Topo

Paulo Sampaio

Após suicídio de jovem, hotel instala rede proteção antiqueda no hall

Paulo Sampaio

12/07/2017 11h15

Logo depois que a gerente de marketing Fernanda Kulicz Zuchetti Santos, 25 anos, saltou para a morte do alto do Maksoud Plaza no último dia 28 de maio, em São Paulo, a administração do hotel mandou instalar uma rede de proteção antiqueda na base do vão central interno do edifício. Também no Maksoud, um casal de jovens foi encontrado morto em um dos quartos no dia 16 de abril  — a assessoria do hotel afirma que os dois casos não têm ligação.

Rede protetora anti-queda instalada no átrio do Maksoud Plaza

O vão está acima do hall de entrada, onde há um trânsito permanente de hóspedes. Os corredores de acesso aos quartos dão para esse hall. De acordo com a assessoria, a rede é uma medida preventiva para evitar que as pessoas sejam atingidas por objetos que venham a cair desses corredores.

* * *
Maioria se arrepende  

O caso de Fernanda  Kulicz Santos integra a parte menos provável nas estatísticas de suicídio. De acordo com especialistas, os homens se matam mais que as mulheres na razão de 3 para 1. O coordenador do pronto-socorro do Insituto de Psiquiatria do Hospital da Clínicas, Teng Chei Tung, diz que  "as mulheres tentam menos, e por métodos menos letais". Por exemplo, ingerindo medicamentos.

De acordo com Tung, a maioria das pessoas que se atiram de lugares altos e que, por algum motivo, sobrevivem, relatam depois que sentiram arrependimento "no meio do caminho". "A impulsividade é um dos fatores mais frequentes em casos de suicídio por queda. Se há uma base depressiva, e ainda algum aditivo, como álcool ou drogas, a pessoa que já está predisposta não pensa muito nas consequências."

A psiquiatra Alexandrina Meleiros, da Faculdade de Medicina da USP, cita duas outras características recorrentes em suicidas, segundo estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS). Primeiro, a ambivalência: "A pessoa pensa 'quero viver, mas não quero sofrer; mas se eu viver, vou sofrer; e se eu morrer, não vou viver; preciso me livrar dessa situação'. E então, num caso extremo, em dez, vinte segundos, ela põe um fim à vida." Segundo motivo, a rigidez: "Quando a pessoa tem fixação com a ideia de morte, não vê outra saída para a angústia que sente. É como um túnel onde a morte é a luz."

Tanto Tung quanto Alexandrina chamam atenção para o fato de que "o depressivo não é um suicida em potencial". "Sofrer da doença não é suficiente. Apenas 15% das pessoas que se matam são depressivos." Ambos falam do assunto com cautela, para não levar ninguém a achar que faz parte das estatísticas. Diz a médica: "O que preocupa é o fenômeno da imitação. Aquilo que a gente chama de 'efeito Werther' (em alusão a um romance do alemão Johann Wolfgang Goethe, cujo personagem principal se matou por não ter o amor correspondido: na época, século XVI, isso gerou uma das maiores ondas de suicídio em massa da história da literatura clássica)." Recentemente, em uma proporção mais contemporânea, jovens de todo o mundo teriam se matado por influência do jogo da Baleia Azul e a série 13 Reasons Why.

Pelo cuidado em falar do tema, os médicos evitam mencionar a eventual "romantização" do suicídio ou a necessidade de produzir um "gran finale" para a vida.  No próprio Maksoud, meses antes da tragédia com Fernanda, um casal de jovens se hospedou em uma suíte de luxo para promover o que seria um pacto de morte — os dois foram encontrados mortos a tiros de pistola. "Algumas pessoas têm a fantasia de fazer do suicídio um show. Mas a gente pode encarar isso como uma forma de justificar um gesto que elas no fundo consideram indigno, vergonhoso. A imensa maioria dos suicidas estão sofrendo, precisam de ajuda." Tung explica que as elaborações de quem acaba com a própria vida são heterogêneas: "Cada uma dessas pessoas constrói a situação de um jeito."

Num tom mais de alerta do que de alarme, o médico afirma que há "estatísticas consistentes" que indicam que o número de suicidios entre jovens de 15 a 25 anos aumentou. Ele cita a experiência extenuante com a informatização, que leva a noites mal dormidas, ao esgotamento e, não raro, à depressão. "Além do stress causado pela própria rotina, muitas dessas pessoas têm dificuldade de definir uma auto-imagem satisfatória. Vivendo em uma cultura tão narcísica, fica difícil atingir a realização."

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.