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Após transar sem camisinha em um clube de sexo, publicitário vive pânico

Paulo Sampaio

15/02/2018 05h00

Em um espaço de quatro horas na segunda-feira de Carnaval, vinte e três pessoas procuraram o pronto-socorro do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, na zona oeste de São Paulo, em busca da PEP – profilaxia pós-exposição ao vírus da Aids, popularmente conhecida como 'pílula do dia seguinte' do HIV. Havia 19 homossexuais, 3 heterossexuais e um bissexual (não assumido). Nenhuma mulher.

Ao blog, a maioria contou que a camisinha estourou no meio da transa; poucos assumiram que fizeram sexo sem proteção; e tinha o grupo dos que se definiam como "neuróticos", no qual havia, entre outros,  o caso de uma pessoa que voltou ao pronto socorro  três vezes, insistindo para receber a PEP, mesmo depois de os médicos afirmarem que não havia indicação. Abaixo, três depoimentos. (Apenas o último recebeu prescrição da PEP).

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Marido observa mulher fazendo sexo com outro (Foto: iStock)

"Comi uma mulher casada, que eu nunca vi na vida, sem camisinha"

"Ontem, uma amiga me convidou para ir a um 'swing' (clube de troca de casais), e eu fui de onda. Até porque homens acompanhados pagam R$ 200, e sozinhos, R$ 600. Como não tenho nada com essa amiga, logo na entrada nos separamos. Depois, ela me disse que ficou com vários. Saiu feliz da vida. Eu, não. Comi uma mulher casada, que eu nunca vi na vida, sem camisinha. Ela estava com o marido, ele tinha tesão em vê-la transar com outros homens. Os dois disseram que estão casados há 33 anos. A mulher tinha uns 50 anos, era maravilhosa, uma mistura de Jennifer Lopez com Juliana Paes. Mas o fato de não falar em camisinha na hora da penetração me preocupou. Sou paranóico com isso. Já deixei de trepar  por estar sem camisinha. Ela ainda propôs sexo anal. Em casa, depois, não consegui dormir de jeito nenhum. Liguei para dois amigos, eles morreram de rir. Até me tranquilizei. Um disse que uma vez transou com uma louca em Maringá que sumiu antes de ele acordar, e deixou um recado escrito com batom no espelho do banheiro: "Fiz com você o que fizeram comigo! Sou soropositiva!" Ele disse que, mesmo correndo muito mais risco que eu, não pegou nada. Eu não bebo, não uso droga, coisa nenhuma. Tomei uma taça de vinho ontem. Um outro amigo, que cheira pra caralho, é o que mais acha graça. Diz que transou com uma mulher soropositivo, que estava menstruada, e tá vivinho da silva. O que você acha?" (Publicitário, 42, heterossexual).

 "Os médicos dizem que não há indicação para a PEP, mas eu quero. Sou neurótico"

"Costumo frequentar festas de sexo promovidas por um casal na Freguesia do Ó. A casa tem vários quartos, uma cama grande em um deles, e uma piscina com hidromassagem. Chagam a ir 50 pessoas. Na última festa, no sábado de Carnaval, transei com um casal. Em determinado momento, a mulher juntou a ponta do meu pau com a do pau do cara: o dele tinha secreção. Não sou gay, nem bissexual; não transo com homens sozinhos, mas nesse caso a mulher estava acompanhada. Ele sim era bissexual. E soropositivo. Mas não houve penetração. Quando o casal gosta de um cara, faz tudo para levar para um quarto privativo. Sou tão neurótico em relação a doenças sexuais que, para te dar uma ideia, tenho uma namorada há cinco anos e até hoje nunca fizemos sexo oral. Ela não sabe que frequento essas festas. E viajou no Carnaval. Desde o dia em que fiquei com esse casal, sinto dor de cabeça, mal estar, frio à noite. Já vim duas vezes ao centro de referência; os médicos dizem que não há indicação para prescrever a PEP, mas eu quero. Não consigo nem comer. Vamos ver o que eles dizem dessa vez." (Professor, 32, alegadamente heterossexual)

"Ao mesmo tempo que faço as loucuras, depois cago de medo de ficar doente" 

"Sou de uma cidade de 200 mil habitantes no interior de São Paulo, onde não tem na-da pra fazer de dia nem à noite. Então, quando a gente vem para São Paulo, age como se fosse o último da nossa vida. Ferve mesmo. Agora, você imagina no Carnaval! Só parei de pular na última madrugada, porque acordei em pânico. Sabe quando você se dá conta de que exagerou na 'trepação'? Pois é. Ontem à tarde, saí do bloco para transar com dois caras no apartamento de um deles, em Pinheiros, e fizemos de tudo. Sexo oral com ejaculação, anal, grupal, e ninguém nem falou em camisinha. Aliás, tá uma onda agora nos aplicativos (de relacionamento), todo mundo querendo transar  'bareback' (em inglês, montar o cavalo sem sela; usado como gíria para 'transar sem preservativo'). Eu já acordei vendo uma porção de pereba no corpo, sentindo minha boca dormente e meu pau inchado. O problema é  que, ao mesmo tempo que eu faço as loucuras, depois cago de medo de ficar doente. Estranho né? Fico tão louco que preciso até tomar remédio para ansiedade. Dessa vez, infernizei tanto o amigo que está me hospedando, mas tanto, que ele acabou me trazendo aqui (no centro de referência). Até um ano atrás eu não conhecia essa medicação, mas aí esse mesmo amigo me trouxe para tomar (o amigo, analista de TI, 26 anos,  está com ele). Tive um pouco de enjoo e dor de cabeça, mas é melhor do que ficar doente pra sempre né?" (Funcionário público, 28)

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Sobre o autor

Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.