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Paulo Sampaio

Criado em novembro, grupo virtual 'Bolsolteiros' tem mais de 5 mil membros

Paulo Sampaio

01/05/2019 04h00

O garçom põe na mesa um prato cheio de batatas fritas cobertas com queijo, bacon e molho runch.  Do alto, escorre uma espécie de estalactite amarelada, que os comensais desfazem com as mãos e colocam aos punhados na boca. Aos olhos dos guardiães da correção política, o prato só não seria mais extravagante do que a conversa entre os seis integrantes do grupo virtual de relacionamento 'bolsolteiros', fundado em novembro do ano passado e frequentado atualmente por 5.600 solteiros que votaram no presidente Jair Bolsonaro.

"Eu abomino o feminismo", diz advogada Carolina Lopes, 40 anos, solteira, sem filhos. "Pra mim, o homem tem que ser provedor, a mulher, cuidadora. Ela gera vida, é mais fraca. Acho até que se deve buscar a igualdade entre os gêneros, mas apenas em termos de direitos civis. Nós já temos uma proteção especial da sociedade, dentro do que nos cabe: licença maternidade, Lei Maria da Penha etc."

O "Bolsolteiros Oficial" foi criado pela assistente social carioca Elaine Albuquerque, 43 anos, solteira, um filho de 5. Ela conta: "Um dia, eu estava em um grupo pró-Bolsonaro do facebook, e tive a ideia de criar um de solteiros. Fiz uma enquete em fevereiro , xx anos Os seis entrevistados pelo blog compõem a vertente paulista do grupo, chamada de bolsolteiros VPR (Vem para a Real — um apelo para sair do virtual), composta por 1 mil membros. Pelas contas deles, 70% são mulheres, 30%, homens.

A dada altura, de "brincadeira", os homens chamam as mulheres de 60+ de "papel crepão", referência à pele enrugada; por sua vez, as mulheres dizem que sentem "saudade do tempo em que os pedreiros assoviavam quando a gente passava". Todos riem. "Qual o ponto em comum entre nós?", pergunta para a reportagem o empresário Rodrigo Arisa, 42 anos, três ex-mulheres e três filhos. Ele mesmo responde: "O humor". "O grupo paulista é mais livre para se manEntre os predicados que dispõe para atrair 'bolsolteiras', Arisa destaca o "cavalheirismo" e "pegada": "Elas gostam disso", garante.

inclui no "cavalheirismo"

Mas, entre as regras, está  proibição de falar em política: "Há divergências entre

 

Pelas contas dos seis entrevistados, que compõem a vertente paulista do grupo, a proporção entre homens e mulheres é 70% a 30%.

firma que as mulheres do grupo são independentes, boas profissionais e articuladas, e que, ainda assim, não usam o termo "empoderamento". "Não existe essa necessidade de afirmação entende?" Para o analista de sistemas Luciano Evaristo Guerche, 47, "o empoderamento leva a mulher a se colocar tanto que o homem fica acuado." A advogada Carolina Lopes, 40 anos, separada, sem filhos, prefere que o homem tome a iniciativa, inclusive para chamar a mulher para a conversa no inbox: "O homem é provedor, a mulher, cuidadora", acha.

Carolina despreza o "Eu já ouvi história de homem que saiu com mulher feminista e quis pagar a conta, ela começou a gritar na mesa."

 

Da esq. para a dir., Juliana, Carolina, Rodrigo, Luciano e Ana; ao centro, a montanha de batatas fritas coberta por queijo e bacon (Foto: Paulo Sampaio/UOL)

Carolina e os outros cinco entrevistados fazem parte da vertente paulista dos bolsolteiros, que já conta com mais de 1 mil integrantes. Ela acredita que, ao declarar sua opinião, pode provocar reações virulentas em parte dos leitores deste post, mas diz que não pretende mudar seu ponto de vista: "Dá saudade dos anos 1980, quando a gente podia brincar com tudo, sem ficar se policiando. Sinto até falta dos pedreiros assoviando quando a gente passava."

As duas outras mulheres presentes à mesa, a terapeuta Juliana Lemos, 39 anos, divorciada, um filho de 7, e a empresária Ana Hidalgo, 39, solteira (perdeu o noivo em um acidente), pensam do mesmo jeito. No grupo, por exemplo, elas acham que quem deve tomar a iniciativa da conversa é o homem: "

Os homens e três mulheres ali reunidos fazem parte da vertente paulista do grupo, que foi criada em janeiro e já possui 1 mil integrantes da vertente paulista do grupo, os três homens e três mulheres ali reunidos reconhecem que podem receber comentários odiosos quando o post for publicados. Especialmente as mulheres: "Eu abomino o feminismo", diz, com firmeza, a advogada Carolina Lopes, 40. "

Para fazer parte do grupo, é necessário, a princípio, ter  votado no presidente Jair Bolsonaro.

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Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.