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Nova sociedade coreana em SP deixa a submissão de lado e se define: somos despojadas

Paulo Sampaio

13/03/2017 04h01

Durante um almoço com quatro enriquecidas representantes da nova sociedade coreana em São Paulo, na última quinta-feira (9), o blog aprendeu que: 1) "pouca gente come cachorro na Coreia: é raro, muito caro, seria como comer jacaré"; 2) "o coreano é muito escrachado: elegante, mesmo, no oriente, só o japonês, que é educado, gentil, dá informação na rua e pede desculpa o tempo todo"; 3) "nós não copiamos nada, quem copia tudo são os chineses: até arroz lá é falsificado!"

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O almoço foi no restaurante Seok Jeong, um dos mais tradicionais da colônia, no Bom Retiro, região que antes concentrava grande parte da comunidade judaica em São Paulo. "Nós fizemos o mesmo caminho dos judeus. Nos instalamos aqui e agora estamos subindo em direção a Santa Cecília, Higienópolis, Bela Vista, Perdizes. A gente trabalhava pra eles, do mesmo jeito que os bolivianos trabalham para nós. Dizem que nós os exploramos, mas eles estão em São Paulo porque a vida aqui é muito melhor do que na Bolívia", diz "Mônica" Ji-Ae Kang, 34, empresária do ramo de confecção.

Morana Cho, Mônica Ju Kang, Sumi Lee e Lídia Yun: para elas, elegantes mesmo são os japoneses.

Ela e Lídia Yun, 42, que trabalha com importação, passam a maior parte do tempo "pesquisando moda" pelo mundo. Não é copiando. "O coreano é muito criativo. Você está confundindo com o chinês. Eles, sim, são novos ricos, deslumbrados, sem classe. Te vendem bolsa falsificada chupando osso de galinha." Lídia frequenta a China há dez anos, tempo suficiente para perceber que "eles imitam o coreano em tudo". "As chinesas querem ter até o rosto igual ao da gente. As companhias de turismo de lá vendem pacotes completos para quem quer fazer cirurgia plástica na Coreia. Incluem médico, hospital, traslado e passeios turísticos. Você não sabe a quantidade de chinesa que a gente vê naqueles sightseeing com a cabeça enfaixada. Elas não precisam nem falar coreano."

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A coreana é bastante emperiquitada. São as próprias que dizem. "Minhas amigas brasileiras me acham chiquérrima", diz Mônica. E o que seria "chiquérrima"? Tem algum correspondente entre as jovens socialites paulistanas? "A gente não tá falando da Lalá Rudge. Ela é cafona, se veste como uma senhora. Nós somos mais despojadas, entendeu? Camiseta furada, short…" É. Mas a bolsa (grande) de uma é Chanel, a de outra (idem) Balenciaga.

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O almoço está servido. Os pratos principais são o Dol Sot Bi Bim Bap (espécie de risoto coreano feito com arroz oriental, carne e vegetais misturados); o Bul Go Gui (carne cortada em pedaços finos, grelhada em uma chapa e coberta de cebola); o Bu Xing Gueh (panqueca); o Kim Chi (bem popular, uma verdura que se parece com acelga, que vem com um molho apimentado). Pergunto se os coreanos costumam comer cachorro. "Não é assim. Tem status de iguaria, é um prato a que poucas pessoas têm acesso", diz a empresária de moda feminina Sumi Lee, 37. "Tem cheiro de carne de bode, mas os homens dizem que é afrodisíaco como sopa de mocotó", explica Morana Cho, 47, cujo nome se tornou referência graças a uma rede de lojas de bijuterias. O restaurante não é exatamente sofisticado, mas elas explicam que a colônia toda frequenta. Dão um exemplo: a duas mesas da nossa está almoçando uma das mulheres mais poderosas da comunidade, a "hit". Hit, na verdade, é o nome da confecção da tal mulher. Elas contam que é comum os coreanos se tratarem assim: "a irmã do Bazzar", "a Tuart", a "Hit", a "Morana"etc.

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De acordo com as quatro, a geração anterior a delas era bastante submissa. "Mas isso mudou completamente", garantem. Os relatos nem sempre confirmam a tese. Sumi Lee, por exemplo, conta que passou pela experiência de um "casamento arranjado": "Namoramos seis meses, para ver se dava certo. Na verdade, não havia muita opção. Casamos. Tivemos dois filhos, passamos oito anos juntos, eu fui traída até dizer chega." Mas Sumi não deixou o marido – porque ele a deixou antes: "Fiquei arrasada, mas em seis meses vi que minha vida tinha melhorado muito." Morana diz que só se separaria do marido no dia em que sua mãe e sua sogra morressem. "Essa possibilidade [da separação] não existe." Mônica Ju-Ae Kang está casada há 16 anos com o mesmo marido. "Engravidei aos 16 anos, solteira, foi um escândalo na colônia. Mas assumi e me casei." Lídia aparenta ser a mais independente do grupo. Se bem que Sumi agora namora um português. "Chega de coreano!"

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Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.