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"Só me restou ser monarquista", diz a emergente Vera Loyola, decepcionada com os políticos

Paulo Sampaio

13/06/2017 08h00

Vera Loyola sempre foi fashion; agora é monarquista (Foto: Reprodução/Facebook/Vera Loyola)

Depois de votar em Lula e em Dilma, a empresária carioca Vera Loyola resolveu depositar suas esperanças na monarquia. Vera ficou conhecida nos anos 1990, quando se tornou o emblema da sociedade emergente da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. "Tentei todos os partidos, todos os políticos, só tive decepção. O único regime que eu não vivi foi a monarquia. Agora, até aparecer uma novidade, eu vou me dedicar à realeza."

Por conta desse novo projeto, ela ligou para a princesa Maria Cristina do Rosário de Bourbon Orléans e Bragança, que mora em Petrópolis, na região serrana do Rio, e a convidou para almoçar em um restaurante de lá. Maria Cristina é bisneta da princesa Isabel. "A princesa Cristina atendeu o telefone, eu disse: 'Minhas referências monásticas (sic), sua Alteza'. Ela então perguntou quem era, eu disse: 'Vera Loyola, do Rio'. Muito moderna, evoluída, em pouco tempo sua Alteza permitiu que a conversa fosse para o 'Vera pra cá, Cristina pra lá'."

O almoço está marcado para a próxima sexta, no restaurante Imperatriz Leopoldina, tradicional em Petrópolis. Vera se fará acompanhar de uma comitiva de 30 amigas, que sobe a serra em um ônibus fretado. "Expliquei a elas (as amigas) que quando se está diante de uma princesa pela primeira vez, o protocolo manda inclinar ligeiramente a cabeça e flexionar o joelho." O menu ficará a critério de duas senhoras que cozinham no local. "Elas disseram que preparam uns peixes muito gostosos. Eu já conhecia a princesa, ela adorava uma dobradinha que mamãe fazia."

Filha predileta de Deus

Em pouco tempo, o tema da conversa com Vera retorna ao tempo em que ela era a rainha absolutista das emergentes. "Sou a filha predileta de Deus", afirma. "O que eu posso fazer se acordo bem, se sou feliz, se tenho uma vida maravilhosa?" Ela apresenta uma espécie de atestado psicanalítico de felicidade. "Lá nos anos 1980, quando todas as mães dos coleguinhas dos meus filhos faziam análise, eu disse: 'Se todo mundo faz, eu quero também'." De acordo com Vera, o médico a dispensou logo na primeira sessão. "Ele me disse, muito impressionado, que eu era a primeira paciente que recebia alta antes do tratamento."

Imóveis encalhados

O repertório de histórias da época em que ela se sagrou emergente é infinito. Vera diz que tudo começou quando a colunista Hildegard Angel, então no jornal "O Globo", inventou o termo e o atribuiu a ela. "A Hildegard era funcionária do Roberto Marinho, e ele tinha muitas propriedades encalhadas na Barra da Tijuca. Para atrair a atenção da mídia — e do mercado imobiliário carioca — ela criou esse movimento emergente e me elegeu a representante. No fim, foi bom pra todo mundo. Quem veio pra cá, não sai mais. Quem já estava, teve o imóvel valorizado. E a Barra se tornou uma cidade autônoma. O pessoal que ficou esquecido lá embaixo (Leblon, Ipanema, Copacabana) gosta de falar que aqui só mora jogador de futebol, pagodeiro e atriz da Globo. Mas hoje a gente tem restaurantes tão bons quanto os de lá, os melhores cinemas e casas de espetáculos da cidade. Em termos de shoppings, só perdemos para São Paulo."

Em 1997, no auge: "Fui a maior mídia do mundo." (Foto: Rosane Bekierman/Folha Imagem)

Para Vera, os anos 1990 foram gloriosos. Ela chegou a inspirar personagem de novela das 9 (a "perua" Meg, interpretada por Françoise Fourton em "Por Amor", de Manoel Carlos, 1997). "Eu fui a maior mídia do mundo nos anos 1990", acredita. "Saí em uma matéria na terceira página do (jornal americano) 'The New York Times'." Não importa muito o conteúdo da matéria, nem mesmo o que pensam dela. Vera costuma atribuir as críticas negativas à inveja: "O carioca não sabe conviver com o sucesso dos outros. Só que pra fazer sucesso a gente precisa trabalhar, né? E o pessoal aqui gosta é do samba."

Segundo Vera, as mulheres são ainda mais invejosas. É assim que ela explica, por exemplo, a reação de Carmem Mayrink Veiga (eterno paradigma da alta sociedade carioca) quando as duas se encontraram pela primeira vez: "Logo que eu estourei na mídia, me convidaram para ir a uma festa lá embaixo (em Ipanema), onde ela estava. O problema foi que a imprensa só queria conversar comigo, ela não fez o menor sucesso. Aí, um jornalista foi chamá-la para fazermos uma foto juntas.  Ela se recusou, e saiu. Eu entendi: ela era o passado, e eu, o presente. Na verdade, ela era um porre. Me ligava dizendo que eu tinha de aprender a olhar as pessoas de cima pra baixo, imagina!"

A cadela Pepezinha também foi alçada à fama (Foto: Patrícia Santos/Folhapress)

Padaria, não! Delicatessen

Na ocasião, as colunas sociais venderam muito jornal jogando uma contra a outra. "Naquele episódio (da foto), a Carmem disse depois que eu deveria ficar atrás do balcão das minhas padarias. Nem eram padarias, eram delicatessens. Eu vendia o melhor pão do Rio, vinha gente de tudo o que é bairro comprar. Sabe o que eu fiz? Escrevi um livro sobre as padarias. Vendi 600 exemplares em um dia. Na noite de autógrafos, o trânsito em frente ao BarraShopping parou."

Vera diz que as amigas de Carmem Mayrink Veiga, para mostrar solidariedade, chegaram a ofendê-la. "Teve uma que eu processei. Ela ficava me diminuindo por ser da Barra, dona de padaria, e isso poderia me atrapalhar nos negócios."

Quem era ela? "Ô, meu Deus, eu esqueço o nome da mulher… Já até morreu. Ela morava no Chopin (edifício lendário na Avenida Atlântica, em Copacabana, onde, entre outros, moram a atriz Maitê Proença e as socialites Narcisa Tamborindeguy e Regina Marcondes Ferraz)."

"Não, não era a Regina, coitada, essa tá passando por uma situação difícil. Você vê como é a vida: ela era aquela socialite de voz mole, arrogante, e agora, depois de três casamentos, tá sem dinheiro…"

"Ah", exclama, "lembrei! Era a mãe da Dalal (Achcar, dona de uma escola de balé, filha da socialite Josefine Jordan)! Vieram me pedir para esquecer o processo, então eu mandei suspender. Nem me lembro mais o que ela falou, mas eu avisei que se voltasse a falar, eu procuraria a Justiça de novo."

Reconhecida no exterior

Até hoje Vera Loyola colhe os louros da fama. Diz que é muito reconhecida na rua, "inclusive no exterior". "Outro dia um rapaz que trabalha de recepcionista em um hotel em Nova York disse: 'Dona Vera Loyola, que prazer em tê-la no hotel conosco'. Eu estava no hotel errado, o meu era do outro lado da rua, mas me senti muito envaidecida." No começo dos anos 2000, quando declarou seu voto em Lula, ela ouviu de uma mulher no trânsito: "Vera, eu detesto o Lula, mas como sou sua fã, vou votar nele!"

"Viu? Eu sou formadora de opinião! Pode colocar aí", sugere.

Há alguns anos, Vera se desfez das padarias/delicatessens. Diz que ela e os filhos administram imóveis da família, entre eles o lendário Motel Vip, na Avenida Niemeyer, de onde despencou em 1975 a apresentadora do "Fantástico" Leila Cravo. "Ela estava com o pai de um coleguinha de colégio dos meus filhos, se jogou lá de cima para fazer charme."

Botox, por que não?

Aos 74 anos, Vera assume o Botox e o preenchimento para atenuar as rugas: "Se os procedimentos estéticos existem, se a medicina aprova e eu tenho dinheiro para pagar, por que não? Minha filha usa, as amigas dela, e meninas mais jovens também. Não tem gente que põe dente? O outro põe lente? Pinta a sobrancelha? Qual o problema desses procedimentos?" Ela diz, porém, que é contra os exageros: "Outro dia encontrei dois casais de amigos no shopping, fiquei apavorada! Os homens com cabelos pintados, elas deformadas, uma loucura!"

Aios 74, ela é francamente a favor da aplicação de Botox e do preenchimento facial, mas sem exageros  (Foto: Reprodução/Facebook/Vera Loyola)

Muito feliz na Barra da Tijuca,  Vera continua associando o epíteto que lhe deram nos anos 1990 a boas referências. "Você vê, os países emergentes estão em alta, a China, tal. Por que eu me envergonharia de ter esse título?"

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Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.