Empresário acusado de matar mulher em SP vai a júri popular 15 anos depois
Está marcado para quarta-feira, 8 de novembro, o começo do julgamento do empresário Sergio Nahas, acusado de matar a mulher no dia 14 de setembro de 2002, com um tiro. A bala ricocheteou na coluna vertebral de Fernanda Orfali e atingiu seu coração. Ela tinha, então, 28 anos. Nahas, 38.
Naquele dia, Fernanda teria confrontado o marido com informações acerca do relacionamento dele com travestis, de quem comprava cocaína. Os dois tiveram uma violenta discussão que evoluiu para a tragédia, no quarto do casal. De acordo com a mãe de Fernanda, Nadir, a filha recuou até o closet, onde tentou se trancar para proteger-se do avanço descontrolado do marido. A essa altura, ele já estava munido com uma das armas que mantinha ilegalmente em casa. Ela morreu na hora.
Os dois estavam casados havia menos de um ano. A cerimônia, realizada em 8 de março de 2002, reuniu cerca de 250 pessoas na Igreja Ortodoxa da Vila Mariana, zona sul de São Paulo. Por coincidência, comemorava-se naquela data o Dia Internacional da Mulher.
Segundo a mãe de Fernanda, um mês depois do casamento Sérgio contou à mulher que era viciado em cocaína — mas estava lutando para livrar-se da droga. Ela pensou em deixá-lo. Nadir diz que a aconselhou a ficar, "salvar uma vida". "Na ocasião, o pai de Sérgio providenciou um psiquiatra para acompanhá-lo no período de abstinência, e outro para ajudar Fernanda a conviver com um marido viciado", lembra.
A polícia confirmou o tráfico da droga. Os investigadores encontraram nos extratos bancários da travesti Katryna, a parceira mais frequente de Sérgio, e de conhecidas dela, cheques assinados por ele em valores próximos dos R$ 3 mil.
Elementos periciais contundentes
A advogada do acusado, Dora Cavalcanti, ex-sócia do criminalista Márcio Thomaz Bastos (1935-2014), ministro da Justiça entre 2003 e 2007, sustentou que Fernanda teria se matado depois de um longo período de depressão. "Ela tem histórico da doença, sempre frequentou psiquiatras", disse. A família Orfali afirma que a caçula de quatro irmãos jamais foi a um psiquiatra até se casar. "A Nanda era a pessoa mais alegre da casa. Fazia brincadeira de tudo, era uma criança grande. Não consigo nem imaginá-la tentando se matar", diz Julio Orfali, irmão da vítima.
O promotor Fernando Bolque afirma que vai basear a acusação em "elementos periciais contundentes que estão no processo".
O crime completa 15 anos sem que o único suspeito de matar Fernanda tenha passado mais de dois meses na cadeia. A defesa lançou mão de todos os recursos possíveis, a maioria inadmitidos por serem considerados protelatórios. Julio Orfali esteve em Brasília para falar pessoalmente com um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), pedir que o caso fosse julgado. O processo ainda subiria ao Supremo Tribunal Federal (STF) com um pedido de exclusão de uma qualificadora, numa tentativa de conseguir o reconhecimento da prescrição — mas o ministro José Antônio Dias Toffoli indeferiu. Finalmente, marcou-se o júri para os dias 8, 9 e 10 de novembro.
O julgamento será no plenário 9 do 1º Tribunal do Júri, na Barra Funda, região oeste de São Paulo. A sessão será presidida pelo juiz Luiz Felipe Vizoto Gomes.
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