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Paulo Sampaio

Depois de muito suspense, João de Deus chega, mas não faz atendimento

Paulo Sampaio

12/12/2018 10h07

 

Cerca de uma hora depois do esperado, João de Deus chega a Casa Dom Inácio de Loyola (Foro: Paulo Sampaio/UOL)

Depois de um começo de dia em que o silêncio e a meditação deram lugar ao suspense, o médium João de Deus chegou às 9h29 para o primeiro atendimento da semana na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, Goiás — cerca de uma hora depois do esperado.

Cercado de empurra-empurra, choro e palmas, ele passou direto pelos repórteres, disse algumas palavras de boas vindas à frente de uma das salas onde os fiéis o esperavam, disse que era inocente e deixou o local. Ele é acusado de abusar sexualmente de centenas de mulheres.

Aos gritos de "Silêncio!" e "Paz!", os assessores do médium empurravam com força para o lado os cinegrafistas, e uma das fiéis chegou a desejar "um câncer" para uma repórter de TV. João de Deus não falou com a imprensa.

Cerca de mil pessoas o esperavam nas três salas de atendimento, um número 30% menor que o de costume, segundo alguns assessores: "Dezembro é um mês atípico", justifica Chico Lobo, assessor direto do médium. "Mas é claro que tudo isso que está acontecendo, o movimento na casa."

Fiéis aguardam a chegada de João de Deus em uma das salas da Casa Dom Inácio de Loyola

O médium atende três vezes por semana, às quartas-feiras, quintas e sextas. Costuma chegar entre 7h e 8h30h. Segue uma coreografia variada: "Depende muito", diz a voluntária Nishavda  (que quer dizer "amor sem palavras"). "Às vezes, ele primeiro vai para a sala dele (que fica logo à entrada da casa), ou para o jardim, e ali ele fica até receber os primeiros fluidos da incorporação. Então, passa a fazer o atendimento." Nishavda, 61 anos, procurou a ajuda do médium há 20, porque seu filho nasceu com uma síndrome rara. "Ele parou de tomar o gardenal, toma só a passiflora (calmante natural), e nunca mais teve convulsoões", diz. Dona de uma casa de hospedagem na região, Nishavda calcula que o movimento caiu 40% esta semana.

Outro voluntário, Norberto Kist, compara: "Em toda parte do mundo, líderes políticos são também donos de clubes de futebol, onde há muita lavagem de dinheiro e corrupção. Mas o povo não lha para isso, os elege de novo."

Enquanto João de Deus não chegava, uma moça chamada Lúcia, que começa os trabalhos, precisou se prolongar em sua fala, depois de convidar todos a rezar um "Pai Nosso". Depois que o médium deixou a casa, houve uma certa consternação, mas os fiéis permaneceram orando.

 

 

 

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.