Topo

Paulo Sampaio

Morre fotógrafo Antônio Guerreiro, consagrado por retratar famosas nos 1970

Paulo Sampaio

28/12/2019 14h54

Morreu hoje de manhã (28) no Rio o fotógrafo Antônio Guerreiro. Ele estava com 72 anos e tinha sido diagnosticado com um câncer na bexiga havia três meses. Deixou uma filha, a advogada Maria Antônia, 29 anos, do relacionamento com a apresentadora Angelita Feijó, e um acervo de cerca de 300 mil fotos.  Nascido em Madri, ele era filho de um industrial português que migrou para o Brasil e tinha empresas em Minas Gerais.

Guerreiro tornou-se famoso entre os anos 1970 e 1990 por fazer retratos de atrizes, cantoras e celebridades, assinar ensaios de moda, capas de revistas e de discos, e cartazes de filmes. Muito requisitado como fotógrafo e como homem de charme irresistível, ele foi um conquistador serial de estrelas e tornou-se, por tabela, um dos personagens mais representativos do glamour do Rio naquela época.

Constam do vasto portfólio de Guerreiro fotos icônicas de Sonia Braga, Bruna Lombardi, Regina Duarte, Susana Vieira, Sandra Brea, Zezé Mota, Tonia Carrero, Dina Sfat, Nadia Lippi, Denise Dumont, Silvia Bandeira, Luiza Brunet, Gal Costa, As Frenéticas, Ionita Salles Pinto, Tânia Caldas e muitas e muitas outras. Sua expertise era atrair para debaixo dos holofotes as mulheres mais desejadas do momento.

Autorretrato de 2013; e fotografando para a Playboy, em 1972 (Foto: Arquivo Pessoal)

Luz, câmera e ventilador

A estética que o consagrou foi a do retrato em preto e branco, com as mulheres semidespidas ou nuas, figurino estilo mostra-e-esconde, cabelos armados e esvoaçantes, olhares lascivos, lábios entreabertos, batom uva, gloss e muito ventilador.

Da segunda metade dos anos 1970 até 1990, em um estúdio que mantinha no Catete, zona sul do Rio, fotografou a maior parte das capas da então festejada revista "Playboy"; produziu também as imagens de discos de Gal Costa, Baby Consuelo, Elba Ramalho, Marina Lima e Alcione; e ainda cartazes de filmes como "Dama do Lotação" (1978), de Neville de Almeida, e "Eu te Amo" (1978), de Arnaldo Jabor.

Amor ao flash

Entre um flash e outro, Antônio Guerreiro levou pra cama boa parte das retratadas; algumas ele chegou a namorar e, com outras, até a morar. Viveu com a colunável Ionita Salles Pinto, e as atrizes Sônia Braga, Sandra Brea e Betty Faria. "Ele deixou a Ionita (ex de Jorginho Guinle) para viver um romance tórrido com a Sônia Braga", conta o jornalista Renato Fernandes, 56, um dos amigos que frequentaram a casa do fotógrafo até o fim.

Mais tarde, em um ensaio coletivo intitulado "Superstars", para a revista "Vogue", foi a vez de Sandra Brea. "A Sandra disse para ele no estúdio do Catete: 'Quando essa mulher (Sônia) sair da sua vida, eu entro"', conta Fernandes, que está escrevendo a biografia de Brea. "E assim foi. A Sandra se mudou de mala e cuia para a casa dele."

Entre tantos nus femininos, Guerreiro fotografou um raro masculino, frontal, do novelista Gilberto Braga.

Festança no apê

No auge do sucesso, o fotógrafo costumava  receber o grand monde carioca — como os colunistas diziam na época — para festanças bem aditivadas na cobertura em que morava em Botafogo, zona sul da cidade. Há alguns anos, mudou-se para um apartamento de 400 m2 no posto 2, em Copacabana, e recebia poucos amigos, entre eles o bon vivant Pedrinho Aguinaga, lembrado pelas mulheres que namorou (Monique Evans, Liza Minnelli, Marisa Berenson, Demi Moore, Bianca Jagger), e pelo comercial do cigarro Chanceller, "o fino que satisfaz".

O velório de Antônio Guerreiro está marcado para as 9h de amanhã, 29, no Memorial do Carmo do cemitério do Caju, na zona norte do Rio, e a cremação do corpo, ao meio dia. "Os primeiros médicos trataram o tumor como se o problema fosse na próstata", lamenta Teresa Freire, última mulher do fotógrafo, com quem ele viveu 19 anos. "Fui a mulher com quem ele mais ficou", diz ela. "Depois de todo mundo, ele sossegou comigo. O mais curioso é que nós já havíamos tido um relacionamento 40 anos atrás."

 

 

 

Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.