Empresário acusado de matar mulher há 15 anos tem julgamento adiado
Paulo Sampaio
08/11/2017 14h13
A defesa do empresário Sergio Nahas, que foi acusado de matar a mulher em 2002 e deveria ser julgado hoje, encaminhou ao Tribunal de Justiça na véspera do feriado um parecer em que reforçava a argumentação de que a vítima, Fernanda Orfali, sofria de depressão e por isso se matou.
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A promotoria afirma que "os mais de dez documentos" foram encaminhados ao TJ na ultima hora, propositalmente para protelar o júri popular. "O parecer tem 53 laudas e só me foi dado a ciência na segunda-feira às 17h30. Imagine ler e avaliar esse conteúdo a dois dias do julgamento", diz o promotor Fernando César Bolque, que acha "estranho a defesa ter usado uma manobra protelatória". "No mesmo dia, a advogada deu uma entrevista para a TV em que afirmava que tinha todo interesse no julgamento — já que, supostamente, estava certa da inocência do seu cliente."
A advogada de defesa, Dora Cavalcanti, que era sócia do criminalista Marcio Thomaz Bastos (1935-2014), ministro da Justiça entre 2003 e 2007, afirma que "os documentos foram juntados pela defesa rigorosamente dentro do prazo legal estipulado no artigo 479 do Código de Processo Penal."
O promotor diz que o artigo 479 "deixa claro que não basta juntar os documentos, mas dar ciência à parte contrária". "A defesa juntou os documentos às 17h30 de quarta-feira. Teve 15 anos para fazer. O que ela queria agora? Para bom entendedor, meia palavra basta", diz Bolque.
Depois que a acusação alegou impossibilidade de analisar o parecer em tão pouco tempo, o juiz Luiz Felipe Vizoto Gomes decidiu no começo da tarde adiar o júri. Ficou marcado para os dias 14, 15 e 16 de março de 2018.
Antes de o juiz tomar a decisão, houve uma acirrada discussão entre acusação e defesa. Segundo o promotor, "a defesa fez tudo para mostrar que quem queria protelar o júri era a acusação: mas que interesse eu teria?". Bolque afirma que, se Cavalcanti abrisse mão do parecer de 53 páginas, o julgamento poderia ter ocorrido hoje: "O assistente de acusação sequer foi intimado, mas tudo bem."
Apesar de afirmar que está disposta a enfrentar o júri o mais rapidamente possível, a defesa, que há 15 anos interpõe recursos (a maioria inadmitidos por serem considerados protelatórios), não aceitou a proposta da promotoria.
Sobre o autor
Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.