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Paulo Sampaio

Após perder 40 quilos, paulistana se torna pin up e participa de concurso em SP

Paulo Sampaio

12/06/2017 13h38

Uma candidata lésbica faz poses sensuais, enquanto sua mulher a fotografa antes que ela se apresente em um concurso que elegerá a pin up mais bem caracterizada da noite. O termo em inglês está associado a fotografias, desenhos e ilustrações de mulheres femininas, curvilíneas e provocantes, em geral vestidas com pouca roupa. A mais emblemática representante do gênero, nos anos 1940, foi a atriz norte-americana Betty Grabel. O concurso foi promovido por um pub no Itaim Bibi, zona oeste de São Paulo.

Paula Renata com a namorada, Alaíne (Foto: Marilia Jacobson/Divulgação)

"A saia é em 'A', evasê", diz Paula Renata, 23 anos, que estuda moda e é cabeleireira. Inscrita no concurso com o nome de Miss Black Divine, ela conta que produziu o modelo tomara que caia que está usando com um tecido africano colorido chamado capulana. Negra, brejeira, olhos vivos e sorriso encantador, Paula vive há dois anos com a estudante de psicologia Alaíne Santana, 25. Quando me referi a ela como "gay", Miss Black Divine pediu: "Você pode colocar lésbica?" Sem problema.

Paula Renata, a Miss Black Divine, pegou a segunda colocação (Foto: Marília Jacobson/ Divulgação)

Viva a diversidade

Assim como a maior parte das participantes do concurso, Miss Black Divine mostrou de maneira divertida que ali todas as mulheres podem se apresentar como são. Acima do peso, abaixo, jovem, madura, pequena, grandona, com celulite, sem, lisa, tatuada. Nem precisava usar o termo empoderamento, mas quem pode evitar? A cada nova candidata que subia o palco, lá vinha o clichê.

A modelo Bruna Carramaschi, 23, abre uma capa e mostra um corpo enxuto, de 42 kg (para 1,60 m), em um maiô preto e branco: "Eu estou fora do padrão. As candidatas em geral são mais cheinhas", diz, sem lamentar. Há um ano, antes de se submeter a uma cirurgia de redução do estômago, ela pesava 40 quilos a mais: tinha "obesidade grau 2", o que não a impediria de participar do concurso. O importante ali é a atitude. Com cabelos descoloridos, batom carmim e unhas de porcelana vermelhas, ela explica que faz o gênero "burlesco".

Ironia do destino: ex-obesa mórbida, a candidata Bruna Carramaschi acredita que agora está fora do peso de uma pin up, por estar muito magra (Foto: Marilia Jacobson/Divulgação)

Bruna antes da cirurgia (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)

O pub é pequeno, tem mesas altas e está cheio. Além das 20 concorrentes, há muitas pin ups espalhadas no salão.

"Machão não entende"

Num pequeno palco, há números de dançarinas que não participam do concurso, mas seguem a mesma linha das candidatas. Uma delas, Sweetie Bird, que está longe de ter o quadril de 90 cm que se exige das modelos de passarela, surge no palco de Carmem Miranda e enfeitiça o público com um remelexo que balança tudo. Muito sexy, ela termina praticamente pelada — não fosse por adesivos nos seios e na região pubiana.

Sweetie Birg, a Carmem Miranda, praticamente livre da fantasia (Foto: Marilia Jacobson)

A plateia é composta por outras pin ups, homens que se identificam com o estilo rockabilly, dos anos 1950, e gays — um deles está vestido de mulher. Na opinião da concorrente carioca Natasha Medeiros, 40, o homem heterossexual não "entende" toda a produção da pin up — por maior que seja o apelo da sensualidade: "Imagina. O machão não tem humor para isso. Diz logo (se a intenção é sexo) 'tira essa porra'."

Natasha Medeiros veio do Rio para participar do concurso (Foto: Marilia Jacobson/Divulgação)

O primeiro lugar foi para Sarah Amethyst. Miss Black Divine pegou a segunda colocação. Entre os prêmios, as "mulheres de verdade" ganharam roupas de uma loja que alude a guloseimas, a Dona do Doce.

Prêmios: Dona do Doce (Foto Marília Jacobson/Divulgação)

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.