Meninas da alta sociedade fazem aula de dança sensual para requebrar como Anitta e Rihanna
São quase 20h de uma quinta-feira em São Paulo, e as baladas ainda não começaram, mas a jovem, linda e rica Sofia Derani, 25 anos, está pronta para rebolar até o chão. De legging, moletom e tênis, ela aguarda na fila para entrar em uma casa noturna chamada Beco, onde um grupo grande de mulheres toma aulas de twerk. Trata-se de uma dança que "foca no quadril", abusa de movimentos pélvicos e exige um certo aquecimento para ser executada. Tornou-se muito famosa quando divas do pop norte-americano como Beyoncé, Rihanna e Miley Cyrus a incluíram na coreografia de seus clipes. Anitta foi no embalo.
Com a fachada pintada de preto, o acabamento propositalmente rústico e uma portinha lateral, o Beco integra o corredor de clubes que hoje compõe o chamado Baixo Augusta. Até poucos anos atrás, aquela região era frequentada majoritariamente por garotas de programa. Elas se ofereciam na rua e também nos inferninhos que, com a recente especulação imobiliária, sofreram adaptações para virar baladas. "Recebi uma educação religiosa, rígida, repressora, e por isso tinha dificuldade de me soltar", diz Sofia, que perdeu a vergonha.
Idealizado pela empresária Mariana Eva Leis, idade não revelada, o projeto Club Workout é semanal. Cada aula de twerk custa R$ 25, leva uma hora e reúne de 50 a 100 alunas — o que é bastante, quando se leva em conta uma classe do gênero nas academias. Apesar do preço módico, muitas das frequentadoras são tão jovens, lindas e ricas quanto Sofia. "Aqui está lotado de meninas que chegam de motorista e passam férias em Ibiza e Saint Tropez. Essas meninas não têm um lugar onde possam rebolar até o chão, sacudir o corpo à vontade, brincar. Elas são julgadas o tempo todo", afirma Mari.
No Beco, que tem 400 metros quadrados, ela mantém a atmosfera de balada, com salão cheio, som alto e luzes piscantes. O encantamento de Mari com o formato das aulas em casas noturnas aconteceu quando passou uma temporada em Nova York: "A primeira vez em que estive em um lugar desses, pensei: 'Como assim?"'. Atriz e dançarina, ela voltou dos Estados Unidos com a ideia fixa de montar algo naqueles moldes em São Paulo. "Faltava escolher a dança. Queria algo pop. O twerk tinha a ver com o funk, com o Brasil, e estava em alta."
Aulas particulares
Enquanto entrega o cartão black para o pagamento, na porta, Sofia diz que sai das aulas se sentindo segura de si, empoderada, "mais mulher": "Sei rebolar, sei dançar, sei deixar um homem louco!", gargalha. Ela tomou tanto gosto pelo twerk que arregimentou quatro amigas para aprender a dança em aulas particulares com a professora Mia Oroni, 28, a mesma do Workout. Todas as terças-feiras, cada uma paga R$ 40 para sensualizar na casa de uma delas.
As moças comemoram os bons resultados: "Todos os namorados nos agradecem por fazermos essas aulas", dizem, rindo muito. Além de Sofia, a precursora, que já faz aulas na Beco há um ano, o grupo é composto pela empresária Luiza Ciasca, 26; a economista Carolina Guedes, 26; as universitárias Marília Zurita, 22, e Estella Defant, 24, que estudam arquitetura e administração na Fundação Armando Álvaro Penteado (Faap). "Tudo farinha do mesmo saco", diz Sofia, referindo-se ao elevado padrão sócio-econômico do grupo.
O aquecimento é com hip hop. As alunas inclinam o tronco para a frente, esticam os braços até a ponta dos pés, voltam, encolhem os ombros, soltam. Apesar de a temperatura ter baixado consideravelmente naquele dia, e os termômetros marcarem 8 graus na rua, as moças começam a se sentir aquecidas na sala de ginástica do prédio de "arquitetura neoclássica" onde mora Sofia. Aos poucos, elas se desfazem dos agasalhos e ficam apenas de legging e top.
Mia as orienta a empinar o quadril, girar, encaixar. Elas embalam ao som da trilha de black music. Flexionam as pernas abertas, abaixam com as mãos nos joelhos, rodam o pescoço; rabos de cavalo voam pra lá e pra cá. Mia diz (num crescendo): "Um, dois, três; (mais rápido): um, dois, três; (mais ainda): um, dois, três". Tremedeira ritmada de glúteos. Entre uma música e outra, Sofia oferece garrafinhas de água Bonafont. A professora explica que nas aulas particulares ensina a técnica. "Aí, na balada de quinta, elas se soltam à vontade", diz.
Bate cabelo
A maior parte das moças ali não possuía noção de dança, até se dedicar ao twerk. "Por ser alta, não tenho muita desenvoltura", acredita Marília Zurita, 1,76m, pela alva, blush discreto. "Mas agora não preciso mais beber antes das aulas de quinta-feira". Luiza Ciasca diz que melhorou muito com as lições particulares. "De repente, você tá fazendo o quadradinho de oito sem perceber", diz ela, referindo-se à coreografia do grupo carioca de funkeiras Bonde das Maravilhas.
As cinco reafirmam a teoria de Mari Leis, segundo a qual o ambiente delas é mais moralista: "Hoje, as pessoas do nosso círculo social começaram a relaxar, mas o DJ só coloca funk, por exemplo, no final do casamento", conta Luiza. "Odeio música de playboy", diz Sofia. "Nas minhas festas, não espero ninguém ficar bêbado para tocar hip hop". Estella afirma que sempre se sentiu "travada"e precisava de algum aditivo para se soltar: "Agora, já chego batendo cabelo", conta ela.
No fim, a conversa desemboca em revelações inesperadas. Estella diz que é cantora de ópera: "Dei uma 'stoppada' (do verbo em inglês to stop, parar) porque estou focando no TCC", explica. Ela conta que se mantém solteira desde que terminou um relacionamento com o zagueiro Lyanco, que jogava pelo São Paulo e agora está no Torino. Sofia revela que está fazendo curso de tiro. "São quatro horas de aula", explica. "Fiz o teste para tirar o CR (certificado de tiro outorgado pelo Ministério do Exército), e disparei dez tiros em 40 segundos; só um ficou entre a marcação (de alvo) 9 e 10. Acertei 90%." No caso das aulas de tiro, que são ministradas na Avenida São João, centro de São Paulo, nenhuma amiga a acompanha: "Procurei o curso porque acho importante saber atirar", diz Sofia, que acumula ainda o posto de líder da nova geração de patronos do Museu de Arte de São Paulo (Masp). No dia anterior, ela convidou um grupo de amigos para acompanhar uma visita guiada pela exposição de obras do pintor pós-impressionista Toulouse Lautrec (1864-1901).
Depois do twerk, três das cinco meninas se encaminham para um culto evangélico. Já na calçada do prédio, Sofia, Marilia e Estella acionam o uber para levá-las até uma Igreja Batista Deus é Fiel. Mais uma vez, foi Sofia quem catequizou as amigas…
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.