Campeonato gay de queimada completa primeiro aniversário no Largo da Batata
O advogado sergipano Igor Dantas Melo, 27, autoproclamado "maravilhoso na queimada", conta que na pré-adolescência foi campeão nos Jogos das Escolas Particulares de Sergipe.
"Checa isso!", sugere alguém por perto, com uma piscada malévola. O objetivo do jogo é acertar a bola no adversário. O time que queimar mais gente ganha.
Ontem se comemorou o primeiro aniversário da Gaymada paulista, campeonato informal que um grupo da comunidade LGBT promove todos os meses no Largo da Batata, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. A ideia surgiu quando um dos organizadores participou em 2015 da modalidade mineira. "Na volta de Belo Horizonte, resolvi promover a Gaymada aqui. Convoquei as pessoas pelo Facebook, a gente inscreveu o evento no coletivo 'A Batata Precisa de Você' e fomos muito bem recebidos na região. O pessoal do (boteco) Sabor Brasil (que fica em frente) emprestou umas cadeiras, a gente compra cerveja deles, ficamos super-parceiros", conta o jornalista Lucas Galdino, 22.
É o Tchan!
O jogo é disputado em uma quadra delimitada no chão da praça com riscas de giz. "A gente conta 77 quadradinhos no comprimento, e 12 quadradinhos na largura", explica Galdino, apontando para as lajotas que revestem o piso. A bola, semi-cheia, é pequena e amarela. "Joga viado!", grita um participante na quadra, e em seguida desvia do lance com um passo de axé. As caixas de som emitem "Carrinho de Mão", do grupo Terra Samba. Tocam também Rihanna, É o Tchan, Lady Gaga. Para dar uma dimensão da importância do evento, o editor de fotografia Victor Pereira, 29, comenta que em uma das edições se gravou o clipe do cantor transexual Shanawaara Hara de Figueiredo.
Todas as Idades
Os organizadores informam que há participantes de todas as idades, mas quem tem mais de 50 percebe que eles se referem a todas as idades abaixo de 30. O universitário Denis Lima, 20, apoia a unha grande e vermelha do dedo indicador no lábio inferior, enquanto pensa desde quando frequenta a Gaymada. O gesto soa exagerado, já que a resposta é simples: desde o primeiro jogo. "Hoje eu estou falando muito com as mãos", reconhece ele, que posou para foto segurando a bola.
Brincadeira Linguística
No teto da barraca instalada em frente a quadra, há uma caixa que solta bolhas de sabão; o juiz coordena a partida ali em frente, com um mini megafone cor de rosa. Se por um lado o encontro celebra a diversidade, por outro, explica Galdino, o próprio nome acabou "dando uma afastada" nas lésbicas: "A palavra 'gay' na brincadeira linguística (do nome do evento) costuma ser usada para se referir aos homens", explica.
Para reparar a "gafe", criaram um anexo da Gaymada chamado PPKa Foot (lê-se Pepeca Foot), uma partida de futebol disputada pelas meninas em uma quadra contígua. "Resolvemos compensar a falta de representatividade feminina", diz a assistente de direção Leka Peres, 30. "Hoje não teve jogo, por falta de quórum."
Jogo de Viado
Começa então um rápido debate sobre a relação entre o estereótipo de comportamento masculino e feminino, e a preferência esportiva: "Pra mim, jogos que se disputam com o pé, tipo futebol, são de homem; com a mão, como vôlei, de mulher ou viado. No meu time de queimada só tinha gay", lembra o campeão sergipano Igor Dantas Melo. Leka concorda em termos: "Eu sempre gostei de futebol. Mas tá cheio de sapatão jogando vôlei."
No fim, o publicitário Bruno Kawagoe, 24, um dos principais responsáveis pela sobrevivência da Gaymada, fala da satisfação de comemorar um ano: "Eu acho fantástico a gente estar ocupando o espaço público durante o sábado. Antes, a galera LGBT ficava ostracisada dentro da balada!"
Brigadeiros confeitados, vara (vela) e o parabéns na versão de Xuxa.
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