"Fui a primeira a usar Botox no Brasil", diz empresária Cristiana Arcangeli
A empresária Cristiana Arcangeli, idade não revelada, fica indignada quando alguém pergunta se ela submeteu seus lábios a preenchimentos. Passa a procurar freneticamente no celular uma foto dela mais jovem, para provar que sua boca é a mesma. Até ali, se porta como um modelo de empresária bem resolvida. Voz clara, olhar seguro, gestos suaves. Mas então, seu humor dá uma rateada: "Tanta coisa legal para falar de mim, dos cosméticos inovadores que eu criei, dos 25 prêmios que eu ganhei como empreendedora, do meu trabalho na moda, do Phytoervas Fashion, dos programas no rádio, na TV, sabe? Acho tão fútil ficar focando na minha boca."
Ao mesmo tempo, afirma que usará toda a tecnologia disponível para combater as marcas do tempo. "Se você treina diariamente, como eu, e está em boa forma física, precisa cuidar do rosto para não ficar desconectado do corpo. A gente tem de fazer pequenos procedimentos a vida toda", ensina. Por mais fútil que o assunto possa parecer, a entrevistada há de convir que a conversa com alguém que vive em tempo integral de beleza tem de ter isso como espinha dorsal.
Ela concorda. Afirma que não teria tido tanto sucesso nos negócios, se o cuidado com o corpo e o rosto não fosse "de verdade". "Uma mulher que vende beleza não pode falar da boca pra fora, tem de acreditar naquilo. Caso contrário, o discurso não se sustenta." Ela dá um exemplo: "Quando resolvi fabricar xampu, fui atrás de uma fórmula ideal para o meu próprio cabelo. Chamei uma química e expliquei o que queria." O xampu era sem sal. "Não havia nada assim no mercado", garante. "Depois, fabricamos um orgânico." Também algo inédito. E que xampu Cristiana Arcangeli usa? Nenhum dos dois. Prefere o da marca francesa Kerastase.
Soluções mágicas
Apesar de nunca ter feito curso de marketing, Cristiana possui um inegável talento para atrair consumidoras dispostas a comprar soluções mágicas. O xampu sem sal não foi a única ideia, digamos, sinestésica que lhe ocorreu. Ultimamente, ela lançou uma pipoca com colágeno. Pense bem: pra quê ficar se submetendo a injeções da substância, que podem ser dolorosas, se dá para obter o mesmo resultado comendo – e sem engordar (a empresária afirma que o produto não tem açúcar, sal nem gordura)?
Os críticos de Cristiana dizem que suas ideias são um tanto fantasiosas, mas alguém liga pra isso? Antes da pipoca, ela já tinha colocado no mercado o chocolate com colágeno. Chocolate com gosto de chocolate. Ainda por cima, com uma dose razoável de proteína. Três gramas, diz ela (em 20g = porção). Ideal para ser consumido, por exemplo, depois do treino. Não é uma delícia acreditar?
O discurso sai redondinho: "O colágeno é a proteína mais encontrada no corpo. Está nos ossos, nos músculos, cartilagens, pele, articulação, em todo lugar. A partir dos 30 anos, a gente perde 1,5% de colágeno ao ano. Você pode repor comendo carne, peixe, alga, mas não é suficiente." E então, vem a imagem épica, definitiva: "Se você comer uma vaca inteira não vai absorver 2g de colágeno. A eficácia é comprovada." Mais uma vez, ninguém no mundo tinha pensado nisso antes. Nossa entrevistada reconhece que, "como boa pisciana", tem muita facilidade para sonhar. Tem também uma excepcional capacidade de seduzir o interlocutor, a ponto de fazê-lo embarcar na viagem dela.
Muito desenvolta, ela participou de alguns programas na TV, entre eles o reality-show "O Aprendiz" (2010-11), que propunha tarefas envolvendo negócios e era comandado na época por João Dória Jr.; comandou ainda uma versão social do norte-americano "Extreme Makeover" (2010), no qual ela acompanhava o processo de reconstrução de creches para abrigar crianças em regiões carentes; e, mais recentemente, participou do "Shark Tank Brasil" (2016-17): ela era um dos tubarões que analisava as ideias de negócios de um grupo de empreendedores. No rádio, ela apresenta há 15 anos o programa "Manual", em que dá dicas de moda, beleza, saúde "e muito mais". Juntado todas as redes sociais, a empresária tem mais de 1 milhão de seguidores, com quem ela diz interagir pessoalmente. "Se eu me disponho a estar lá, a linguagem tem de ser minha", afirma.
Por do sol
Cristiana veste uma camisa azul petróleo colocada parcialmente para dentro da calça preta, deixando à mostra o fecho do cinto com a letra H. Alta, 1.70m, magra, 57kg, ela está de sapatos de salto e caminha com a elegância de uma garça pela sala de reuniões de seu escritório, situado no 12º andar de um prédio no Itaim-Bibi, zona oeste de São Paulo. Vai até a janela, de onde se descortina uma incrível vista do Jardim América, bairro ocupado majoritariamente por casas de alto padrão, incluindo a dela, que tem 1,8 mil m2: "Você não sabe o que é o por do sol daqui."
Oferece um café, que ela mesma prepara na máquina. Fala da situação do Brasil, acredita que "o modelo de político que vem sendo desmascarado pela Operação Lava Jato está em extinção." "É como o Orkut, não volta mais. O que a gente precisa é de gestor." Cita o prefeito João Dória Jr, diz que votou nele e tece uma série de elogios ao amigo que conheceu quando participou de "O Aprendiz". Assim como Dória, ela acredita especialmente na iniciativa privada. Pergunta: "Quem produz dinheiro e cria emprego em um país?" Responde: "As empresas." Coerente. A pisciana sonhadora fala como se fosse possível extinguir de um dia para o outro o presidencialismo de coalizão praticado no Brasil.
Bicho difícil
Profissionalmente , ela se define uma empresária em constante transformação. "A gente tem de estar sempre se reinventando", diz ela, usando um verbo que precisa ser reinventado. Conta que reformulou completamente o modelo de negócio em sua empresa, a Beauty'in, considerada em 2014 uma das quinze mais inovadoras do Brasil. "Agora, a gestão é menos hierárquica e cada funcionário tem de ser um colaborador. Espera-se que ele traga novas parcerias, ideias, licenciamentos, conceitos." Cristiana afirma que prefere trabalhar com homens: "Mulher é um bicho difícil, competitivo. Homem não tem essa necessidade de ficar se provando."
A entrevista está próxima do fim, e ela ainda parece amuada com o assunto do preenchimento dos lábios. Não adianta dizer que o resultado não a deixou pior, apenas diferente. "Estou me sentindo um monstro", exagera. Antes de chegarmos ao malfadado preenchimento, Cristiana havia respondido numa boa sobre cirurgias plásticas e procedimentos. "Fui a primeira pessoa a usar Botox no Brasil. Tinha 30 anos. Quando ouvi falar disso, comecei a pesquisar, estudei muito e procurei um dermatologista. Pedi que aplicasse em mim."
Depois, conta, colocou silicone nos seios, operou duas vezes as pálpebras e fez implante de fios de colágeno para dar sustentação à pele do rosto (pipoca dói menos). Nega ter mexido no nariz: "Estou tomando coragem para fazer a cirurgia. Acho que vai ser no começo do ano que vem." Em uma entrevista anterior, ela afirmou que já o havia operado duas vezes. E então, bingo!, surge uma possível justificativa para a questão do preenchimento na boca. "É que fiz capinhas nos dentes, e elas puxaram os lábios para frente." Claro, é isso.
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