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Paulo Sampaio

Dono de galeria na 25 de Março, em SP, cantor milionário faz boneco de si para receber fãs nos shows

Paulo Sampaio

07/06/2017 08h00

Desde que descobriu que gostava de cantar, aos 50 anos, o milionário paulistano Reinaldo Kherlakian, 62, não cansa de declarar ao mundo sua paixão pelo palco. Ultimamente, num arroubo de criatividade, mandou fazer um boneco réplica dele mesmo, em silicone, para ajudá-lo a receber o público nas casas noturnas em que se apresenta. "Olha que maravilha", diz ele, enquanto mostra a obra de arte acondicionada em um nicho no hall de sua casa. "Mandei colocar um motor, e agora as mãos dele se mexem, para cumprimentar as pessoas, e os cabelos voam."

Reinaldo e o boneco (Foto: Paulo Sampaio/UOL)

Esculpido em tamanho real, o boneco Reinaldo é obra de um artista plástico cujo nome o cantor prefere não divulgar. "Você não imagina o trabalho que deu. Sabe quando você está no dentista, e ele coloca aquele molde na sua boca? Então: só que nesse caso eles puseram uma touca de borracha na minha cabeça, com dois canudinhos iguais aos do McDonald's no nariz, e depois despejaram uma massa em cima… foi muito louco. As mãos, você viu? São perfeitas. Os cabelos são naturais." Os do cantor estão cortados na altura dos ombros e tonalizados — de vez em quando ele os ajeita, deixando à mostra pedras grandes de brilhantes nas orelhas.

Nesses 12 anos de carreira, Reinaldo Kherlakian nunca mediu esforços para impressionar seu público. Toda vez que faz um show, leva seu Rolls Royce branco 1960 para a porta da casa de espetáculos e estaciona ao lado de um micro-ônibus equipado com telas de TV de LED que transmitem trechos de apresentações anteriores. A partir do próximo espetáculo, marcado para agosto, o boneco vai se juntar a esse aparato. Dinheiro não é problema: "Fiz um patrimônio bacana, em ordem", explica ele, que é dono da lendária Galeria Pagé, na região da Rua 25 de Março, área de comércio popular no centro de São Paulo. No passado, a galeria chegou a ser fechada por policiais do DEIC (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) e fiscais da Secretaria Estadual da Fazenda, em uma operação que apreendeu mais de 50 mil produtos piratas e contrabandeados.

Paletó de Swarovski

Em cena, o cantor sempre veste paletós customizados, que mandou fazer especialmente para usar nos shows. Ele mostra a coleção de cerca de dez modelos estendida em cima da cama de um dos quartos da casa de 800 m² em que mora sozinho, no Morumbi, zona oeste de São Paulo. Toda a cama brilha. "O molde é do Ricardo Almeida, e o acabamento é feito com Swarovski. São 72 mil cristais (por paletó). A bordadeira leva dois meses para colocar as peças, uma por uma", diz o cantor, com um tom de voz suave, impostado, que faz ressaltar ainda mais a luminosidade de suas ideias. "Gosto de causar burburinho."

Os ternos em cima da cama, em um dos quartos da casa de 800 m2 (Foto: Paulo Sampaio/UOL)

Casado há cinco anos com a cantora Adele Zarzur, 50, Kherlakian não mora com ela, mas não está sozinho. Vivem no terreno de 4 mil m² de sua casa um tigre, dez minicavalos, alguns bois e uma vaquinha. A zebra morreu. Ele diz que os bichos trazem problemas com a vizinhança: "Sinceramente, eu prefiro cheiro de animal do que de poluição", compara.

No estúdio de montado em uma das salas (Foto: Paulo Sampaio/UOL)

A vontade de cantar surgiu em Nova York, onde Kherlakian mantém um "apartamento muito confortável": "Adoro o Chelsea", diz. Ele conta como foi a descoberta do talento recôndito: "Eu estava lá em dezembro, puta frio, nevando, aí entrei em um barzinho em que cabiam no máximo 30 pessoas. Não era karaokê, mas tinha um microfone. Eu peguei, fui brincar. Nem me lembro o que cantei. Só sei que de repente, um cara me deu 1 dólar; daqui a pouco, outro. Aquilo me envaideceu, claro."

No dia seguinte, Kherlakian foi assistir ao musical "Jersey Boys", que conta a história do cantor Frankie Valli e sua turma. Ao final, insistiu para falar com o preparador vocal dos atores. "Veio um japonês gigantesco, e olha que eu sou grande, mas o cara batia aqui ó (mostra com a mão, para cima). Parecia um lutador de sumô. Tinha uma cabeça enorme, um pescoço largo, um bafo, coisa horrorosa." Apesar do susto, o principiante iniciou o vocalise. Na volta ao Brasil, passou a fazer aulas: "Me cerquei dos melhores profissionais", conta.

O primeiro show foi em casa, para os amigos. Hoje, ele mantém um público restrito, mas fiel.  Seu repertório é incerto ("Depende do meu estado de espírito"), mas em geral inclui clássicos como "My Way" (Paul Anka); "Sous le Ciel de Paris" (Edith Piaf); "Champagne" (Pepino di Capri) e "Sentimental" (Altemar Dura). "Já ouviu 'Sentimental'?", ele pergunta, em tom de desafio. "Mas não em ritmo de tango."

Voar, voar, subir, subir

Sondado na semana passada sobre a possibilidade de dar uma entrevista para o blog, Kherlakian retornou a mensagem tarde da noite na sexta-feira. No sábado, ele iria para Ilhabela, no litoral de São Paulo, pilotando o próprio helicóptero. E no domingo, para o Chelsea, na primeira classe de um voo de carreira. Voar é uma paixão. Em seu site, lê-se: "Subir ao palco, para Reinaldo Kherlakian, é como voar. Piloto de helicóptero, o cantor liga os dois momentos pelo elo da coragem (…)  o medo só acontece para quem não está preparado (…)  você precisa saber o que acontece lá em cima, tanto no palco quanto no céu. Sabendo disso, se torna mais fácil administrar os riscos."

Ainda sobre riscos, o cantor revela que quem o encorajou a caprichar no visual do show foi ninguém menos do que Lady Gaga. Ele conheceu a cantora norte-americana por intermédio de um amigo de sua mulher. "Ela me disse: 'Presta atenção, Reinaldo: as pessoas ouvem o que elas vêem."' Kherlakian saiu do encontro intrigado: "Fingi que entendi." Só à noite "caiu a ficha"."Falei: 'Putz, Adele, claro! Ela quis dizer que não basta cantar, é preciso ter uma produção muito bem cuidada."'

Inspirado em Lady Gaga, Reinaldo foi até mais longe do que ela — não necessariamente na mesma direção. Quando entendeu que era preciso se apresentar com um figurino aparatoso, brilho e luzes, seus voos no palco tornaram-se cada vez mais destemidos.  "Hoje, 30 pessoas trabalham na preparação de um show, fora os músicos", diz.  Desafortunadamente, a intérprete de Alejandro e Bad Romance ainda não teve oportunidade de assisti-lo.

Com Lady Gaga, a musa inspiradora, em Nova York (Foto: Arquivo Pessoal)

De qualquer maneira, se por acaso Lady Gaga não ouvisse o que visse, ou não visse o que ouvisse, não seria um grande problema. Kherlakian garante que não liga para a opinião dos outros ("Se ligasse, não faria nada"). Bom. Mas ele reage mal quando ouve que seus críticos o consideram "cafona". "Cafona é você tentar ser aquilo que não é. Eu sou autêntico. É daí que vem a arte. Eu sou um criador. Se não tivesse Reinaldo Kherlakian, quem ia criar tudo isso?" De fato.

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.