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Herdeiro do Maksoud Plaza é acusado de destruir o hotel e enchê-lo de lixo

Paulo Sampaio

03/04/2018 04h00

Este é o primeiro post de uma série de três

Na semana passada, a série envolvendo os herdeiros do hotel Maksoud Plaza entrou em uma nova temporada (a primeira foi publicada em dezembro).  A pedido da atual administração, a Justiça expediu um mandado de reintegração de posse (com uso de força policial) dos dois apartamentos em que o jornalista aposentado Claudio Maksoud mora há 20 anos. Os apartamentos foram cedidos pelo pai dele, Henry Maksoud (1929-2014), fundador do hotel. O advogado de Claudio recorreu da decisão e conseguiu suspender o mandado.

À frente da atual administração do hotel, Henry Maksoud Neto afirma, através de seu advogado,  que seu tio deve R$ 2 milhões em diárias e serviços, incluindo garrafas de champanhe, sessões de massagem e uso do heliponto. Acusa Claudio de  "fazer mau uso" das suítes; diz que ele as "enche de lixo" e costuma promover "episódios de destruição". "E ainda grita de madrugada", diz.

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Cláudio Maksoud (à esq.) e o sobrinho, Henry: destruição e lixo (Fotos: Divulgação/Bruno Santos/Folhapress)

Frank Sinatra

Inaugurado em 1979, o Maksoud Plaza chegou a ser considerado o hotel mais sofisticado do País.  Com 400 quartos, contava na ocasião com cinco restaurantes, cinco bares, e teve entre seus hóspedes ilustres chefes de estado, príncipes europeus e astros do cinema e da música. Em 1981, o cantor Frank Sinatra se apresentou três noites nos salões do hotel, para uma seleta platéia de 800 pessoas. Cada uma pagou U$ 1.000. Até então, quem quis assistir Sinatra no Brasil teve de fazê-lo no Maracanã.

Claudio Maksoud alega que o lixo fica na porta das suítes porque Henry Maksoud Neto cortou todos os serviços de quarto (incluindo a coleta), para forçá-lo a deixar o hotel. "Ele ficou com raiva porque não conseguiu nos mandar embora por meios legais, e cortou tudo: comida no quarto, lavanderia, camareira, telefone, Internet. Até os garçons do restaurante estão impedidos de nos servir." Henry Neto tenta despejar Cláudio desde que Henry avô morreu, em 2014.

O advogado de Cláudio, José de Arruda Silveira Filho, afirma que "chega a ser desumano o sofrimento a que Cláudio Maksoud, juntamente com sua esposa, Maria Eduarda Maksoud, estão sendo submetidos com as sucessivas tentativas de seu sobrinho de expulsá-lo do hotel".  Segundo Arruda, "o grave é que  Cláudio é filho do falecido Henry Maksoud, autor da herança da qual Cláudio é legítimo coerdeiro, e fixou residência com ânimo definitivo e de forma ininterrupta nos apartamentos 1319 e 1321 do hotel há cerca de 20 anos."

Henry Maksoud, entre Frank Sinatra e Roberto Carlos (Foto: Arquivo Pessoal)

Sangue nos olhos

Com a morte de Henry Maksoud, a disputa entre os herdeiros pelo poder ficou ainda mais acirrada. Henry Neto se juntou à segunda mulher do avô, Georgiana Maksoud, para reivindicar a presidência do hotel. Os dois apresentam um testamento assinado pelo patriarca pouco antes de morrer, outorgando tudo a eles. Cláudio e o irmão, Roberto, afirmam que a assinatura é falsa e lutam para anular o testamento.

Por meio de seu advogado, Henry Neto nega a versão de que, ao pressionar a saída do tio (que é idoso, tem problemas de saúde e recebe uma aposentadoria de R$ 3 mil), estaria na verdade tentando forçá-lo a vender a parte dele no hotel por um preço baixo.

No ano passado, Neto comprou por um valor alegadamente irrisório o terço do hotel correspondente à parte de Vera Lúcia Barbosa, filha de Henry Maksoud com uma cozinheira que trabalhou na casa da mãe dele nos anos 1950. Em 2014, Vera obteve o reconhecimento da paternidade. Neto adquiriu a parte dela por R$ 2,640 milhões, em 240 parcelas de R$ 11 mil. O valor do hotel é estimado em mais de R$ 400 milhões.

Nada demais

O advogado de Henry Neto, Marcio Casado, minimiza a importância da suspensão do mandado. Diz que ganhou todas as ações até agora, e que ganhará mais essa. Sustenta que não faz sentido manter indefinidamente um "comodato verbal" estabelecido há mais de 20 anos, e que nenhum hotel pode prescindir de dois apartamentos para sempre.

Em sua sentença, o desembargador Spencer Almeida Ferreira lembra que "o próprio autor (Henry Neto), em sua petição inicial, afirma: 'O fato é que a empresa, durante a administração do antigo acionista majoritário (Henry Maksoud), cedeu em regime de comodato por tempo indeterminado, pactuado de forma verbal, a posse dos referidos imóveis ao primeiro réu, o qual de fato a manteve por mais de 20 anos."

Guilherme Boulos

No processo, outro argumento em favor de Cláudio é que a ocupação média do hotel gira em torno dos 70%, e que por isso dois apartamentos não fariam muita diferença. O advogado de Henry Neto ridiculariza a sugestão de que seu cliente age por "pura maldade". Segundo Marcio Casado, não é porque há quartos disponíveis que se vai permitir a "invasão do prédio".  Ele pergunta se quem defende isso é o "senhor Cláudio ou o Boulos" — comparando o herdeiro do hotel ao coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e pré-candidato do PSOL à Presidência da República. Henry Neto costuma afirmar que empresa é negócio e que não dá para misturar com família.

A assessoria do Maksoud Plaza distribuiu em fevereiro um press release no qual informa que em 2017  sua receita foi a melhor dos 39 anos de história do hotel. Os balanços da empresa são de domínio público e relativizam essas informações. Veja no post seguinte.

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Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.