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"Chegava ao hotel e tinha atriz da Globo pelada na cama", diz ex-stripper

Paulo Sampaio

17/01/2018 05h00

Um metro e oitenta e nove de altura, 97kg, voz de locutor, Luiz Carioca se apresenta como halterofilista profissional, personal trainer, ator de filme pornô, mecânico, motorista de táxi e, bem, o telefone toca, ele se dirige a quem está do outro lado da linha usando um adjetivo masculino. Explica à pessoa que seu atendimento leva uma hora, inclui massagem e diz "não, só no meu". Desliga o telefone, diz que era uma cliente. Eu pergunto "Uma?" Ele corrige: "O marido dela".  Com alegados 50 anos, Carioca afirma que, independentemente da oferta, ele nunca transou com homem…

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Ex-integrante do elenco de rapazes que tiravam a roupa no show "Noite dos Leopardos", sucesso no Rio nos anos 1980 e 90, Luiz Carioca sempre teve muito orgulho de seus atributos físicos (e também dos intelectuais). "Eu era da 'tropa de elite' dos leopardos. Poderia ter aproveitado mais o momento, me tornado um diretor de cinema", acha. "Ou um puta filósofo. Eu amo física, matemática…"

Na época do show, Carioca ganhava o equivalente a R$ 2500 por mês e vivia com outros leopardos em um apartamento alugado por Eloína, a travesti idealizadora do show, em Copacabana. Esse salário quase sempre era complementado por colaborações de fãs. Carioca diz que tinha patrocinadoras ricas e que muitas vezes precisou sair no braço com homens que invejavam seu sucesso.

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Hoje, o ex-leopardo possui um site onde oferece seus serviços sexuais. Usa Viagra? "Não!", responde, indignado. "Quando você é jovem, a ereção vem no momento errado. Quando fica mais velho, você deixa de ser punheteiro e goza na hora certa."  Da filosofia felídea.

Na entrevista abaixo, ele conta que transou com tanta gente que não saberia dizer um número aproximado ("porque não é só multiplicar pelos dias do ano; muitas vezes eu participava de surubas com quatro, cinco mulheres em uma mesma noite").

Luiz Carioca ontem e hoje (Foto: Arquivo Pessoal)

A Noite dos Leopardos era basicamente um show de homens pelados. Os bem dotados ganhavam mais?

Pau grande não era suficiente para entrar na tropa de elite dos leopardos. Tinha até japonês entre nós! O importante era o carisma, algo que nasce em você, entende? E tinha a diversidade. O Alexandre "Negro Gato" era um dos personagens mais aguardados da noite.

Onde entra o carisma em um show sem texto, onde a única possibilidade de interpretação é através da ereção?

É inexplicável, mas uns transmitiam um 'algo mais' para a plateia. Eu estava entre esses.

Como você virou leopardo?

Eu era de Olaria, no subúrbio do Rio, mas fui morar em Santos quando comecei a participar de campeonatos de halterofilismo. Queria trabalhar no cinema, ser um (Arnold) Schwarzenegger. Sempre fui um cara comunicativo, todo mundo gostava de mim na academia. O tal do carisma. Aí, apareceu um cara de Escort XR-3, me falou que tinha esse lance do show, que rolava uma disputa para ver quem tinha o corpo mais bonito. Eu perguntei se era como um campeonato de halterofilismo. Ele disse: 'Só que tem de ficar nu e, se possível, de pau duro.'

E aí?

Eu era mecânico. Pensei: 'Eu me fodo todo naquela oficina pra ganhar uma miséria. Quero mais é um carro, uma moto e uma morena na garupa.' E fui. Quando cheguei em Copacabana, vi que ali estava o filme que eu queria.

Precisou fazer  algum teste?

Não. Tinha de ter um corpo bonito. O meu era. No começo, você fica meio nervoso de se apresentar pelado lá na frente, não sabe direito o que fazer, mas depois pega prática.

O que você fazia durante o dia?

Nossa vida era malhar e ir pra praia. A gente tinha de estar bronzeado.

Como era a relação com os fãs?

Na saída do teatro, tinha tanta gente esperando que nós não dávamos conta. Até a Claudia Raia estava lá. Era impossível abraçar todo mundo.

Homens e mulheres?

Tudo. Mas eu só atendia as mulheres.

Curioso. Boa parte das mulheres diz que um corpo bonito não é suficiente para atraí-las.

Tudo história de intelectual brocha. Eles dizem, elas concordam. Tem uns que até escrevem livro.  Eu quebro todos essas teorias. Até hoje transo com mulher casada. Imagina se eu escrevo um livro…

Vocês faziam programa?

A gente tinha umas patrocinadoras (ele nega que tivesse patrocinadores também). Fãs que bancavam a gente, em troca de companhia. Nos levavam a restaurantes da moda, boates, e nos convidavam para as festas que davam em casa. Gostavam de estar ao lado de homens bonitos. Uma das minhas patrocinadoras era marchande,  morava numa cobertura na Lagoa e sempre me buscava no teatro, me apresentava às pessoas. E me dava uma colaboração por mês.

Você namorava alguém?

Não dava tempo. Todo mundo queria transar com um leopardo. Você não imagina a proporção que aquilo tomou.  Era sexo o tempo todo. Eu transei com muita, muita gente, não dá nem pra fazer a conta. Se fosse uma por dia, durante todos aqueles anos, já seria um número grande. Mas às vezes eram surubas. E tinha gente conhecida. Eu chegava no quarto do hotel e tava a atriz da Globo e a capa da Playboy peladas, cheiradas.

Você era invejado por homens?

Tinha muito recalque. Muitas vezes eu saí na porrada por causa disso. Os caras gritavam: 'Leopardo viado!'  O problema é que todo mundo tinha curiosidade sobre o show: a namorada do cara, a mãe do cara, o viado do cara! O primeiro time da Globo todo vinha atrás da gente, eles queriam ser nossos amigos. Gente do peso de um Alexandre Frota, de um Kadu Moliterno, de um Maurício Mattar. Eu frequentava a praia da Joatinga, o paraíso dos artistas. É, meu irmão, o Rio de Janeiro que eu conheço não é aquele que o Datena a mostra na TV, não. Aquilo é imprensa marrom.

O que mudou quando chamaram Ciro Barcelos (do grupo Dzi Croquettes) para dirigir o show?

O Ciro deu cara de show de verdade aquilo tudo. O cara é bom: uma coisa é você coreografar uma porção de bailarinos gays em um show; outra bem diferente é colocar para dançar dez trogloditas que não sabem nem andar direito. Ele transformou o que a gente fazia em um espetáculo com abertura, oito atos,  figurino, trilha sonora. O público ficava de boca aberta. Depois que o Ciro colocou a mão, tinha gente da Globo até a terceira fila.

Você acha que aproveitou tudo o que podia daquele momento? 

Eu acho que na época a gente não tinha noção da dimensão que aquilo tomou. Quem nunca foi, nem imagina; quem foi, ficou viciado. Eu podia ter pensado em Hollywood.

Se arrepende de alguma coisa?

Eu me expus muito, me misturei demais com o povo. Um astro não pode ficar acessível a todo mundo na praia, por exemplo, tem de criar alguma dificuldade de aproximação. Todo mundo que me queria, tinha. Mas eu era o maior ingênuo. Não era para ter tido filho cedo. Eu poderia ter ido longe, me tornado diretor de cinema, ou um puta filósofo. Eu amo física, matemática…

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Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.