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Lady Francisco diz que foi estuprada por diretor da Globo

Paulo Sampaio

06/04/2017 04h00

A atriz Lady Francisco, 82 (Foto: Divulgação/TV Globo)

A atriz Lady Francisco, 82 anos, afirma que foi vítima de dois estupros, um deles cometido por um diretor da TV Globo, há quase 50 anos. Ele a havia chamado para conversar sobre trabalho e a levou para um lugar distante. "Eu tinha acabado de chegar de Minas, era bobinha, ingênua", conta.

Lady não revela o nome do diretor, mas afirma que ele está "vivinho da silva". Na entrevista abaixo, a atriz comenta ainda a denúncia de assédio feita pela figurinista da Globo, Susllem Tonani, contra o ator José Mayer. "Tenho muito orgulho de ver o quanto a mulher evoluiu na defesa da própria dignidade. No meu tempo, a gente era estuprada e tinha de ficar quieta; hoje, um assédio repercute de tal maneira que o agressor tem de reconhecer publicamente que errou."

Blog: Você foi assediada na Globo?

Lady: Não foi assédio, foi estupro.

Blog: Mas antes houve um assédio…

Lady: Ele disse que queria conversar comigo sobre trabalho. Eu tinha acabado de chegar no Rio, de Minas, era bobinha, ingênua, sonhava com uma oportunidade. Acreditei nele. Nunca vou me esquecer a situação. Ele me levou para um lugar distante, de carro. A casa não era grande, tinha uma entrada lateral, e só quando me vi fechada no quarto com ele entendi do que se tratava.

Blog: Não tentou reagir?

Lady: O que eu ia fazer, gritar? Ninguém ouviria. E eu fiquei tão horrorizada que não consegui ter reação nenhuma. Senti um misto de pavor, nojo e humilhação.

Blog: Por que você não o denunciou?

Lady: Naquela época? Quem acreditaria em mim? Iam dizer: "Essa aí, mal chegou e já está aprontando". Mas hoje eu faria um escândalo.

Blog: Então, por que não diz quem é ele?

Lady: Isso foi há muitos e muitos anos. Não disse na época, não vou dizer agora. Mas pode ficar tranquilo. Quando ele morrer, se for antes de mim, todo mundo vai saber quem é, porque eu vou estar vestida à caráter, bem ao lado do caixão. Quero ter certeza que o desgraçado está morto.

Blog: Você o encontrou de novo?

Lady: Muitas vezes. Inclusive na televisão. Mas ele nem lembrava de mim. Eu não era ninguém, não existia. Se lembrava, me ignorou. Continuou sendo o canalha que sempre foi.

Blog: Você acompanhou o caso da figurinista Susslem Tonani, que acusou o ator José Mayer de assediá-la?

Lady: Sim, tenho lido a respeito, vi na TV. Faria a mesma coisa que ela. E pegaria um megafone pra todo mundo saber. Acho até que ela demorou…

Blog: Você conhece o José Mayer?

Lady: Conheço, é mineiro como eu. Ótimo ator. Mas não dá, né?

Blog:  Há quem reconsidere o abuso porque ele reconheceu que errou.

Lady: É, quer dizer, ele deve ter sido orientado a escrever aquela carta.  Tá na cara que foi uma estratégia de defesa. O que eu achei absurdo foi ele dizer que confundiu ficção e realidade. Se fosse assim, eu ia ser puta o resto da vida. O que eu mais fiz na vida foi papel de puta.

Blog: Você acredita que o seu caso e o de Susslem Tonani dão indicações de que há mais assédio na TV do que se imagina?

Lady: Certamente. Não só lá. Mas olha, eu vou dizer: se eu ouço um assobio na rua, fico orgulhosa. Se me chamam de gostosa também. E não é porque eu tô velha. Sempre gostei. O que eu acho sacanagem é a pessoa jogar com você, te manipular. E a abordagem violenta, o estupro mesmo.

Blog: A figurinista diz que, além de assediar com palavras, José Mayer pegou na genitália dela…

Lady: Um horror. E chamou de vaca. Mas aí eu não me sentiria ofendida porque sou a maior protetora dos animais. Adoro bicho. Tenho três cachorros, dois gatos, uma maritaca, um papagaio e um urubu.

Blog: Quais as consequências do estupro pra você?

Lady: Nunca mais eu fui a mesma pessoa. Me tornei agressiva, comecei a falar palavrão, passei a ficar na defensiva. Eu já não era muito de sexo. Nunca tive um orgasmo. O curioso é que eu era um símbolo sexual, ficava nua no palco numa boa, mas no quarto, com os homens, tinha a maior dificuldade.

Blog: Você foi estuprada duas vezes..

Lady: Sim, mas na outra foram marginais assumidos, não disfarçados de diretor de TV. Eu estava chegando na locação de um comercial, de táxi, e eles me pegaram à força. Eram quatro. O porteiro do prédio em frente me enrolou em um cobertor e me ajudou a sair dali. Um mês depois, eu estava grávida. Abortei com o coração em frangalhos.

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Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.