento que ela veio ao mundo predestinada a lidar com a Justiça, ela diz: "Pois é, né?".

Empolgada com o "primeiro caso gigante" que pega, Dúnia diz que ligaram da França querendo entrevistá-la e que o caso saiu "no New York Times também". À medida em que a minha curiosidade em relação aos detalhes da vida da promotora cresce, ela vai mostrando fotos e vídeos de seu celular. Num deles, ela aparece na aula de tiro, ao som de "Highway to Hell", do grupo AC/DC.

Medo da promotora

Noiva duas vezes, Dúnia está solteira no momento: "Os homens têm medo de mim", acredita. Basicamente, ela os divide em três grupos: os "casados"; os "separados que não querem nada a sério" e os "problemáticos". Em todo caso, a promotora levanta cedinho todo dia, para treinar na academia. Embora não tenha interesse por culinária, se matriculou em um curso de gastronomia. Sobre o que já aprendeu a fazer, responde: "risoto."

Quando sai à noite com as amigas, costuma ir à Box Lounge, a casa noturna mais badalada de Guarapuava. Foi lá que o professor Manvelier comemorou seus 32 anos. Nessas ocasiões, Dúnia não bebe. Pede ao garçom que esprema um limão em um copo de água com gás: "Finjo que estou tomando um drink", diz.

Três momentos da promotora: na academia; na aula de gastronomia e pronta para sair (Fotos: Arquivo Pessoal)

Disney, Cancun e Roma

Agora que é promotora e diz que pode tirar "30 dias (de férias) a cada seis meses", ela vai pra fora do Brasil duas vezes por ano. Fala que que adora viajar. Em 2014, foi para a Disney. Depois, comemorou seus 30 anos em um "spring break" (festa para solteiros), em Cancun: "Não gostei, muita bagunça pra mim." E desde então tem ido para a Europa. Esteve na França e também na Itália, fazendo um curso sobre "organização criminosa" na Sapienza Univerità di Roma. No intervalo das aulas, esteve em  lojas de grife da Via del Corso: "Comprei uma carteira Louis Vuitton, uma bolsa Prada e óculos Dolce & Gabbana (o que está usando)."

Pretende voltar para Europa, agora tendo a Alemanha como destino: "Sou mais pela parte histórica. Quero saber tudo sobre a Segunda Guerra Mundial", adianta. Ultimamente, gastou seus 30 dias em passeios na Grécia e em San Andres, no Caribe.

Em San Andres, no Caribe (Foto: Arquivo Pessoal)

 

 

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.