Pecuarista é condenado a 11 anos no PR por jogar mulher pela janela
O agropecuarista Mauro Janene Costa, acusado de esganar até a morte e jogar do 12º andar a professora Maria Estela Correa Pacheco, foi condenado no fim da noite desta quarta-feira a 11 anos de detenção por homicídio doloso e fraude processual. Em dezessete anos, o julgamento de Janene foi adiado sete vezes. Estela tinha 35 anos em 2000, quando foi encontrada morta no jardim do prédio onde o agropecuarista morava, em Londrina, a 390 km de Curitiba.
O julgamento começou por volta das 9h, no Fórum de Ponta Grossa, no Paraná, e durou cerca de 16 horas. O júri condenou o réu por 4 votos a 1. A pena estabelecida começou em seis anos, mas foi majorizada pelas consequências que o crime deixou e também pela violência de sua execução. Janene pode recorrer da sentença em liberdade.
Na tribuna, o réu evitou trocar olhares com familiares da vítima e permaneceu a maior parte do tempo de cabeça baixa, com a mão na testa. Em seu depoimento, manteve a versão de que estava com Estela no colo, apreciando a vista da sacada, quando ela escorregou e caiu. Ele ainda teria tentado segurá-la, mas não conseguiu. Negou que a tivesse agredido antes de ela cair.
Tanto a versão da queda "sem querer", quanto a do suicídio (dada no primeiro depoimento de Janene) foram descartadas pelo perito Rogério Luiz Eisle. "Há muitas hipóteses que não podem ser desprezadas. A única certeza é que a vítima morreu antes da queda", atestou o legista, na ocasião. De acordo com o laudo, Estela já estava morta havia 30 minutos quando foi jogada de uma altura de 36 metros. Depois de expor sua conclusão, Eisle mudou-se repentinamente para Portugal. Janene chegou a ser preso, mas foi posto em liberdade em cinco dias. O juiz João Luiz Cléve Machado, da 1ª Vara Criminal de Londrina, negou o pedido da promotoria de mantê-lo em prisão preventiva. Mais tarde, Machado chegou a ser colocado em suspeição por ter relações com parentes do réu. Por sua vez, o porteiro do edifício, apontado pelo Ministério Público como testemunha-chave, desapareceu.
À saída do Fórum, a única filha de Estela, a advogada e jornalista Laila Pacheco Menechino, se dizia "aliviada". "Foi um dia muito longo, depois de muitos anos muito longos. Difícil traduzir o meu sentimento, porque eu estou esgotada. Diante de toda a complicação do processo, acho que o resultado foi positivo. " Laila, que está grávida do segundo filho, tinha 14 anos quando sua mãe morreu. "Com tantos adiamentos, eu não me surpreenderia se houvesse mais um, ou mesmo se o réu nem comparecesse", disse ela, que criou o movimento "Justiça para Estela".
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Adiamento
No fim de janeiro, o julgamento foi adiado pela sétima vez (de 22 de fevereiro para 22 de março), porque a advogada de defesa, Gabriela Roberta Silva, alegou que enfrentava uma gravidez de risco e não se sentia em condições de comparecer (por coincidência, Laila também estava grávida). O juiz Luiz Carlos Fortes Bittencourt negou o pedido, afirmando que "a legislação prevê alternativas para este tipo de situação, como o subestabelecimento com ou sem reserva de poderes a outro defensor". "Mesmo que se trate de uma situação supostamente grave e excepcional, não é razoável adiar a sessão mais uma vez", escreveu Bittencourt.
Contudo, Silva recorreu da decisão do juiz e conseguiu no Tribunal de Justiça do Paraná uma liminar. O TJ considerou que, por uma questão de cautela, seria melhor suspender o júri. A juíza substituta, Michelle Delezuc, manteve a decisão do TJ, mas ato-contínuo marcou o novo júri para 22 de março. Delezuc criticou a "conduta processual insistente e protelatória da defesa, buscando esquivar o réu da aplicação da lei penal": "Ressalte-se, mais uma vez, que não é razoável adiar o julgamento do réu Mauro Janene por tempo indeterminado."
A juíza determinou ainda que, caso Gabriela Roberta Silva não estivesse em condição de atuar na data prevista, Janene poderia "escolher outro profissional para defendê-lo". Procurada pela reportagem, Silva não retornou a ligação.
De família rica, Janene é neto de Abdelkarim Janene, considerado no passado um dos maiores pecuaristas do estado, e sobrinho de Jamil Janene, ex-presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP). O ex-deputado José Janene (PP-PR), apontado como pivô dos escândalos do mensalão e do petrolão, era seu primo. Em 17 anos, o agropecuarista ficou preso cinco dias.
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