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Paulo Sampaio

"Fui eu que mandei o Jesus Luz para a Madonna", diz agente que lançou Cauã, Santoro e Hilbert

Paulo Sampaio

02/06/2017 08h00

No verão de 1990, pouco antes de completar 20 anos,  Márcio Garcia foi buscar a namorada Patrícia Augustose na agência de modelos para a qual ela trabalhava. Enquanto a aguardava na sala de espera, foi alvo do olhar implacável do caça talentos Sérgio Mattos. "Quem é você?", perguntou ele. "Eu sou o namorado da Patrícia." E Mattos: "Querido, para tudo! Vamo já pra praia fazer uma foto!"

Com Márcio Garcia em 1990, quando o ator era namorado da modelo Patericia Augutose (Arquivo Pessoal)

Feitas as imagens, logo Garcia estava posando em um editorial de moda com Claudia Abreu, que já era famosa. Rapidamente chegou aos estúdios da TV Globo, virou galã de novela e hoje, aos 47,  apresenta o "Tamanho Família".

Rodrigo Santoro adolescente, ao centro (Arquivo Pessoal)

Há 30 anos trabalhando no mercado da moda, Sérgio Mattos se orgulha de ter descoberto personagens hoje famosíssimos. Pulam de seu polifólio imagens da versão bebê de astros como Cauã Reymond, Rodrigo Santoro, Rodrigo Hilbert, Mateus Verdelho, Luciana Gimenez, Isabeli Fontana, Ana Beatriz Barros, Raica Oliveira e Rômulo Arantes Neto. Em três décadas, ele calcula ter lançado algo em torno dos 5 mil rostos — e corpos, no caso dos modelos de passarela.

Luciana Gimenez de sombra azul, bem antes de Mick Jagger aparecer na vida dela — ou ela na dele (Arquivo Pessoal)

Uma seleção de fotos das beldades que ele se orgulha de ter conhecido antes de todo mundo está nas paredes do Studio Galleria Sérgio Mattos, que ele inaugurou ontem em São Paulo. Depois de muita ponte-aérea, o carioca de 53 anos resolveu otimizar sua experiência e investiu em um espaço multimídia. "A gente vai oferecer aulas para modelos e atores, palestras, oficinas e exposições. É tipo uma 'casa do saber fashion"', ele define, comparando a galeria com a escola de elite paulistana que oferece cursos de arte, filosofia, cinema e história.

Rodrigo Hilbert em seus primórdios (Arquivo Pessoal)

Apesar de ter lançado para o estrelato e a fortuna muitas modelos — as de sucesso não raro chegam a fazer US$ 1 milhão por ano –, Mattos diz que ele mesmo nunca enriqueceu. "O problema é que eu me entrego a isso tudo por gosto. Eu vibro, torço para que essas meninas emplaquem. Sou do tipo paga book para modelo pobre, banca passagem de avião, adoto mesmo." Sua sócia no negócio é a advogada Lúcia Miranda, que no passado foi uma de suas new faces— como são chamados os novos rostos do mercado — mas deixou a carreira de modelo pelo Direito.

Mateus Verdelho, pré-tatuagens (Arquivo Pessoal)

Yes, Brazil

Antes de ser booker (agente de modelo), Sergio Mattos fez jornalismo e trabalhou como vendedor na loja Yes, Brazil, fundada em 1979 no Rio pelo estilista Simão Azulay. Na época, já enxergava promessas de new faces entre os clientes. Um tempo depois, quando o transferiram para trabalhar na loja de São Paulo, "foi uma festa!".  Ele mesmo acabou sendo "descoberto" pelo megaempresário John Casablancas, dono da Elite Models, uma das mais importantes agências da época — e a primeira internacional a ter escritório no Brasil. Casablancas o elegeu seu booker favorito. Aí, quem estourou foi ele.

Muito falante, Mattos saca da memória um sem número de histórias de bastidores. "O Jesus Luz fui eu que mandei pra Madonna", diz ele, rindo muito. Refere-se a um ensaio sensual feito para a revista inglesa "W" em 2009, quando a cantora passava pelo Rio com a turnê de Sticky & Sweet.  Luz engatou namoro com a popstar, aproveitou tudo o que podia da fama, ela idem, os dois estrelaram videoclipe juntos, fugiram dos paparazzi, ele virou DJ e até ator. O romance foi de 2009 a 2011.

O lutador Cauã Reymond, em 1997: "A primeira foto dele para um book." (Arquivo Pessoal)

Cauã Reymond era um lutador de jiu-jitsu patrocinado pela então bombada marca carioca Company, quando foi apresentado a ele pelo produtor Rogério S. Assim como fez com Márcio Garcia, Mattos levou Reymond imediatamente para a praia, seu estúdio natural. "Na época, não existia celular nem se imaginava que um dia a gente viria a fazer foto com o telefone. Eu ia com a minha própria câmara." Ele se orgulha de ter feito a primeira foto de Cauã como modelo, encostado no muro do canal do Jardim de Alah (que separa Ipanema do Leblon).

Em Ibiza, entre a vencedora do concurso The Look of The Year de 1994, a baiana Cláudia Menezes, e o segundo lugar, a gaúcha Gisele Bündchen (Arquivo Pessoal)

Gisele e Ibiza

Diz que conheceu Gisele Bündchen em 1994, quando ela foi finalista do festejadíssimo concurso The Look of the Year em Porto Alegre. Ele tira de uma pasta preta, grande, uma foto em que aparece entre Gisele e a baiana Claudia Menezes, em Ibiza, pouco depois da final mundial. "No Brasil, a Gisele ficou em segundo lugar, perdeu para a Claudia. Mas quando a gente foi para Ibiza, participar etapa da mundial, o Casablancas simplesmente pirou nela. Disse na época que ela era a primeira brasileira com potencial para supermodel." Gisele ficou em quarto lugar na competição internacional.

A premonição de Casablancas era justificada pelo quadril estreito, as pernas longas e a personalidade forte — também chamada de atitude na passarela — da modelo. "A Gisele era um bebezinho, tinha 13 anos, gostava de vôlei. Transmitia saúde, frescor, uma tendência que se seguiu ao heroin chic (como ficaram conhecidos em meados dos anos 1990 os editoriais de moda em que as modelos apareciam abatidas, com olheiras, uma alusão à heroína, a droga. Kate Moss tornou-se o maior emblema dessa fase). "O (estilista inglês Alexander) McQueen se encantou com a Gisele em 1996; um ano depois ela foi capa da 'Vogue América', e então, pronto!, ela não parou mais." Apesar de estar ao lado de GB na foto,  ele diz que não se atreve a dizer que a lançou: "É tanta gente disputando esse título…eu não quero entrar nisso."

Sérgio Mattos, em foto atual (Foto: Arquivo Pessoal)

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.