Na estreia do show Baby Shark em SP, mãe reclama da ausência de mommy shark
A princípio, o "Baby Shark Live Show" é dedicado ao público infantil — mas há adultos que também se deixam levar pela saga da família de tubarões cantantes. Na estréia latino-americana do espetáculo, sábado, em São Paulo, a arquiteta Thaís Trentin, 41 anos, mãe de Helena, 4, ficou muito aborrecida com a ausência de um personagem que considera importante: "Cadê Mommy Shark?", perguntou ela, levantando os braços e apontando para si como referência na família. A falta de mamãe tubarão pareceu atingir em cheio seu orgulho de progenitora. "E a Grandma Shark?", continuou, mostrando sua sogra, dona Mazé, correspondente de vovó shark. "Não achei legal não. O lance deles (os Shark) tem muito a ver com pai, mãe, avó, com família mesmo. O show não valoriza isso. Eu esperava mais. E outra: como musical, sem Mommy nem Grandma, foi caro".
Aos não-iniciados: Baby Shark é um filhote de tubarão estilizado que, diferentemente do bicho real, não morde nem mata — só tortura. Sua principal presa são crianças de 0 a 5 anos, que costumam ser abduzidas por uma música cuja letra diz: "Baby shark, doo doo doo doo doo doo/Mommy shark, doo doo doo doo doo doo/Daddy shark, doo doo doo doo doo doo/Grandma shark, doo doo doo doo doo doo/Grandpa shark, doo doo doo doo doo doo/Let's go hunt, doo doo doo doo doo doo/Run away, doo doo doo doo doo doo/Safe at last, doo doo doo doo doo doo."
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3,5 bilhões de views
Cada frase da música deve ser repetida quatro vezes e, por fim, tudo volta ao início. Com 3,5 bilhões de visualizações no Youtube, o hit chegou a ocupar a 32a. posição entre os Hot 100 Billboard, considerado o ranking de singles mais importante do mundo.
Composta originalmente na década de 1990 por dois educadores norte-americanos, a canção mais tarde foi revisitada por vários ritmos e tendências. Maycon Fontoura, produtor do "live show", diz que o doo doo doo que de fato viralizou foi o da versão apresentada no espetáculo. O coreano Smart Studio, que o criou, se apresenta como "empresa de entretenimento educacional". "A gente segue o roteiro deles, que é a base do show da turnê mundial", explica Maycon, para justificar a ausência de Mommy Shark (e de Grandma e Grandpa).
Ele garante que esse primeiro show no Brasil foi "só uma provinha" e que os próximos muito provavelmente apresentarão a família toda. Que bom.
Será possível?
Antes de ir ao show, o adulto que conhece minimamente o conteúdo da família Shark é tomado pela apavorante questão: como será que eles transformaram uma canção de cinco personagens e vários doo doo doo em um musical de 65 minutos?
A resposta vem com uma notícia relativamente boa para quem tem intolerância psíquica a repetições: a música tema é cantada apenas 4 vezes.
Na história, tudo gira em torno da busca por Baby Shark, que se perde de Daddy. Além do próprio papai tubarão, vão atrás dele os coadjuvantes Pinkfong e Hogi, mais um explorador, um cowboy e uma mergulhadora, entre outros personagens que, segundo Maycon, "remetem às culturas regionais de alguns países".
Embora o texto seja adaptado para o português, as músicas foram mantidas na versão em inglês: "As crianças só reconhecem essas canções no original", explica Maycon. Por sua vez, os atores cantam em playback as gravações produzidas previamente com suas próprias vozes. Por que então não deixá-los cantar ao vivo? "Para não sair do timing do show nem um segundo", diz o produtor.
Missão de fim de semana
No saguão, antes do espetáculo, os pais parecem cumprir alegremente sua missão de fim de semana. Alguns reconhecem que é puxado: "Quem deu o ingresso para o show foi o padrinho dela, de Dia das Crianças. Deu o ingresso, mas não veio junto", ri a analista de sistemas Mayara de Oliveira, 31 anos, mãe de Alice, 1 ano e meio.
Pouco antes do segundo sinal, que avisa o começo do show, um casal de primeira viagem tenta encaixar o carrinho de bebê de ré, na porta da sala. Dá tempo apenas de dizer que o filho não sabe ainda o que é Baby Shark, "mas a gente estava sem saber o que fazer, comprou o ingresso para vir". "Vai ser divertido", acredita o engenheiro Rafael Cruz, 37 anos, com invejável animação.
Réplicas dos Shark
A estréia de sábado, na casa de espetáculos Tom Brasil, foi anunciada como "única apresentação" em São Paulo. De acordo com Maycon, o "live show" deve percorrer 50 cidades do Brasil, mais o mesmo número na América Latina, incluindo as capitais de todos os países. Ele espera que o espetáculo seja visto por 350 mil pessoas. Em São Paulo, os ingressos foram vendidos a preços entre R$ 29 e R$ 180, e se esgotaram em cinco dias. O Tom Brasil tem 1.800 lugares.
Logo à entrada da casa, uma banca comercializava réplicas de Baby e Daddy em forma de travesseirinho de pelúcia. O blog pergunta se venderam muito, e uma das encarregadas diz que não. "Para o padrão brasileiro, os preços são salgadinhos", constatou. Pelo travesseirinho em forma de Baby, cobravam-se R$ 200; o modelo igual, "mas que canta", R$ 250; e o que está em cima de uma bicicleta, R$ 450. A representante da empresa que tem a licença para comercializar os produtos no Brasil não quis revelar números, nem mesmo o próprio nome.
Crianças VIP Shark
Assim que o show terminou, quando os atores ainda estavam agradecendo, a atriz, apresentadora e modelo Karina Bacchi se levantou de uma mesa na primeira fila e caminhou para a saída fazendo um vídeo-selfie dela com o filho, Enrico, no colo. Era seguida pelo marido, Amaury Nunes.
Já no camarim, onde crianças VIP esperavam para fazer fotos com Baby e Daddy, o pequeno Enrico mostrou-se impaciente com a demora. Para entretê-lo, Karina passou a referir-se à própria mãe como Grandma Shark e ao pai como Grandpa Shark. A representante da empresa que tem a licença para comercializar os produtos Shark disse: "Pode fazer fotos com eles (Baby, Daddy e Pifkong), viu Karina? Fica à vontade. E fica à vontade para filmar também!"
Fica à vontade é ótimo.
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