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Paulo Sampaio

Dória não garante cumprir decisão de Alckmin sobre museu LGBT na Paulista

Paulo Sampaio

01/03/2019 05h00

Interior do atual Museu da Diversidade, situado na estação República do Metrô, no centro de SP (Foto: Adriana Toffetti/A7 Press/Folhapress)

Quando esteve na 18a. edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, em maio de 2014, o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) subiu em um trio elétrico e anunciou para mais de 3 milhões de pessoas que ia trazer o Museu da Diversidade Sexual — inaugurado em 2012 na estação República do metrô — para o Palacete Franco de Melo — um casarão de 970 metros quadrados no número 1919 da Avenida Paulista, região central de São Paulo. A notícia foi publicada no portal do Governo do Estado.

Na ocasião, o Programa de Ação Cultural do Estado (Proac) lançou um edital para escolher o melhor projeto de museu LGBT para o imóvel. Pela primeira colocação, o escritório H+F Arquitetos ganhou R$ 1,1 milhão, segundo informa a secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de SP. O projeto completo foi entregue em 2017, pronto para licitação de obra.

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Projeto ganhador do edital de concorrência para reforma do museu (Foto: Arquivo Pessoal)

Os Franco de Melo

A essa altura, depois de longa pendenga com a família proprietária do palacete, o governo já havia adquirido o imóvel, tombado em 1992 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat). Os Franco de Melo reclamavam que o tombamento encareceu a manutenção do casarão, e então o Estado o assumiu — e quitou o valor avaliado (por volta de R$ 100 milhões). A liberação pela Justiça do imóvel é esperada nas próximas semanas.

Acontece que a gestão do atual governador de São Paulo, João Dória Jr., também do PSDB, não garante cumprir o anúncio de Alckmin. Em nota, a secretaria de Cultura e Economia Criativa informa que "o imóvel ainda não foi liberado pela Justiça e não se encontra sob responsabilidade do governo". "Quando e se ocorrer, será realizado um chamamento público para a seleção do melhor projeto de restauro e ocupação do espaço."  Apesar de já ter gasto R$ 1,1 milhão em um chamamento anterior, que elegeu um projeto (pronto para a licitação), o governo acha que repetir todo o processo é a "forma que onera menos o Estado e garante equidade entre os potenciais interessados".

Segundo a secretaria "o projeto aprovado em 2014 exige alto investimento público (além da cessão do imóvel) e não há recursos para viabilizá-lo, na realidade orçamentária atual".

Sem comentários

Procurada pela reportagem, a Diversidade Tucana, secretariado LGBT do PSDB, não quis se manifestar. "Eu não respondo pela gestão Dória", disse a presidente estadual do grupo, Gleuda Apolinário.

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De acordo com o arquiteto Pablo Hereñú, sócio do escritório H+F, o custo estimado da obra é de R$ 30 milhões, o que inclui ampliação da área construída em cerca de 4.500 metros quadrados; conservação e restauro do casarão e jardim lateral; implantação de um café restaurante no nível do térreo; e a criação de um cine-teatro-auditório com capacidade para 180 pessoas, no subsolo. O gerente do museu, Franco Reinaudo, acredita que seria uma ótima oportunidade de Dória mostrar suas boas conexões com a iniciativa privada: "Existem muitas empresas que se interessariam pelo projeto", diz ele.

Disposto a conversar e defender o projeto do museu entregue 2017, Franco Reinaudo e um grupo de integrantes da comunidade LGBT pediram uma reunião com o secretário Sérgio Sá Leitão. Ele ficou de recebê-los no dia 12 de março.

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.