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Paulo Sampaio

"Mil pessoas me idolatravam, um milhão me apedrejavam": ex-BBBs falam da vida depois do reality

Paulo Sampaio

17/04/2017 04h00

Jaki Leal: uma atriz em busca de oportunidade (Foto: Junior Lago/UOL)

Nas contas da ex-Big Brother Brasil Jackeline Leal, 27, que participou da 12ª temporada do reality-show, em 2012, o público não foi muito acolhedor quando ela saiu da casa. "Mil pessoas me idolatravam, 1 milhão me apedrejavam". Além de ter de administrar tal desproporção de amor e ódio, ela ainda precisou enfrentar a morte do noivo, vítima de um trágico acidente de automóvel ocorrido logo depois que ela terminou o relacionamento com ele. A mãe de Jaki passava por uma depressão profunda, e então ela mesma entrou num período particularmente melancólico.

A ex-BBB garante, contudo, que deu graças a Deus quando saiu da casa. "Eu sempre fui hiperativa, mas me fechei, com medo de mostrar a verdadeira Jaki Leal. E sofri muita rejeição. Ouvi coisas como: 'Vamos tirar essa baiana daqui!"'

O blog conversou com três ex-participantes do BBB, para saber o que aconteceu em suas vidas depois da experiência no reality show.  Jaki saiu na segunda semana. Douglas Ferreira, 31, participante da 15ª temporada, foi o segundo eliminado; e Serginho Orgastic, 28, da 10ª, quase chegou à final: ficou em quarto lugar. "Fui o paredão menos votado da história. Eu era o queridinho da turma", acredita.

Jakeline e Pedro Bial ao ser eliminada do BBB 12 (Foto: Frederico Rozário/TV Globo)

Toda nudez será castigada

Depois de seis meses em Feira de Santana, Jaki Leal migrou para São Paulo para tentar realizar um sonho de infância. "Sempre quis ser atriz. As pessoas ficam dizendo que eu me aproveitei da exposição no programa para tentar a carreira artística, mas foi o contrário. Entrei no programa porque achava que estaria mais próxima de uma oportunidade."

Antes do BBB, apesar do talento inato para a arte-dramática, Jaki cursou zootecnia em Feira de Santana. Como assim? "Meu pai não me deixaria ir pra Salvador sozinha". Anos depois, o mesmo pai a levou a São Paulo para posar nua para a capa da revista Sexy. Antes de fazer as fotos, lembra Jaki, "meu santo amarrou". "Eu olhei pro alto e disse: 'Jesus, fala comigo'. Abri a Bíblia, caiu em Mateus, num capítulo que dizia: 'Não deixes que teus próximos a vejam sem seus trajes'. Eu ajoelhei e chorei."

Atriz minimalista

De lá pra cá, ela investiu na carreira de atriz, "a ponto de ficar pendurada no banco": "Só o curso do Wolf (Maia) custa R$ 1 mil por mês, durante três anos". Diz que perdeu o timing para tentar algo na Globo. "Teria de ser logo que eu saí da casa. Pior é que tem tanta gente sem talento (na TV)… Eu sei quem é Stanislavski, sei o método Brecht, sei atuar!" Ela olha para o fotógrafo e explica como se deve fazer uma cena de "indignação": "Os atores berram, se acabam. Basta dizer (olhando nos olhos do fotógrafo, com expressão "contida"): 'Não acredito. O que você está fazendo aqui?' Entendeu?".

Muito versátil, a verdadeira Jaki Leal cursou também veterinária ("parei porque não aguentava ver sangue, ter de fazer eutanásia nos bichos, nossa, muita sofrência"); aprendeu a fazer reiki animal; envolveu-se com pole dance (vai participar de um campeonato); estudou yoga e virou instrutora.  Não namora há três anos: "Acho que quebrei muito a cara com gente que eu acreditava estar apaixonada por mim, e só queria entrar de graça na balada com a ex-BBB", diz ela, dentro um vestido prateado de lantejoulas "comprado no Brás" e escarpins vermelhos. "No Brás tem as coisa mais lindas, amigo", ensina ela.

Douglas Ferreira: ele reclama da má fama e do racismo no reality

Elas usam, ele usa

Por sua vez, Douglas, ou Doug, achou ótimo "ser usado" quando saiu da casa. "Comi mulheres que dificilmente olhariam pra mim se eu não tivesse feito BBB", afirma. Ele conta que quando as garotas diziam: "Eu quero entrar na casa, me ajuda, você deve ter muitos contatos", ele afirmava "Milhões", só para ficar com elas. "Elas me usam? Eu uso elas", explica.

Um dos motivos que o fez deixar tão cedo o BBB foi contar que já havia agredido uma mulher. "Eu tinha 17 anos! Era moleque! A garota me chamou de tudo o que você pode imaginar, apagou um cigarro no meu braço e guspiu whisky na minha cara. Uma hora eu perdi a cabeça. Só que, do lado de fora da casa, a imprensa tirou do contexto, me chamou de espancador de mulheres." Ele diz que foi muito "xizado" quando saiu.  Fala muito em racismo. "Tomei banho pelado, isso contou ponto negativo para eu sair. Os brancos que tomam banho pelados ficam. Para o Diego, do BBB 14, o banho pelado rendeu três semanas a mais.  Todo mundo da minha edição foi chamado para posar no Paparazzo [site de ensaios sensuais], menos os três negros. Por que nunca um negro ganhou o BBB, em 17 edições? Você não acha estranho? ".

Douglas: desde a participação no BBB15 ele recorre o descolorante (Foto: Paulo Belote/TV Globo)

Bial pai, Leifert irmão

Apesar de ter se dado mal afirmando que agrediu uma mulher, Doug se mantém trafegando em piso escorregadio.  Ele reprova o comportamento de Marcos na última temporada – criticado pela violência com que tratou Emilly, a ganhadora – mas acredita que Emilly também foi violenta com Marcos. "Ela apontou o dedo no nariz dele e o chamou de frouxo." Doug diz que preferia ter tido Tiago Leifert apresentando a sua temporada. "O Pedro Bial é pai. O Leifert é mais irmão, entende?".  Na época em que participou do reality ele era motoboy. Diz que hoje faz "a mesma coisa que antes". "Tenho uma empresa de motoboys e sou ator." Está cursando psicologia e pretende lançar um blog de moda. Muito falante, ele veste bermudão, camiseta, jaqueta branca e cabelos moicanos descoloridos.

Serginho Orgastic: "ícone dos emos" e ex-bbb

Ícone dos emos

Aparentemente, o mais leve dos três entrevistados é Serginho Orgastic. Ele afirma que o BBB foi "a melhor experiência" de sua vida. "Claro que, quando a gente sai, tem os interesseiros que se aproximam para entrar nos lugares de graça. Mas meu bem, eu sou raposa velha. Muito antes de entrar no reality as pessoas já me pediam autógrafo. Eu era o ícone dos emos, famoso no fotolog! E host de balada desde os 16 anos!"

Ele se orgulha de nunca ter precisado assistir ao BBB para participar do programa, nem produzir vídeo – apenas se submeter aos testes psicológicos. "Amigo, você conhece algum ex-BBB que sete anos depois de sair da casa é convidado para fazer eventos em shopping e acontece isso (ele mostra no celular o vídeo com uma multidão esticando o braço fanaticamente na direção de quem filma: ele). É claro que os cachês não são os mesmos, não sou hipócrita. Mas eu consigo ganhar até mais do que ex-BBBs da última temporada!"

Serginho em momento "confessionário" durante sua participação no BBB 10 (Foto: Frederico Rozário/TV Globo)

Garfo na boca

Diz que adora o assédio público, mas, em certas situações, prefere não ser reconhecido. "Você está comendo em um shopping, e a pessoa fica olhando para a sua cara fixamente, enquanto você enfia o garfo na boca. Não, né? Ponho os óculos de sol." Serginho Orgastic acredita que óculos de sol são suficientes para camuflar um estilo que ele define como "andrógino".

No dia da entrevista, no Boteco do Massay – bar de frequência gay nos Jardins, zona oeste de São Paulo – ele está de saia preta, jaqueta militar com botões dourados e bota de veludo até o joelho. Usa lentes de contato verdes, aplique loiro e unhas cor de uva.  Bolsa "chanel" bege ("Comprei em Roma, não sei dizer se é legítima"). Diz que essa androginia é "muito comum em Londres e no Japão". "Eu gosto de me mostrar pelo visual. Sou muito complexo."

Luciana Gimenez

Serginho, que agora é sócio em um hotel fazenda, conta que o BBB foi importante para aproximá-lo ainda mais de seu pai. "Ele é advogado, de família careta, mas sempre me aceitou. Depois da casa, passou a me achar o máximo", garante.  "Foi inclusive na Ana Maria Braga e na Luciana Gimenez dar entrevista."

Pessoalmente, na rua, ele  diz que só recebe carinho. Não sofre bullying. Mas nas redes sociais, frequentemente é destratado: "Adivinha por quem? Pelos próprios gays! O maior preconceito vem de dentro da classe LGBT! Eles dizem coisas horríveis. Os héteros me tratam com o maior respeito."

Em um relacionamento sério há um ano e oito meses, ele conta que seu parceiro era casado com uma mulher e tem dois filhos. Serginho estica o dedo anular da mão direita, mostra uma aliança e afirma que não é fácil ter um namorado que o assuma – não por causa de seu "espírito lúdico", mas de sua rotina. "Minha vida é uma loucura, viajo muito, estou sempre em eventos, a pessoa que fica comigo precisa entender." Ao fim, quando posa para fotos, ele entreabre a jaqueta militar negra e muito justa e mostra a tatuagem gigante de um escaravelho, com um "olho da providência": "Quando eu estou dormindo, ele fica aberto, tomando conta de mim."

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.