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Em casarão "francês" de SP, milionárias veem desfile de roupas para mulheres que "causam"

Paulo Sampaio

13/05/2017 08h00

Difícil achar Rapha Mendonça no porão estilizado da Maison Alexandrine, um aparatoso ateliê de moda guarnecido com pé direito alto, piso de mármore branco com losangos pretos, pesados lustres de cristal e grades pretas com detalhes em dourado.  Com pouco mais de 1,60 metro de altura, o estilista foi tragado pela profusão de babados, fendas, decotes e paetês que compõe os 33 looks de sua primeira coleção. Ele ajeita os vestidos nos corpos das modelos, que dificilmente têm menos de 1,80 metro.

Rapha Mendonça, entre Renata Kuerten, Alexandra Fructuoso, Barbara Fialho, Vivi Orth e Schynaider Garnero (Foto: Paulo Sampaio/UOL)

Rapha, 42, explica: "Gosto do brilho, da transparência, do jabour. Detesto essa coisa de minimalismo. Sou maximalista. Eu faço roupa para uma mulher que, em qualquer ambiente, entra pra causar!"

Sabrina Sato e Heleninha Bordon

No desfile, ele homenageia uma série de famosas que se tornaram suas amigas ao longo de 20 anos de carreira como stylist. Sabrina Sato, Barbara Fialho, Adriane Galisteu, Donata Meirelles, Daniela Sarahyba e Heleninha Bordon, entre outras. O estilista mostra um painel com vestidos imaginados para cada uma delas. Ele se emociona: "Você precisava ver, hoje, todas postando no Instagram fotos dos looks. Fofas!" Mas avisa: "Minha primeira musa é mamãe."

Vestidos inspirados nas musas: Sabrina Sato, Adriane Galisteu, Helininha Bordon… (Foto: Paulo Sampaio/UOL)

A base de sua inspiração é "o amor". "Amor que eu sinto pelas mulheres. Tanto que em todos os modelos e nas joias há corações. Bordados, vazados, contornando os seios em um tomara que caia." Ele próprio veste uma jaqueta preta com um coração bordô de veludo aplicado nas costas. Rapha explica que a coleção, criada em quatro meses, remete à dança flamenca: "Eu fui às origens, à Espanha. Tenho essa coisa do toureiro… Olha esse smoking: mistura masculino e feminino", diz ele, ajeitando o paletó em uma modelo.

Riqueza de espírito

A portuguesa Alexandra Fructuoso, 50, dona da maison, conta que depois de 27 anos trabalhando com o marido no ramo farmacêutico resolveu "dar um giro completo para abraçar uma paixão (a moda)". Vestida com um terno preto muito discreto – em relação ao padrão Rapha Mendonça – , Alexandra explica que, quando recebe para desfiles no ateliê, ela prefere deixar que as convidadas brilhem. Mas afirma: por ela, vestiria sempre modelos que valorizam "a exuberância, a sensualidade e a riqueza de espírito".

Ela diz que conheceu Rapha há cerca de quatro anos, quando ele voltava de uma temporada em Nova York. "Nos demos bem de saída. Como ele já vestia mulheres maravilhosas, como a Barbara (Fialho, modelo da Victoria's Secret), passou a me ajudar com opiniões que me ajudavam a compor o todo. E sempre nos encontrávamos em desfiles nos Estados Unidos, na Europa, até que o convidei para assinar uma coleção."

Segundo Alexandra, todos os estilistas que passaram por sua curadoria ocupam um espaço na maison. Foi assim com Dinho Batista, Rodrigo Rosner — especialista em vestidos de noiva e madrinhas — e Rapha Mendonça, "que faz o red carpet".

Coração de casca de laranja

Assim como Rapha, Alexandra também tem como fonte inspiradora "o coracão". "Desde muito jovem coleciono corações. Tenho de madeira, aço, até de casca de laranja." Mas os mais caros, diz ela, "são os que batem de verdade: os da família, dos amigos e funcionários".

D0 lado de fora das dependências da casa, que tem 840 metros quadrados, há plaquinhas douradas com designações como La kitchenette (pequena cozinha); le cabinet de toilette (banheiro) e assim por diante.  No site da maison, o "mundo Alexandrine" (Le Monde Alexandrine) aparece subdividido em la essence, la mission, la vision e les valleurs. A referência é o século XVIII, pelo qual Alexandra se diz apaixonada, e em especial Madame de Pompadour, a  cortesã francesa imortalizada por seu caso com o rei Luis XV.

Louis Vuitton e Valentino conversam na primeira fila (Foto: Paulo Sampaio/UOL)

Paris ou Miami?

No térreo, os convidados começam a se acomodar. Há três fileiras de cadeiras com os nomes de quem vai sentar, colados nos assentos de veludo. Na primeira, em sequência, estão reservados os lugares de Iara Jereissati, Maythê Birman, Ana Paola Diniz e Carol Andraus. Do outro lado, bem, por enquanto, em duas cadeiras vagas, uma bolsa Louis Vuitton e uma Valentino repousam. Assim que a dona da Valentino percebe que a reportagem está fazendo uma foto da dupla, vem saber do que se trata. Explica que comprou em Paris ("ou foi Miami?"), mas aquele modelo não existe mais: "Tentei comprar outra pra minha filha, não achei." Pena.

O desfile começa com uma música de suspense levemente cômica, que lembra uma trilha de filme de Pedro Almodóvar. Combina demais com a atmosfera. "É um cantor (alemão) chamado Klaus Nomi, que foi muito cool no início dos anos 1980, amigo do (artista Jean-Michel) Basquiat, morreu de Aids nos anos 1990. Eu escolhi essa trilha porque queria uma Espanha que não fosse literal, uma coisa da alma."

Primeira fila: Ana Paola Diniz, Maythê Briman e Carol Andraus (Foto: Paulo Sampaio/UOL)

A plateia filma com celulares o desfile das modelos, que passam dentro de looks chamativos, reluzentes, trabalhados no barroco. As moças descem a escadaria de mármore apoiando-se na grade preta e dourada, dão uma paradinha por volta do quinto degrau, e esvoaçam farfalhantes pela passarela que se estende entre as fileiras de cadeiras de veludo vermelho. Ao fim, as senhoras se levantam e batem palmas, principalmente para o estilista. "O Rapha é um amigo querido. Gostei do desfile, a roupa dele é dramática", diz a socialite Carol Andraus, sem se estender. Maythê Birman concorda. Algumas amigas sobem para beber um espumante, ainda se ouve um falatório na maison, mas aos poucos o público de elegantes vai se dispersando.

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Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.