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Paulo Sampaio

Sem saldo na conta "oficial", Maksoud Plaza recebe em empresa "secreta"

Paulo Sampaio

07/04/2018 04h00

Este é o terceiro post de uma série iniciada na terça-feira

O atual presidente do hotel Maksoud Plaza, Henry Maksoud Neto, tem se revelado um empresário ousado. Reportagem publicada pelo blog anteriormente mostra que Neto comprou um terço da herança de Henry Maksoud "avô" com dinheiro do próprio Maksoud Plaza. Isso foi possível graças a uma empresa criada para movimentar praticamente todo o faturamento do hotel. Assim, o cheque com o qual pagou a parcela inicial não é de uma conta pessoal, mas da tal empresa.

(Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

De acordo com sua ficha cadastral, a Portillo foi fundada em 2010 pelos advogados Bruno Sales da Silva e Thiago Antônio Dias, que investiram, cada um, R$ 500. O capital societário é o mesmo até hoje. Tanto Sales quanto Dias estão ligados ao advogado Marcio Casado, que trabalha para Henry Maksoud Neto e para Georgina Maksoud, viúva e inventariante do espólio do fundador do hotel. Assim como Casado, Dias figura como testemunha no testamento assinado por Henry Maksoud, cuja legitimidade é contestada na Justiça.

Em junho de 2014, Thiago Dias saiu da sociedade; entrou o advogado Leandro Cury Pinheiro, com outros R$ 500. Pinheiro trabalha no escritório de Casado. Apesar de ter esses dois sócios, a Portillo é administrada, por procuração, pelo próprio Henry Maksoud, com a colaboração de funcionários do hotel. O endereço da empresa é a entrada de serviço do Maksoud Plaza (Alameda Ribeirão Preto, 401).

 

 

A Portillo tem mil e uma utilidades. Serve, por exemplo, como já foi publicado pelo blog, para desviar a atenção dos credores de dívidas trabalhistas, tributárias (federais, estaduais e municipais), bancárias, civis e comerciais. Quando a Justiça procura dinheiro na conta do hotel, cujo faturamento em 2016 foi R$ 55 milhões, não encontra um tostão.

A história de Fábio Bersan Rocha ilustra bem isso. Lutando há quase 20 anos em um processo trabalhista contra uma empresa do grupo Maksoud, Rocha reclamava um valor superior a R$ 700 mil, que se referia principalmente a horas extras. A Justiça não encontrava o dinheiro, até que Rocha se hospedou no Maksoud Plaza e, ao pagar a conta, verificou que o CNPJ do recibo do hotel não batia com o da via do cartão de crédito.

Para transferir valores do hotel para a Portillo, Henry Neto usaria ainda outra uma estratégia. A de enviar uma correspondência aos clientes correntistas informando que o montante da fatura deve ser depositado na conta da Portillo — como consta do boleto bancário. Assim, uma empresa que tem o capital de R$ 1 mil movimentaria perto de R$ 55 milhões.

Correspondência de Henry Maksoud aos clientes

Procurado pelo blog, Henry Maksoud Neto disse que não se pronunciaria.

 

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.