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'Trisal' formado por 1 homem e duas mulheres fala de casamento poliafetivo

Paulo Sampaio

26/06/2018 18h48

Leandro, Thaís, Yasmim, e as filhas do 'trisal': Emily, 5 anos, e Isabela, 4 meses (Foto: Arquivo Pessoal)

O psicólogo Leandro Jonattan, 35 anos, conta que conheceu a técnica de enfermagem Thaís de Souza, 24, há sete anos, e que dois anos depois ela o apresentou ao terceiro elemento do 'trisal' (casal de três) do qual faz parte. Yasmin Nepomuceno, 23, também é técnica de enfermagem. Leandro e Thaís têm uma filha, Emily, de 5 anos; com Yasmin, o psicólogo tem Isabela, de 4 meses. Os três vivem no subúrbio carioca de Rocha Miranda e, segundo dizem, têm uma convivência tranquila com as respectivas famílias.

Em abril de 2016, o trisal esteve no 15º cartório de notas do Rio de Janeiro disposto a requerer uma escritura de união estável. "Fomos muito bem acolhidos", afirma o trisal, que saiu de lá com a escritura lavrada pela tabeliã Fernanda Leitão.

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Poliamor e Diversidade

Na terça-feira, o Conselho Nacional de Justiça decidiu por 7 votos a 5 proibir o registro de uniões poliafetivas nos cartórios do Brasil. De acordo como ministro relator, João Otávio de Noronha, "a emissão desse tipo de documento não tem respaldo na legislação nem na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), que reconhece direitos a benefícios previdenciários, como pensões, e a herdeiros apenas em casos de associação por casamento ou união estável".

"Eu vejo isso como um retrocesso", lamenta Leandro Jonattan. "Em um país tão cheio de problemas estruturais, como falta de emprego, de saúde, de segurança pública, querem proibir justamente o amor."

Definindo sua formação como "existencialista", o psicólogo afirma que "o importante é ser feliz". O envolvimento dele com a filosofia poliafetiva foi tamanho que o levou a criar um grupo no facebook chamado Poliamor e Diversidade, que hoje tem 27 mil integrantes em todo o Brasil: "Há casos como o nosso (de duas mulheres com um homem); e também de dois homens com uma mulher; três homens e três mulheres." Na entrevista abaixo, feita por e-mail, os três falam de aspectos triviais do relacionamento. Thaís e Yasmin, por opção própria, responderam em conjunto.

Blog-  Em casais, muitas vezes há ciúme de marido e mulher em relação a terceiros. Como é em quando há três cônjuges?

Leandro — Dentro do relacionamento, existe um equilíbrio. Elas têm o tempo delas, eu tenho o meu com cada uma, temos o tempo de nós três e também o tempo de nós cinco, incluindo as nossas duas filhas. Por exemplo: a hora da novela é sagrada para elas. Acreditamos que a harmonia é a chave para um relacionamento equilibrado.  Fora do relacionamento existe o que chamamos de "ciume saudável", sem excessos ou algo que cause desconforto ou brigas.

Thaís e Yasmin — Dentro do relacionamento não há ciúmes porque somos um trisal, formamos uma família, não faria o menor sentido. Mas fora do relacionamento, temos sim, como qualquer casal tradicional. Nosso trisal é fechado, então qualquer pessoa que se aproxime já gera olhares tortos.

 Blog – Vocês dormem na mesma cama?

Leandro – Sim, a cama é grande.

Thaís e Yasmin – Às vezes nossas filhas também dormem com a gente

Blog — Ocupam sempre o mesmo lugar?

Leandro — Normalmente, eu durmo no meio, porque elas se mexem muito durante a noite, e se levantam também.

Yasmin —  Pra mim é melhor, porque berço da Isabela fica do meu lado por conta da amamentação e o Leandro dorme no meio pois diz que nos mexemos muito.

Blog –– O sexo é sempre a três, ou pode variar?

Leandro — Na maioria das vezes, sim, é entre os três, mas também pode ocorrer a dois e não temos problemas com isso.  Somos bem resolvidos nessa questão.

Thaís e Yasmin — Pode variar, pode ser entre dois também.

Blog –  No relacionamento de vocês, são "duas (mulheres) e um (homem)". Isso, de alguma maneira livra o homem de "rivais" — mas não as mulheres. Existe algum tipo de "competição" (ainda que velada) entre elas, para ver quem agrada mais o homem (na cama inclusive)?

Leandro – Não existe isso, já que o sexo tem que ser bom e competição nessa área não seria legal. Aliás, pra que competir se todos podem ganhar?

Thaís e Yasmin — Temos prazer em fazer as coisas juntos e mesmo quando não estamos os três, sabemos que estamos unidos de alguma forma

Blog — Alguma das duas se define como lésbica?

Thaís e Yasmin — Não, somos bissexuais.

Blog — Vocês participariam de um trisal se, em vez de duas mulheres, fossem dois homens?

Leandro – Hoje, não tenho vontade. Mas amanhã, quem sabe? Minha formação profissional é "existencialista". Sou a favor de fazer o que me dá prazer, o que me deixa feliz.

Thaís e Yasmin — No momento não desejamos ter outro homem, nem outra mulher no relacionamento. Estamos bem desta forma

Blog – Já houve proposta de gente querendo se juntar a vocês para formar uma relação de 4 ou 5 parceiros? Acha que seria viável?

Leandro – Sim, já, mas acreditamos que esse não é o momento. Três é um bom número, não temos vontade em principio de uma quarta pessoa.

Thaís e Yasmin ––  Surgiram propostas. Não achamos que tenha necessidade.

Blog – Como são distribuídas as tarefas domésticas? Cada um tem a sua, ou os três fazem tudo?

Leandro – As duas cumprem muito bem os papeis sociais que foram combinados entre nós. Uma família funciona como uma empresa, acordamos o que cada um deve fazer sem sobrecarregar ninguém e assim já vamos para 5 anos de relacionamento. Sobre o relacionamento maternal, as duas têm igual amor e carinho pelas nossas filhas.

Thaís e Yasmin — Não tem regra, cada um faz o que precisa ser feito, sem que o outro peça. Exceto arrumar a cama. Quem acordar por último arruma rs

Blog — (Para as meninas) Há quem classifique a relação de vocês de machista, dando a entender que para o Leandro é confortável ter duas mulheres para servi-lo?

Thaís e Yasmin — Tem sim. Não digo pessoas próximas, mas que não nos conhecem. Mas nós não enxergamos assim. Somos complementares. Os três são pessoas únicas.

Blog – Como é a convivência com as respectivas famílias de vocês?

Leandro – Em relação a minha, é tranquilo. Com a da Thaís é mais refratária, mas não chega a ser conflituosa. Com a da Yasmim, é 95% de aceitação.

Yasmin — Com a minha família e a do Leandro, é bem tranquilo. Já com a da Thaís, não temos contato direto.

Blog  — O que vocês conseguiram em termos práticos, socialmente falando, desde que registraram sua união?

Leandro – Por enquanto, só um plano família na minha empresa. Não consegui incluir as duas de forma administrativa, iremos tentar a esfera jurídica.

Yasmin — A minha inclusão do plano de saúde do Leandro. A da Thais tentaremos através do judiciário.

 

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Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.