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Paulo Sampaio

Herdeiros do Hotel Maksoud Plaza brigam por causa de comida e roupa lavada

Paulo Sampaio

17/10/2017 08h00

Henry Maksoud Neto, no Maksoud Plaza, onde é o CEO: boicote ao tio (foto: Bruno Santos/Folhapress)

A acirrada pendenga que envolve os herdeiros do Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo, ganhou um novo e constrangedor capítulo. De acordo com o artista plástico Cláudio Maksoud, que há mais de 20 anos vive com a mulher nos apartamentos 1319 e 1321, os funcionários do hotel receberam ordem de não prestar mais qualquer tipo de serviço a eles. Claudio, que é filho do patriarca Henry Maksoud (1929-2014), diz que a determinação partiu de seu sobrinho, Henry Neto, atual administrador do hotel, para pressioná-los a sair dali.

"Ele ficou com raiva porque não conseguiu nos mandar embora por meios legais, e cortou tudo: comida no quarto, lavanderia, camareira, telefone, Internet", conta Claudio. "Até os garçons do restaurante estão impedidos de nos servir." Ainda segundo Cláudio, Henry Neto mandou instalar câmeras na entrada dos apartamentos 1319 e 1321 para monitorar a movimentação dos funcionários. "Ninguém pode sequer nos dirigir a palavra. Quem desobedecer à ordem será demitido sumariamente."

Maria Eduarda, mulher de Cláudio, diz que tem pedido comida nos restaurantes de fora, mas também encontra problemas: "Outro dia tentamos usar o delivery  do Almanara, eles barraram o entregador na recepção. O menino precisou nos ligar do celular, e tivemos de descer para achá-lo. Comemos tudo frio."

Reintegração de posse

Em 30 de maio deste ano, Henry Neto entrou com uma ação de reintegração de posse dos apartamentos onde Cláudio e a mulher estão hospedados; em 6 de julho, a juíza Paula da Rocha e Silva Formoso, da 16a. Vara Cível, estabeleceu um prazo de um mês para que o casal deixasse o hotel, sob pena de ser despejado.

O advogado deles, José de Arruda Silveira Filho, conseguiu uma liminar para que seus clientes permanecessem nos apartamentos.  Segundo Arruda, a juíza tinha entendido que o acordo que permitiu que Claudio morasse ali era um "comodato verbal". O advogado afirma que o próprio Henry Maksoud, pai de Claudio (morto em 2014), sugeriu ao filho que se hospedasse no hotel com a mulher. Para Arruda, não se pode chamar de "comodato verbal" uma conversa de pai pra filho. Ele lembra que seu cliente é herdeiro direto de Henry Maksoud, e que muito antes de Henry Neto nascer, ele já era.

 

Claudio Maksoud (foto: Divulgação)

Desobediência judicial

Na véspera do último feriado, Arruda encaminhou ao Tribunal de Justiça de São Paulo uma petição solicitando o restabelecimento imediato dos serviços que foram "abruptamente retirados" de seu cliente. No documento, protocolado na 38a. Câmara de Direito Privado, o advogado afirma que Henry está praticando "desobediência judicial" (por ignorar a liminar que dá a Cláudio o direito de permanecer no hotel).

Num tom indignado, o advogado afirma no texto que os hóspedes chegaram a enviar e-mails à gerência, às diretorias (presidência e executiva) e ao departamento jurídico do hotel, solicitando esclarecimentos sobre a suspensão dos serviços, "mas não obtiveram resposta alguma". Ainda no documento, Arruda declara que Henry Neto "ocupa o cargo de diretor presidente embasado em testamento cuja validade é contestada em juízo na ação anulatória número 1024953-80.2015.8.26.0100, por falsidade na assinatura do testador (Henry avô)".

Desde a morte de Henry Maksoud, os herdeiros vivem às turras. Henry Neto se juntou à segunda mulher do avô, Georgiana Maksoud, para reivindicar o controle do hotel. Os dois apresentam um documento assinado pelo patriarca pouco antes de morrer, outorgando tudo a eles. Cláudio e o irmão, Roberto, afirmam que a assinatura é falsa e lutam para anular o testamento.

 

Detalhe da câmera posicionada à frente do quarto de Claudio

Outro lado

Henry Neto alega, através de sua assessoria, que "o Senhor Cláudio Maksoud tem posse precária de duas unidades no hotel e tal situação de fato não se estende ao uso gratuito dos serviços de lavanderia, internet, TV a cabo, telefonia, massagens, heliponto, entre outros. Ele é devedor de R$ 1.566.908,05 referentes às duas unidades, sendo R$ 539.295,42 de room service de apenas uma delas e R$ 90.059,40 só de lavanderia."

José de Arruda Silveira Filho afirma que esses valores são estimativas aleatórias de Henry Neto e que nenhum deles foi determinado por condenação judicial. De acordo com Arruda, a única cobrança procedente seria a de R$ 19.817,90 referente a um período que vai de 14 de março a 8 de abril de 2014. E ainda assim, diz ele, coube recurso.

Vão central do prédio do hotel: desde que uma jovem se jogou do heliponto, em maio, a administração mandou instalar uma rede de proteção sobre o hall de entrada (foto: Bruno Santos/ Folhapress)

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.