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Paulo Sampaio

Torcedor rifa entrada de Flamengo x Grêmio para tratar cão com câncer

Paulo Sampaio

08/10/2019 04h00

O cão vira-lata do flamenguista carioca Danilo Mello, 32 anos, acaba de submeter seu dono a uma espécie de teste máximo do amor incondicional. Diagnosticado com câncer na mandíbula, o animal levou Mello a rifar o ingresso que havia comprado para assistir ao jogo contra o Grêmio, na semifinal da Taça Libertadores, dia 23 de outubro. "Voltamos do veterinário malucos com os valores do tratamento. Pensei em vender o único bem que eu tenho, um Fox 1.0 2010, mas um amigo me disse que não valeria a pena porque não está quitado, e ainda tem o IPVA deste ano e as multas", lembra o torcedor, que é ator e está desempregado.

Descartada a hipótese de se desfazer do carro, ele pensou: "O que eu tenho de mais valioso?" A resposta pipocou rápido em sua mente: o ingresso para o jogo. Como sócio-torcedor do clube, Mello tem oportunidade de garantir a entrada com antecedência, por um valor mais em conta. "Já são mais de 150 mil sócios, e eles disponibilizam vários planos. O meu é o básico."  No caso, ele e os três amigos que o acompanham em todas as partidas, "desde que o Flamengo era um time ruim",  pagaram módicos R$ 80. Porém, ele lembra que agora os ingressos estão esgotados: "Quando abriram, já havia mais de 50 mil vendidos. É um jogo histórico, que as pessoas estão esperando há 35 anos." O ingresso em um camarote "muito VIP" pode chegar a R$ 2,1 mil.

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Amor do cão: "Danilo com Doze" (Foto: Arquivo Pessoal)

Duzentos amigos

O resultado da biópsia de Doze saiu na segunda-feira passada, por coincidência na semana em que se comemora o Dia Mundial dos Animais (4 de outubro). A princípio, o tratamento ficaria em R$ 7 mil. São oito sessões de quimioterapia e 4 de radio, só administráveis em uma clínica oncológica na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Mello e a namorada, a publicitária Renata Ragi, 31, pensaram em promover uma vaquinha entre amigos. Eles calcularam: "Eu tenho uns 100 amigos, você também. Se cada um deles der R$ 30, já seria metade do que a gente precisa".

Vascaína desde criança, como o irmão, Renata disse que no primeiro apelo que mandou aos amigos para a vaquinha fez "uma brincadeira para aliviar a dor" ("Pelo Doze, eu viro flamenguista"), e quase arrumou briga feia: "Alguns vascaínos ficaram ofendidos, tive que me retratar. Expliquei que sempre fui Vasco, não tinha como fingir que era Flamengo, quem me conhece saberia."

No entanto, Renata confessa que há sete anos, desde que começou a namorar Mello, torce pelo Flamengo "porque quando o time ganha ele fica feliz".

Danilo, Renata e Doze. Ela chegou a dizer: "Pelo Doze, eu viro Flamenguista", mas voltou atrás (Foto: Arquivo Pessoal)

Sorteio dia 18

A dada altura, sugeriram ao casal que fizesse uma vaquinha virtual. Eles acharam a ideia boa, mas não esperavam que chegariam aos R$ 7 mil. No desespero, Mello lançou mão do ingresso e informou aos colaboradores que o rifará em 18 de outubro, cinco dias antes do jogo. O ator se impressionou com a resposta a sua iniciativa: "São 114 pessoas até agora, e já temos mais de R$ 9 mil", disse ele, ontem.

Porém, a notícia boa foi sucedida por outra nem tanto. Ao levar Doze para a primeira sessão de quimioterapia, o casal ouviu do veterinário que o cão está com outro caroço, agora no pescoço: "Pelo que ele disse, pode ser que a doença tenha se espalhado. O Doze tem um pouco de sangue de Sharpei, uma raça que tende a sofrer de câncer. O difícil é tomar as decisões sobre o que fazer. A gente não quer perdê-lo, mas também não vamos submetê-lo a um sofrimento insuportável."

"Coisa do destino"

O nome do cão faz referência ao dia em que Mello e Renata se conheceram, 12 de dezembro de 2012. Doze tem 5 anos e mora com eles desde bebê. "Foi coisa do destino. Eu tinha pegado carona com a amiga de uma amiga, em uma viagem de fim de semana, e comentei com ela que queria um cachorro. Só que, na ocasião, eu e a Renata dividíamos um apartamento minúsculo com um amigo, não daria de jeito nenhum", lembra o ator. Renata: "Apesar de amaaaar cachorro, já ter tido quatro, a gente não contava com uma renda fixa, eu era estagiária, não havia a menor condição."

Entretanto, a tal amiga da amiga mandou para Danilo na segunda-feira o anúncio da adoção de Doze no facebook. Danilo encaminhou a foto para Renata. "Foi amor à primeira vista", lembra ela. "Eu estava no estágio, fiquei muito nervosa, liguei para ele e perguntei: 'O que a gente vai fazer?"'. Segundo Renata, Danilo "deu uma desconversada", enquanto ela "tentava ser racional". Não adiantou: "Dois dias depois, quando eu cheguei em casa, ele estava com o Doze no colo, tipo Simba.  É inesquecível!"

Foto publicada no anúncio oferecendo adoção de Doze: "Foi amor à primeira vista"

Medo grande

O casal já suspeitava da doença de Doze: "Existia um medo grande, mas você nunca está preparado para uma notícia dessas", diz Renata. "Eu tentava me acalmar, dizendo  que vira-latas não costumam ter problemas assim. Meu primeiro cachorro, o Apollo, viveu 16 anos, morreu na velhice. Era o que eu esperava do Doze. O resultado da biópsia foi assustador." O tumor é "extremamente agressivo", diz ela. Está no grau 3 de 3.

Segundo Mello, Doze reagiu com valentia à primeira quimio: "Como bom vira-lata, ele não está com enjoo nem passando mal'. O que me preocupa é o lado Sharpei dele", diz.

A quem estiver interessado na recuperação de Doze, ou em assistir ao jogo Flamengo e Grêmio, o link da vaquinha/rifa é http://vaka.me/743847.

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.