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Paulo Sampaio

O noivo ogro foi de rosa pra fazer surpresa, conta assessora de casamento

Paulo Sampaio

28/10/2017 08h00

Uma amiga especialista em maquiagem de noivas me diz que sua cliente foi procurada por uma agência que disponibilizava daminhas (de honra). A noiva disse que não estava interessada, agradeceu e  desligou o telefone.

Eu já estive em alguns "eventos voltados para o casamento", e aprendi coisas incríveis com as assessoras das noivas. Por exemplo, que "não adianta decorar a igreja com orquídea e servir coxinha"; que um bem-casado pode custar R$ 20 (calculam-se três para cada convidado); que tem noiva que termina o relacionamento mas não cancela a festa, para não ter de pagar a multa por rompimento de contrato: prefere esperar para ver se reata com o noivo ou se aparece outro até o "grande dia"; que a emoção dos preparativos é tamanha que, quando finalmente a noiva "realiza seu sonho", mergulha na chamada "depressão pós casamento"; ou vira "noiva para sempre" e não para mais de falar no assunto.

Tudo isso já me parecia suficiente para dimensionar o "sonho". Mas aluguel de daminhas?

Acionei o meu banco de fontes para saber das "assessoras de casamento" se era comum. Elas se consultaram, dispararam mensagens para seus grupos, ninguém tinha ouvido falar desse serviço. Em compensação, quase todas respondiam: "Aluguel de daminhas, não. Mas tem muita coisa engraçada."

Tipo o quê?

Depois de conversar com as assessoras Tatiana Bandeira de Melo, Tamara Barbosa, Cristiane Zuccoli e Patrícia Cardoso, selecionei alguns momentos "engraçados". As fotos são do arquivo de Tatiana.

Noivo ogro, terno rosa

"O noivo era mecânico, meio ogro, e resolveu fazer uma surpresa para a noiva. Como tinha visto que ela escolheu tudo cor-de-rosa, flores, decoração, embalagens dos docinhos, ele resolveu aparecer com um terno combinando. Quando ela viu, não queria entrar na igreja de jeito nenhum. Por sorte, entendeu que era uma brincadeira (mesmo não sendo), entrou, casou e depois da cerimônia ele trocou o terno por um azul Tiffany…"

Noivo ogro faz surpresa pra noiva e aparece de terno rosa; ela se recusa a entrar na igreja, mas acaba entrando (Foto/Divulgação)

O noivo, depois de trocar o terno pelo azul Tiffany (Foto: divulgação)

Figuração por falta de quórum

"Os noivos não eram muito populares. Chatos mesmo. Distribuíram 300 convites, receberam apenas 150 confirmações. Para o salão não ficar vazio, ele me pediu que convidasse uns casais de amigos meus. No fim, a festa foi incrível, meus amigos se divertiram horrores, me perguntam até hoje quando será a próxima."

Salva pela daminha

"A noiva comprou o vestido na China, não sabia que com a luz da filmadora ficaria transparente, e colocou uma calcinha amarela. Foi perceber na igreja, quando eu dei um toque. Como ela não queria entrar sem calcinha, e não tinha outra reserva, o jeito foi dar um gato no vestido da daminha e fazer um saiote para colocar por baixo."

Perda total

"Muito retraída, tímida, careta, a noiva pediu um gole de vinho para relaxar antes da cerimônia. Só que as amigas continuaram empurrando bebida nela, para vê-la bêbada. A coitada saiu da festa de maca, na ambulância do Samu, depois de vomitar o banheiro todo. O embarque para a lua-de-mel estava marcado para o dia seguinte, ela fez até lavagem estomacal, foi direto do hospital para o aeroporto. Os pais levaram a mala. Noiva bêbada é quase um clichê."

Bebedeira: problema recorrente (Foto: Arquivo Pessal/Tatiana Bandeira de Mello)

Guerra e Paz

"O casamento foi na paróquia do Sagrado Coração de Jesus, que é linda, em Santa Cecília (região central de São Paulo). Só que naquele dia a polícia resolveu dar uma incerta na Cracolândia, que ficava na rua de trás, e foi um horror. Parecia que havia uma guerra do lado de fora da igreja. Bomba estourando, gente correndo, pânico, gritaria. A noiva, que já era muito medrosa, pedia ao motorista para dar voltas na região e evitar a porta da igreja. A mãe da daminha a perdeu de vista, e começou a chorar desesperada, achando que os walking dead tinham levado a menina. No fim, o casamento aconteceu no meio dessa barulheira toda, os convidados olhando para a porta. Mas os dois estão casados até hoje."

O gringo e a feijuca

"O noivo era irlandês, e o levaram para comer feijoada no dia do casamento. Na hora da cerimônia, ele teve uma diarréia violenta e não deu tempo de chegar ao banheiro. Pediu discretamente para usar a sala da noiva, mas não saía mais de lá. Um dos meus assistentes foi ver o que estava acontecendo, pegou o irlandês lavando até a meia na pia do banheiro."

Segura a doida

"Era o segundo casamento do noivo, e não convidaram a irmã dele porque ela não concordava. Tinha alguma coisa a ver com herança de família. Mesmo assim ela foi, chegou um pouco antes dos convidados e fez um escândalo na rua. Jogou pedra na janela do bufê, disse que ia acabar com eles, um inferno. Chamaram a polícia, levaram a mulher para casa."

Teste do penteado na esteira

"É normal a noiva dar uma surtada em determinado momento. Mais cedo ou mais tarde, acontece, a gente até avisa antes. Tive uma que fez o teste de maquiagem e foi para a esteira para ver se o cabelo ia aguentar a cerimônia. Pior é que resistiu, e ela saiu satisfeita… A gente fica rezando."

Carregada no brilho

"A noiva me pediu para fazer a assessoria só no dia da festa, e conversou ela mesma com alguns fornecedores. A princípio, estava em dúvida entre chamar uma escola de samba e alugar uma carruagem. Só tinha dinheiro para um dos dois. Como o casamento era de dia, em um sítio, com um churrasco, eu achei que escola de samba ia ficar demais. Sugeri a carruagem. Não imaginei a 'surpresa' que ela resolveu fazer para os convidados. No dia da festa, chegou em um vestido cheio de brilho, em uma carruagem rosa, com um buquê rosa nas mãos. Não dá pra dizer o que chamava mais atenção. Para um casamento durante o dia, em um lugar aberto, era 'over'. Mas ela estava feliz, e isso é o que importa."

Noiva 'over': muito brilho para um casamento durante o dia

Noivo no Tinder

"Antes de entrar na igreja o noivo me deu o celular, porque estava fazendo volume no bolso do paletó. Só que o aparelho não parava de vibrar. Uma hora, atendi, achando que fosse uma emergência. Expliquei que ele não podia falar porque estava se casando. Uma voz feminina do outro lado disse: 'Como assim, casando?? Pois pode dizer para a noiva que eu conheci o noivo dela no Tinder, na semana passada, que desde então a gente tem se falado todo dia e eu agora estou esperando por ele em um bar!' Eu, como assessora, me vi na obrigação de contar para o noivo. Ele ficou apavorado, pediu para desligar o telefone que depois ele resolvia. No fim, encheu a cara, nem lembrava mais."

Safadinho

"Além dos detalhes de protocolo da cerimônia, a assessora precisa saber lidar com imprevistos. Por exemplo, o noivo que pegou uma das suas produtoras um dia antes do casamento.  Apesar de trabalhar na organização, a produtora não conhecia o noivo. Me perguntou: 'O que eu faço?' Eu disse: 'Vai já pra casa."'

"E quando o noivo pergunta: 'E aí assessora, não vai ter despedida de solteiro não?"'

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.