Cleópatra já fazia chuca, afirma defensor da lavagem do reto antes do sexo
Paulo Sampaio
13/07/2018 05h05
Depois de passar sentir falta de ducha higiênica em suas viagens ao exterior, o empresário Marcus Castropil resolveu criar a "chuca portátil" (Foto: Paulo Sampaio/UOL)
A falta de aparelhamento para fazer a "higiene anal" fora de casa, especialmente em viagens ao exterior, tornou-se "um verdadeiro pesadelo" para o empresário homossexual Marcus Caterpil, 45 anos. "Eu chegava no banheiro dos hotéis e me perguntava desesperado: 'Cadê a mangueirinha (ducha retal)'?" Ele conta que, na ausência de algo mais apropriado, chegava usar garrafas pet e frascos de desodorante para fazer o enema.
Até que um dia resolveu criar ele mesmo "um dispositivo que fosse prático e descartável". Assim, surgiu "chuca portátil" — bolsa feita em polietileno, de 4cm x 4cm, equipada com uma cânula azul em uma das extremidades. Com capacidade para 300 ml de água, vem dobrada dentro de uma embalagem semelhante à de uma camisinha.
Na entrevista abaixo, Caterpil conta porque foi tão longe na criação de um dispositivo tão específico — a ponto de gastar milhões para patenteá-lo mundialmente (ele prefere que os valores não sejam citados, apenas diz que se desfez de todo o seu patrimônio pessoal para investir na "chuca portátil"). " O uso do dispositivo divide opiniões entre os especialistas.
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Blog – Desde quando você pensava em criar a "chuca portátil"?
Marcus Caterpil – Desde que comecei a fazer sexo, aos 16 anos. Sempre achei muito desconfortável a perspectiva de passar constrangimento na cama. Na minha casa, eu me resolvia com a ducha higienênica. O problema começou quando passei a viajar muito pra fora. Chegava nos hotéis e me perguntava, desesperado: "Cadê a mangueirinha?"
Blog – Como você fazia nessas ocasiões?
Caterpil – Chegava a usar garrafas pet e frascos de desodorante. Enchia de água e introduzia no ânus para fazer a lavagem. Um absurdo. Mas o máximo que eu conseguia em farmácia era a ducha ginecológica, para a higiene feminina.
Blog – O que o fez tomar a decisão de criar um dispositivo descartável para lavagem retal?
Caterpil – Foi depois de um cruzeiro de navio que se tornou um pesadelo. Na ocasião, eu estava dividindo a cabine com uma amiga que tinha hepatite crônica, e então me veio à cabeça: "Usar chuveirinho em banheiro compartilhado é um perigo. Você viaja, vai passar um fim de semana na casa de praia com um grupo de amigos gays, todos usando a mesma ducha higiênica, é uma nojeira. Hoje, os índices de infecção por hepatite no Brasil se tornaram epidêmicos! A sífilis atingiu números absurdos de contaminação."
Blog – Por que a lavagem com a ducha higiênica pode ser perigosa?
Caterpil – Em geral, para fazer a chuca os usuários tiram o chuveirinho de metal da extremidade da mangueira e introduzem no ânus a borracha. Só que aquilo é cortante, e quando compartilhado, em saunas gays, por exemplo, ou na casa de amigos, torna-se um potencial difusor das doenças sexualmente transmissíveis (DST). Imagine uma mangueira de borracha entrando e saindo várias vezes de diversos ânus diferentes.
Blog – Os médicos, de uma maneira geral, condenam a lavagem regular do reto apenas para a prática do sexo anal. Eles afirmam que há indicações para o enema, mas em procedimentos como a colonoscopia ou quando as fezes estão empedradas.
Caterpil – Eu entendo que os médicos condenem, mas ao mesmo tempo eles precisam saber que os gays não vão deixar de fazer a chuca. O pior risco, para a maioria dos gays que eu conheço, é passar vexame na cama. É ser conhecido como "cagona". As pessoas até brincam que, antes da balada, na casa de amigos, acontece o "xou da xuca". Todos fazem. Então, os profissionais de saúde deveriam pensar em "redução de danos". Já que se vai mesmo fazer, é melhor que seja com um produto descartável, não cortante, com gel.
Blog – Você diz que patenteou a "chuca portátil" mundialmente. É incrível que nenhum praticante do sexo anal tenha pensado nisso antes.
Caterpil – A história da chuca e dos laxantes, para esvaziar o reto, vem de longe. Cleópatra, que praticava sexo anal para não engravidar, já fazia. Isso antes da camisinha feita com tripa de carneiro. Para os antigos egípcios, as fezes estavam associadas a doenças, e receitas de chuca aparecem em papiros de mais de 3.500 anos atrás.
Blog – Você obteve retorno financeiro com sua invenção?
Caterpil – Honestamente, isso não é o mais importante. Eu queria que as pessoas vissem o meu produto como algo útil, um marco na prática sexual. Deveria, inclusive, fazer parte da chamada "prevenção combinada", junto com a camisinha e o gel. As profilaxias pré e pós exposição ao vírus da Aids (PrEP e PEP) previnem apenas contra o HIV. E as outras DSTs? E tem mais: você acha que a PrEP e a PEP, que fazem parte da prevenção combinada, não são agressivas para o organismo? Pergunte a quem toma para ver os efeitos colaterais.
Sobre o autor
Nascido no Rio de Janeiro em 1963, Paulo Sampaio mudou-se para São Paulo aos 23 anos, trabalhou nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, nas revistas Elle, Veja, J.P e Poder. Durante os 15 anos em que trabalhou na Folha, tornou-se especialista em cobertura social, com a publicação de matérias de comportamento e entrevistas com artistas, políticos, celebridades, atletas e madames.